segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Talidomida, o Tardio Pedido de Desculpas.

Talidomida, o Tardio Pedido de Desculpas   Texto de Luiz Domingues. Foi na metade dos anos cinquenta que um medicamento chegou às prateleiras das drogarias, prometendo uma revolução nos costumeiros desconfôrtos que as mulheres sentem durante o período da gravidez. Inicialmente arrolado como um sedativo e hipnótico, logo tornou-se a panacéia para eliminar os desagradáveis enjôos matinais das mulheres grávidas. Há de se considerar que naquela época, o processo dos testes prévios eram bem menos rigorosos em se comparando aos atuais padrões, mas mesmo assim, no caso da Talidomida, o fato é que os testes falharam e muito, pois não chegaram perto de cogitar os males congênitos que o medicamento causaria em milhares de pessoas. E foi assim que no final dos anos 1950, começaram a pipocar casos de crianças nascidas com graves problemas físicos, notadamente a ausência ou má formação de membros, braços e pernas principalmente (Dismelia) e também com possibilidades de deformações no aparelho genital, olhos, boca e aparelho digestivo/intestinal. Isso tornou-se epidêmico e já em 1962, haviam registrados mais de 10 mil casos em 46 países. Rapidamente a imprensa cunhou a expressão "Bebês da Talidomida" para designar essas crianças prejudicadas severamente pelo medicamento. E nessa época, o remédio foi proibido em todos os países por suas respectivas agências reguladoras de saúde pública, ministérios de saúde etc etc. Vieram as ações judiciais, naturalmente. Brigas intermináveis ocorreram nos tribunais desses países afetados e milhões de dólares foram pagos em indenizações pelo laboratório responsável, Grünenthal e por laboratórios associados em diversos países, que se responsabilizaram por sua industrialização e distribuição locais. Associações de vítimas foram criadas em diversos países e nem preciso descrever o tormento que essa tragédia produziu nessas pessoas afetadas diretamente e também em suas respectivas famílias. Agora em 2012, mais de cinquenta anos depois, o laboratório Grünenthal finalmente pronunciou-se de forma oficial e pediu desculpas pelas décadas de silêncio sobre o assunto. Esse pedido de desculpas oficial foi feito durante uma solenidade onde uma estátua de uma criança vítima da Talidomida foi inaugurada em Stolberg, cidade da Alemanha onde a Grünenthal tem sua sede. A Associação Brasileira de Portadores da Síndrome da Talidomida criticou duramente esse evento, através de nota em seu site oficial onde disse que o pedido de desculpas veio com incrível demora (verdade...) e o dinheiro gasto para produzir a tal escultura em Stolberg ( cotada em 5 mil Euros), seria muito melhor gasto se fosse distribuido às vítimas. Apesar de tudo, a Talidomida enquanto substância, hoje em dia serve de base para testes, onde cientistas descobriram que tem eficácia para combater a Hanseníase e a Aids.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ofensa Inadmissível.

Ofensa Inadmissível,texto de Luiz Domingues. O Oriente médio já passava por uma fase turbulenta pela epidêmica "primavera árabe", com diversas ditaduras sendo destituídas de poder. Como se não bastasse toda a tensão desses eventos e a permanente animosidade em relação à Israel e a causa Palestina (com Ahmadinejad sempre com um dedo em riste e outro no botão de uma bomba), eis que surge um fato novo para atear fogo num depósito de pólvora. O filme que gerou protestos veementes entre os muçulmanos, chamado " A Inocência dos Muçulmanos" ("Innocence of Muslims"), foi esse fator agravante. Para início de conversa, o filme é técnicamente horroroso. Produção classe "Z", não serve nem para o circuito trash do off do off. Em segunda análise, o produtor/diretor dessa obra, agiu de má fé com os atores, pois na edição final, os nomes dos personagens e diálogos foram adulterados de forma a apresentar-se de uma maneira totalmente diferente do que os atores acharam que seria. Muitos inclusive, entraram com processo na justiça, pois sentem-se lesados com as adulterações grotescas realizadas e que os expõem de forma aviltante. E no terceiro aspecto, é clara a intenção de tal produtor/diretor em insultar o profeta Maomé, o Islã e seus seguidores. A liberdade de expressão é uma prerrogativa salutar no exercício da arte, mas dentro de limites éticos, naturalmente. Extrapolando os ditames do bom senso,esse senhor partiu para o insulto própriamente dito, exprimindo sua opinião pessoal a cerca de sua bronca com a religião islâmica, conspurcando grotescamente a imagem do profeta Maomé. Mesmo condenando a violência de radicais e nesse caso, 40 mortes é um saldo insuportável de ser contabilizado, o fato é que a provocação foi um duro golpe no coração dessas pessoas e só podemos lamentar que tenha sido perpetrada por um irresponsável. Claro, não foi uma brincadeira de adolescente que não mediu consequências.O cidadão sabia que causaria uma fagulha explosiva e foi fundo em sua determinação. O FBI está em cima e quer respostas. A família do embaixador americano brutalmente assassinado, não vai se contentar com um lacônico pedido de desculpas e por aí vai. Curioso, mas tal ação ocorre em meio à uma acirrada disputa eleitoral na América, onde a tendência de Barack Obama permanecer incomoda a oposição republicana formada pelos conservadores de plantão. Não estou fazendo nenhuma insinuação leviana, mas esse video bombástico que acirra o ódio aos Estados Unidos entre os muçulmanos, interessa a quem ? É um "cutucar a onça com vara curta", nesse caso, curtíssima e acho muito surreal que seja apenas uma manifestação de um cidadão árabe de declarada religião cristã copta, que sente bronca do Islã por razões pessoais. É muito prosaico achar que ele quis expressar "artística e pessoalmente" sua diferença, sem medir as consequências desse ato. Nos próximos dias, respostas mais convincentes deverão vir à tona. Sam Bacile, ou Nicola Bacily ou seja lá quem for esse cidadão, vai ter que esclarecer melhor as coisas. Encerrando, repudio esse video abominável, horroroso enquanto peça de cinema e inadmissível como ofensa à fé de milhões de pessoas e principalmente à religião Islâmica e ao profeta Maomé. Lembro-me das palavras do Papa Bento XXI, proferidas cerca de dois anos atrás : "Somos todos Abrâmicos"... Fato, o cristianismo, Islamismo e judaísmo, tem a mesma origem. Não há sentido em manter um clima hostil entre três, das cinco maiores religiões do planeta. Deixo meus respeitos aos amigos islâmicos.