quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Gang 90 e as Absurdettes : O "Marco Zero" do BRock Oitentista !

Gang 90 e as Absurdettes : O "Marco Zero" do BRock Oitentista !

Texto de Fernando Becker.

Desde os sucessos de Celly Campello que o rock vem marcando presença no cenário cultural brasileiro , influenciando principalmente os hábitos e os costumes da camada jovem da população . Como qualquer outro bom movimento cultural cosmopolita , o rock transcendeu suas origens culturais ( norte-americanas , no caso ) para ganhar o mundo , mesclando-se com os mais variados elementos culturais de nosso planeta . 

Celly Campello , como já foi frisado , foi a feliz responsável pela introdução desse gênero musical cosmopolita em nosso país , junto com seu ilustre irmão Tony Campello . Nessa época ( fins da década de 50 ) o rock era visto como uma manifestação iconoclasta simplesmente por seu ritmo e pela influência dele no corpo dos jovens que requebravam nas reuniões dançantes do período , mesmo sem ostentar nenhuma conotação ideológica em suas composições : era música pra dançar , e ponto final . Esse panorama ganhou força na década seguinte , com os sucessos estrondosos da Jovem Guarda , mas acabou sofrendo uma mutação no final da década : com a eclosão doTropicalismo , a cultura rock passou a ser associada à arte devanguarda , carregando em si os mais variados vieses ideológicos ; o rock já não servia apenas pra dançar , mas também pra ser um catalisador de ideias sobre o mundo .

Seguindo esse processo cultural , o rock brasileiro entra na década de 70 representado por inúmeras bandas que mesclavam a estética do rock internacional da época ( hard rock , heavy metal , progressivo , glam ) com os elementos culturais genuínos de nosso país , sempre ostentando tanto um alto potencial dançante como uma alta riqueza de ideias . O rock já não era mais inocente como nos tempos de Celly Campello e início da Jovem Guarda ; junto com a questão puramente rítmica estava toda uma ânsia de expressar uma visão de mundo , visão essa que era absolutamente libertária , principalmente se levarmos em conta o panorama político da época : auge do Regime Militar Brasileiro . Como exemplo de bandas brasileiras do período , podemos destacar nomes comoSecos e Molhados , Casa das Máquinas , Made in Brazil ,Vímana .

Porém havia um problema que travava a plena disseminação do rock entre os jovens brasileiros da época : não havia ainda um cenário adequado para o pleno desenvolvimento desse gênero musical no Brasil ; o governo militar via com maus olhos os roqueiros ( eram tidos como um mau exemplo para os jovens da nação ) , e isso acabava respingando nas rádios e gravadoras , que nunca concediam o devido espaço ao gênero , mesmo ele sendo amado e idolatrado pelos jovens . Esse panorama só iria começar a mudar no final da década , com o advento da Abertura Política do General João Figueiredo : a partir de então , a liberdade de expressão estava ( quase ) vigorando novamente , e o universo das artes e espetáculos perderiam um pouco de suas mordaças .

E por fim chegamos à década de 80 , a Década da Abertura ; toda uma ânsia de liberdade até então represada passava a fluir de forma espontânea . O universo das artes e espetáculos entra em ebulição , com inúmeros livros , filmes , discos e peças teatrais ( até então barrados pela censura ) vindo ao conhecimento do grande público . As liberdades de expressão e de comportamento passam a ser a ordem do dia , e tudo isso mexe principalmente com os jovens , que já não podiam mais sopitar sua ânsia libertária . O grito de liberdade pedia espaço pra ecoar em toda a nação , e seu principal porta-voz seria ele mesmo : o bom e velho rock'n'roll , porém dentro de uma nova roupagem .

Essa nova roupagem seria a New Wave , movimento pop que já vinha ganhando espaço nos cenários cosmopolitas europeus e norte-americanos , representados por nomes como Blondie ,B-52's , Gary Numan , Elvis Costello . O caminho estava aberto para a eclosão de um movimento musical que seria popularmente conhecido como BRock . Era a cultura rock finalmente ganhando todos os holofotes dos meios de comunicação brasileiros , aderindo totalmente às ânsias dos jovens e da população em geral da nação . Esse movimento costuma ser lembrado como tendo sido deflagrado no ano de1982 , através do sucesso estrondoso do conjunto Blitz , sendo seu apogeu o Festival Rock in Rio , em 1985 . Os nomes mais lembrados do movimento são Cazuza , Lobão , Legião Urbana ,Paralamas do Sucesso , Blitz , porém quase ninguém lembra da banda que realmente preparou o terreno para que todas as demais brilhassem : trata-se da injustamente esquecida Gang 90 e as Absurdettes , liderada pelo jornalista multimídia Julio Barroso . Toda a estética New Wave do movimento fora introduzida pelo Gang 90 .

O criativo e inquieto Julio Barroso , que havia trabalhado como DJ e jornalista em Nova York , ficara absolutamente fascinado pela eclosão do New Wave na grande metrópole norte-americana , e voltou de lá iluminado por uma ideia : "É possível mesclar os elementos cosmopolitas da música pop internacional com os elementos culturais genuinamente brasileiros" . Barroso chegou a chamar essa nova estética deNew Brega , e ela se tornou a fórmula do sucesso para todas as bandas de renome do período . Após conhecer o talentoso compositor e arranjador Herman Torres , e as belas e carismáticas cantoras May East , Alice Pink Pank e Lonita Renaux , Barroso forma a Gang 90 , mesclando de forma brilhante os mais variados elementos da cultura pop internacional ( New Wave , Música Eletrônica , literatura beatnik ) com elementos tipicamente brasileiros . A banda tem enorme destaque no Festival MPB Shell de 1981 , brilhando com a música Convite ao Prazer , e no mesmo ano lança noFantástico o hit Perdidos na Selva , atingindo assim uma considerável popularidade . Em 1983 vem o auge da banda , quando a música Nosso Louco Amor passa a ser o tema de abertura da novela homônima da Globo , sendo que no mesmo ano há o lançamento do primeiro LP : Essa tal de Gang 90 e as Absurdettes . O sucesso parecia consolidado , até que uma tragédia inusitada veio para abortar a ascensão do grupo : Julio Barroso morre em circunstâncias até hoje mal explicadas , em junho de 1984 , ao cair da janela do prédio em que morava ( uns falam em acidente , outros em suicídio ) . Era o fim da carreira de um artista que havia encarnado o espírito do Brasil da década de 80 , e de sua promissora banda ( os demais integrantes lançaram mais dois discos , em 1987 e 1990 , mas sem a presença de Barroso eles não tiveram quase nenhum brilho ) .

Podemos dizer que Evandro Mesquita e sua banda Blitzdeflagraram o movimento do BRock oitentista , no importante ano de 1982 , porém o que pouca gente sabe é que ele sugou vários elementos estéticos da Gang 90 , dando a eles apenas um ar mais adolescente e comercial . Julio Barroso e sua banda prepararam o terreno para o movimento , e é por isso que podemos dizer sem titubear : Gang 90 e as Absurdettes foram o marco zero do BRock oitentista !                          

                          

                              

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O Homem que Queria Iluminar o Mundo!

O Homem que queria iluminar o mundo!

Primeiro texto da nova colaboradora Jani Santana Morales.

Com tanto avanço tecnológico, não é possível

que não tenham desenvolvidos maneiras

alternativas concretas de gerar eletricidade,

limpa sem combustão.

Nosso sistema atual de geração de energia é

uma realidade culturalmente retrógada.

Sendo a Terra um imenso organismo vivo é

óbvio que pode gerar e armazenar qualquer tipo

de energia.

Só que o setor energético gera trilhões  por ano

e os governos e magnatas não querem perder

essa “boquinha”.

Bom, leitores, essa tecnologia já existe e não é de

hoje. Apresento-lhes um dos maiores gênios de

todo o Universo: Nikola Tesla, o inventor da

corrente alternada e da energia livre, onde é

possível transformar e armazenar energia e

transmitir a população.

Se temos todo o conforto que proporciona a

energia elétrica  é graças a sua invenção. Do

contrário o mundo já teria entrado em colapso

com o crescimento da humanidade, tentando

utilizar apenas a corrente contínua.

Tesla nasceu na passagem do dia 09 para o dia

10 de Julho de 1856, na vila de Smijan, na

Cróacia, a meia noite em plena tempestade com

inúmeros raios, como se previssem  sua

importância nas ciências físicas.

Sua parteira comentou à sua mãe: Esse menino

será das trevas. Sua mãe retrucou: Não, ele trará

a luz. Dito e feito.

Em 1884 mudou-se para os Estados Unidos,

estabelecendo-se em Nova York e se torna

assistente de Thomas Edison.

Tesla foi um gênio inigualável e defensor da

energia livre e gratuita para todos.

Devido a sua filosofia de vida e seus inventos em

prol da humanidade ele foi perseguido durante

toda sua vida científica.

Seu primeiro perseguidor oficial foi Thomas

Edison, que fez o impossível para desacreditá-lo

no meio científico, tentando evitar que o projeto

da corrente alternada chegasse a público.

Há de convir que, transformar qualquer tipo de

energia em outro é um trabalho árduo e muito

lucrativo. Assim sendo, uma invenção de um

aparato que quebrasse o moto- perpétuos,

produzindo energia capaz  de colocar máquinas

em funcionamento, em grandes quantidades e

em custo baixo, ou mesmo gratuito, seria uma

ameaça a economia mundial.

Tesla foi considerado uma ameaça para o

governo, também pela sua filosofia, ele sempre

buscou a  Ciência como uma forma de evoluir o

pensamento humano, desprezando todo  o

retorno financeiro.

Seu laboratório e residência eram

constantemente saqueados e destruídos.

Tesla não desistiu. Continuou criando e

inventando. Chamou a atenção do Governo que

passou a vigiá-lo de perto e também destruindo

seu laboratório. Como não podiam pará-lo sem

mata-lo, resolveram denegrir sua imagem ao

público. Fizeram com que Tesla fosse

considerado louco e lunático e assim a

comunidade científica não o reconhecia mais

como um membro. Ele, sem financiamento ficou

sem condições de aperfeiçoar suas invenções e

criar mais.

Acabou falecendo empobrecido em 1943, aos 86

anos de idade. Teve projetos confiscados e

destruídos pelo F.B.I., outros foram comprados

pela empresa JP Morgan que hoje, segundo a

Forbes,  é uma das maiores empresas do mundo.

Tudo o que existe hoje, tecnologicamente

falando, sem as descobertas de Tesla não seriam

possíveis.

Se for possível que a energia livre pode ser

aperfeiçoada, o resultado é que todo o planeta

poderá ser alimentado por uma única fonte de

energia. Uma fonte infinita de energia ao nosso

alcance.

 Ninguém teria que depender mais dos

combustíveis fósseis. Desde  a eletricidade

necessária para alimentar uma lâmpada até a

construção de motores para viagens

interestelares, anti gravidade, etc, tudo seria

feito de forma gratuita com a energia livre.

Será que um dia será permitido que isso

aconteça?

“Um mundo novo deve nascer, um mundo que

justifique os sacrifícios oferecidos pela

humanidade. Este novo mundo deve ser um

mundo onde não haverá exploração do fraco

pelo forte, do bom pelo mau; onde não haverá

humilhação do pobre pela violência do rico;

onde produtos do intelecto, da ciência e da arte

servirão à sociedade pelo embelezamento da

vida, e não para indivíduos adquirirem riqueza.

Este novo mundo não será um mundo de

oprimidos e humilhados, mas de homens livres e

nações livres, iguais em respeito e dignidade”.

                                                       NIKOLA TESLA

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Entre o Medo e a Petulância.

Entre o Medo e a Petulância.
Texto de Luiz Domingues.

Vivemos tempos difíceis em termos de educação; cultura e cidadania, e seus múltiplos desdobramentos.
As razões para que tenhamos chegado nesse estágio triste, são muitas.
Superpopulação gerando desafios incalculáveis para a sociedade gerir infraestrutura,  explica de forma generalizada a questão, e tal repercussão chega na óbvia conclusão de que a educação não consegue dar conta, tanto em termos de pedagogia escolar, quanto na educação familiar.
Com o colapso que presenciamos, fica inevitável a comparação com tempos remotos, onde o grau de educação, e tolerância social, eram maiores.
De fato, basta andarmos nas ruas; lermos as notícias na mídia; ou vermos o bombardeio no jornalismo televisivo / radiofônico e pela Internet, para verificarmos que vivemos tempos de uma inversão total de valores.
É impressionante observarmos que a truculência atual dos jovens, mesmo em tenra idade, vem a reboque do desrespeito absoluto às pessoas mais velhas; seja dentro do seio familiar, sejam nas relações educacionais formais, e no âmbito geral da sociedade, esbarrando na absoluta falta de comprometimento com regras básicas de convívio social.
A absoluta decadência da educação formal pública, acompanha a escalada da invasão da subcultura e da anticultura, perpetrada por marqueteiros que defendem interesses escusos no amplo domínio da difusão cultural, isso é um fato, portanto, anexa-se como adendo triste, certamente.
Agora, se o panorama é tétrico e qualquer pessoa de bem não pode compactuar com a ideia de jovens agredindo; humilhando e ameaçando professores em sala de aula, muitas vezes armados dentro do ambiente escolar, por outro lado, penso que radicalismos de extrema direita, clamando por volta de opressão de cunho medieval, não é o melhor caminho para colocar o mundo em “ordem”.
Devemos caminhar para a frente e não para trás, a grosso modo.
Trazer de volta uma educação espartana, baseada no medo; na ameaça de punição; na aniquilação absoluta do senso crítico, gerando cidadãos meramente obedientes e facilmente manipulados pelos poderosos de plantão, para lhes servirem como funcionários operacionais e consumidores a lhes dar dinheiro, sistematicamente, não é aceitável.
Não quero viver na Idade Média, tampouco na Antiguidade, quero um mundo contemporâneo, do século XXI, vivendo a revolução tecnológica total e pensando na construção de um mundo que equalize suas demandas por sustentabilidade.
Portanto, penso que devemos pensar num ponto de equilíbrio na questão educacional onde possamos estancar a decadência total perpetrada pela mentalidade imposta da anticultura, porém, sem necessariamente trazer valores antiquados e decorrentes de metodologia baseada na extinção do senso crítico do ser humano, condicionando-o à um ser apático e bovino.
Entre o petulante maloqueiro que ameaça o professor com uma faca na sala de aulas, e o professor carrasco que impõe respeito pela tortura psicológica e/ou física propriamente dita, nossa obrigação é buscar um ponto de equilíbrio na pedagogia moderna.
A resposta é a confiança mútua sendo estabelecida.
E nesse contexto, todos temos  que colaborar. O governo, com a boa vontade política de investir maciçamente na educação; os difusores culturais no sentido de reverem a sua estratégia vergonhosa de manter monopólio e pior que isso, incentivar a anticultura visando apenas o seu lucro fácil, sem medir o estrago educacional que estão gerando com tal atitude; e a sociedade em geral, buscando dias melhores, amenizando a convivência social que nesse caos, tende a explodir, tamanha a pressão crescente que faz com a situação atual seja semelhante à uma ampola de nitroglicerina sendo colocada na boca acesa de um fogão.




domingo, 6 de dezembro de 2015

Pornochanchada : A Forma Mais Viável de se Fazer Cinema Durante o Regime Militar Brasileiro.

Pornochanchada : a forma mais viável de se fazer cinema durante o regime militar brasileiro.

Texto do colaborador Fernando Becker.
 
O período da Ditadura Militar ( 1964 - 1985 ) notabilizou-se por uma série de graves prejuízos para a população brasileira ( restrições nos direitos políticos e liberdade de expressão ; amordaçamento dos sindicatos e dos direitos trabalhistas ; disseminação da prática da tortura por parte dos militares , etc. ) , e isso também atingiu o universo das artes e espetáculos : inúmeros livros , peças teatrais , discos e filmes foram banidos ou severamente mutilados pelo aparato de censura do regime , infligindo sérios danos à vida cultural brasileira do período . Toda manifestação artística que pudesse apresentar algum cunho contestatório aos valores ideológicos dos militares era severamente rechaçada pelos órgãos de censura do governo .

No universo cinematográfico , a década de 60 apresentou dois movimentos decinema de vanguarda que assumiram um importante papel de oposição aos valores do regime : o Cinema Novo e o Cinema Marginal . Ambos os movimentos destilaram uma estética revolucionária , nunca antes vista na história do cinema brasileiro : filmes com uma narrativa fragmentada , explorando as mais inovadoras soluções estéticas dos filmes de vanguarda europeus , buscando expressar as idiossincrasias culturais e sociais do povo brasileiro . Porém ambos os movimentos - mesmo sendo irmãos e com inúmeros pontos de convergência -  apresentavam suas diferenças e peculiaridades : o Cinema Novo ostentava um discursoessencialmente marxista ; praticamente todos os cineastas do movimento ( com especial destaque para Glauber Rocha ) pretendiam esquematizar em seus filmes conceitos ideológicos retirados de manuais de sociologia , buscando expressar  ( ao lado de elementos culturais essencialmente brasileiros ) as lutas de classe que estariam assolando a população brasileira . O Cinema Marginal , por sua vez , tentava enfrentar os valores repressivos do regime com as armas da contraculturaque vinha revolucionando os meios artísticos europeus e norte-americanos da época : ao invés de enveredar por um caminho ostensivamente político e pautado pelo genuíno folclore brasileiro - tal como faziam os cineastas do Cinema Novo - , preferiam fazer resistência com os valores do indefectível "tríptico"  "sexo , drogas e rock'n'roll" . Merecem destaque especial os filmes de Julio Bressane Rogério Sganzerla .

Porém havia um amontoado de problemas para a exibição dessas obras de vanguarda : os órgãos repressores do regime não permitiam que boa parte delas viesse a público , sendo que em muitos casos elas eram impiedosamente cortadas e descaracterizadas , perdendo sua força e identidade originais . Os cineastas passaram a ter de abarrotar os filmes com alegorias herméticas para poder driblar a censura , porém desta forma o diálogo com o grande público ( que já era difícil e limitado ) passou a ser praticamente inexistente à medida que o regime militar ia ganhando contornos cada vez  mais totalitários ( o período de vigência do AI-5 , principalmente sob o Governo Médici , foi o mais difícil de todos ) . Filmes comoPindorama , de Arnaldo Jabor , são exemplos claros disso . O público , desta forma , praticamente não conhecia os filmes do Cinema Novo e do Cinema Marginal , fazendo com que os cineastas de ambos os movimentos ficassem na triste condição daquele que fala sozinho .

Diante deste triste panorama , uma coisa era certa : todo profissional de cinema ( incluindo aí diretores , roteiristas , produtores e atores ) que realmente quisesseganhar a vida fazendo filmes , durante a vigência do AI-5 , deveria optar pela senda do filme despolitizado e meramente de entretenimento , sem discursos ideológicos ostensivos . Caso contrário , morreria de fome ou ficaria apenas falando sozinho . E é justamente nesse "vácuo cultural" aberto pelos militares que entra em cena o principal gênero cinematográfico brasileiro da década de 70 ( e um dos mais emblemáticos de todos os tempos , responsável pelo estigma que o cinema nacional passou a ter de ser representado essencialmente por filmes abarrotados de palavrões e mulheres nuas ) : a pornochanchada , um gênero essencialmente lúdico e de entretenimento , que buscava apenas atiçar o que havia de mais primário no universo dos espetadores : seus instintos sexuais . Era o gênero perfeito para o grande público que queria apenas desanuviar a mente em relação aos problemas cotidianos , e também aos profissionais de cinema que realmente queriam sobreviver fazendo filmes .

 O termo pornochanchada era uma simbiose entre os termos pornografia ( apenas uma tímida alusão , pois nunca houve sexo explícito nas produções ) echanchada ( o gênero cinematográfico mais popular de toda a história do cinema brasileiro , baseado no teatro de revista e nos filmes de Hollywood ) . As produções eram extremamente baratas ( e em muitos casos extremamente mal feitas ) , e o universo ficcional girava apenas em torno de temas que abordassem aspectos da sexualidade humana , sempre em tom jocoso e escrachado . Os filmes eram produzidos em sua grande maioria por produtoras sediadas na região paulista daBoca do Lixo , e entre os principais diretores do gênero destacam-se nomes comoCarlos Reichenbach , Ody Fraga Fauzi Mansur . Dentre os atores e atrizes que brilharam no gênero , merecem destaque nomes ilustres como David Cardoso ,Nuno Leal Maia Vera Fisher Matilde Mastrangi Selma Egrei .

O sucesso estrondoso das pornochanchadas tem explicações precisas : as temáticas de cunho sexual e cômico , de fácil assimilação por parte do público ; esquema de produção simples e barato , onde a bilheteria dos filmes pagava com sobras os custos de produção ; uma boa aceitação por parte do governo militar em relação aos filmes : até aconteceu de muitos filmes serem censurados ou mutilados , mas de uma forma geral eram bem aceitos pelos militares , pois funcionavam como a velha "Política do Pão e Circo" do antigo Império Romano , onde as diversões populares serviam essencialmente para manter o povo alienado em relação aos problemas políticos e sociais que o cercavam . Desta forma , pensar em mulher pelada poderia ser uma forma de se desviar o pensamento de temas políticos .

Os filmes que compõem o universo das pornochanchadas não são todos iguais , como muita gente pensa . Ao lado de produções pobres e medíocres existem produções inteligentes e criativas , tais como o filme O Doce Esporte do Sexo , rodado em 1972 por Zelito Viana ( e estrelado por seu ilustre irmão Chico Anysio ) . Eles formam um belo painel da sociedade de classe média brasileira da década de 70 ( que pretendia , em sua grande maioria , apenas curtir as benesses do"Milagre Econômico" , sem refletir sobre os aspectos políticos que o sustentavam ) , e também deixam claro que era possível sobreviver fazendo cinema no auge dos"Anos de Chumbo" . Com sua leveza e irreverência , foram uma espécie de"sopro de ar fresco" na pesada conjuntura do período do AI-5 , e hoje compõem a galeria dos grandes clássicos da história do cinema brasileiro