terça-feira, 21 de junho de 2016

O Semáforo é Para Todos, Embora Muitos não Pensem Assim...

O Semáforo é Para Todos, Embora Muitos não Pensem Assim..., texto de Luiz Domingues.

Há relatos de que as leis de trânsito remontam à antiguidade.

No Império Romano, como era de se esperar para um povo que tinha a sofisticação das leis, foram criadas regras de trânsito para a circulação urbana e também nos mais de 350 mil Km’s de estradas que criaram em seus domínios.

Há registros de reclamações sobre o caos nas ruas de Atenas e Esparta, também, denotando que os gregos igualmente sofriam com a questão da ordenação do trânsito.

E assim as coisas foram evoluindo, passando pela Idade Média e o conceito europeu dos burgos cercados por muros fortificados e espaço exíguo para a circulação de carroças e cavaleiros montados etc etc.

O primeiro registro da existência de um sinal usando cores a ordenar a parada de uma fila para a passagem de outra em vias cruzadas, veio em 1836, em Londres, quando as autoridades locais criaram a figura de um agente público caminhando na frente dos veículos, sinalizando com uma bandeira vermelha, a passagem de um comboio, no afã de evitar atropelamentos de pedestres ou choque com veículos vindos de outros cruzamentos .

Ainda em Londres, no ano de 1868, o conceito evoluiu para um sinal fixo, com duas hastes de controle manual, movimentadas por um policial, contendo as luzes verde e vermelha. Nessa época, o verde queria dizer “cuidado”, e o vermelho, já era uma ordem para parar. Tais luzes eram iluminadas num sistema a gás.

Mas foi nos Estados Unidos, no ano de 1920, na cidade de Detroit / Michigan, curiosamente a cidade que sedimentou-se como o berço da indústria automobilística americana, que o semáforo como o conhecemos, nasceu de fato.

Sofisticado por ser elétrico, trouxe a simbologia das três cores como nos habituamos desde então, acrescentando o sinal de coloração amarela, este sim para designar o “cuidado” (que também interpretamos como “atenção”), e o verde passando a significar o sinal livre para passar.

No Brasil, os primeiros semáforos elétricos de três cores foram instalados nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, logo a seguir (por volta de 1930).

O primeiro código de trânsito brasileiro foi promulgado em 1941, e o segundo, em 1966.
A versão em vigor, é a terceira, de 1997.
Para feito de não confundir pessoas com daltonismo, estabeleceu-se que a ordem seja sempre o do sinal vermelho na parte mais alta; amarelo no meio, e a luz verde na parte inferior.

Tudo muito simples, uma criança de dois anos de idade decora facilmente tais regras.
Parece ser muito óbvio que cada cidadão, estando conduzindo um veículo ou não, saiba muito bem que ao deparar-se com o sinal vermelho, deve parar totalmente, para que pedestres possam atravessar a via e outros veículos vindos da via que faz cruzamento, possam passar, também.

Básico do básico do básico, óbvio ululante, chega a ser infantil ter que repetir algo tão evidente, não acha ?
Para reforçar o que digo, veja o que diz exatamente o capítulo que trata de tal regulamentação sobre a obediência aos sinais, no Código de Trânsito Brasileiro, em seu capítulo IV / artigo 70 :

Art. 70. Os pedestres que estiverem atravessando a via sobre as faixas delimitadas para esse fim terão prioridade de passagem, exceto nos locais com sinalização semafórica, onde deverão ser respeitadas as disposições deste Código.
Parágrafo único. Nos locais em que houver sinalização semafórica de controle de passagem será dada preferência aos pedestres que não tenham concluído a travessia, mesmo em caso de mudança do semáforo liberando a passagem dos veículos.

No valor atual, de 2016, a multa por ultrapassar o sinal vermelho, é de R$ 191,54 e sete pontos anexados ao prontuário.
Claro, tudo pode agravar-se se houver um atropelamento ou colisão com outro veículo, ou dano ao patrimônio público.
Então diante de tal regra tão fácil de ser entendida e que regula a segurança de todos, qual o motivo para que tantas pessoas a burlem, diuturnamente.

Pressa (é o que os motoboys alegam, “pilhados”pelas firmas que os empregam e cobram agilidade) ?
Não é comigo ? Essa é a alegação de muitos “bicicleteiros”(chamo-os assim de forma pejorativa e proposital pois respeito o ciclista consciente e separo o joio do trigo, portanto).
Mesmo caso dos Skatistas e patinadores, que supõe conforme sua vã filosofia, que o semáforo não lhes diz respeito, e que se danem os pedestres...
Por quê não param ??

Vejo, de forma assustadora o crescimento de atropelamentos pelas vias públicas das cidades, e não necessariamente só em megalópoles como a que eu hábito, caso de São Paulo. 

A pressa desenfreada de todos em torno de alcançar objetivos baseados no desespero para se ganhar dinheiro pode ser uma boa desculpa respaldada pela sociologia. Ganha amparo em outros estudos como a antropologia; psicologia, causas culturais; paradigmas; sistema de crenças etc etc.

Mas acho que tem outras explicações para tal fenômeno de desobediência em massa, e suas razões, não são nada nobres.

A arrogância em pensar que não deve esperar para os demais passarem, parece uma marca registrada em comum na maioria dos casos de tais infratores.
Some-se a isso uma dose de prepotência, arvorada na maldita mania de se achar “especial”, diferente da patuleia que obedece como carneirinho, é outro fator. 
No fundo, a raiz dos males que afligem-nos no trânsito é a mesma que nos atormenta em todos os setores da sociedade neste país : a famigerada “malandragem” do brasileiro.

Se todos são “espertos” e querem burlar o semáforo, diga-me caro leitor, como podemos atravessar uma rua sem o medo de sermos mortos ?

Pessoas falam-me que sou muito “certinho”e que para viver sob os parâmetros que considero corretos, o melhor seria mudar-me para a Suíça. OK, é uma boa solução e assim, não preocupar-me mais com essa questão tão “terceiro mundo”, mas, não é legítimo projetar um Brasil que extirpe suas mazelas e alcance uma padrão de cidadania exemplar ?
E tal predisposição começa com atos simples, como por exemplo, respeitar um sinal de trânsito...  
  

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Lixo e (é) Atraso.

Lixo e (é) atraso.

Texto de Luiz Domingues. Não quero parecer implicante, mas tenho uma impressão pessoal sobre uma sociedade que tolera a sujeira generalizada. Refiro-me à sujeira propriamente dita, mas claro que minha tese tende a corroborar a ideia de que a sujeira das ruas tem conexão direta com a sujeira moral que permeia a estrutura sociopolítica e econômica de uma nação. Senão vejamos : falando em países de primeiro mundo, salvo exceções pontuais (sim, eu sei que existem bairros pobres em Londres, Paris, Nova York e Los Angeles, para ficarmos em poucos exemplos, que tem habitações precárias e sujeira nas ruas, becos fétidos e violência urbana perpetrada por gangs), a grosso modo, o padrão de limpeza nas ruas é exemplar. O cidadão comum de um país de primeiro mundo nasce numa sociedade que há décadas, e às vezes, séculos, educa seus filhos com valores básicos de convivência social e que entre outras coisas, ensina que jogar papel de bala na rua é errado e daí a ausência de lixo nas ruas. De tanto bater nessa tecla, chega-se num ponto onde nem é preciso mais ensinar às novas gerações, pois cria-se na alma ou no DNA como queiram, a verdadeira naturalidade de se encarar como algo bizarro, jogar lixo na calçada. E nem precisa citar só as super potências. Países inexpressivos na Geopolítica mundial, sem força militar alguma, mas com alto padrão civilizatório, vivem essa realidade com toda a tranqüilidade. Consegue imaginar as ruas de cidades da Finlândia com entulho jogado nas calçadas ? Acha plausível que na Suécia as pessoas achem normal caminhar pisando em embalagens de produtos os mais variados e geralmente embalagens de comestíveis com os de restos atraindo atraindo insetos e ratos ? Pois é, isso não acontece e a limpeza extrema vai além do asseio necessário óbvio, mas reflete-se em vários outros aspectos, muitos deles sutis. A limpeza denota valores. Sujeira e descaso são faces de uma mesma moeda, esse é um ponto. Indo além, quando jogo lixo na rua, sou desrespeitoso com a urbe e sobre tudo com o semelhante. E se tenho essa predisposição de não me importar com o mal estar alheio, levo esse valor para a vida, agindo assim em outros tantos aspectos. Quando uma chuva forte cai e os bueiros entopem, todos ficam alarmados com o desconforto generalizado. Pior que o transtorno, são as perdas humanas (estendendo-se aos animais domésticos, é claro); prejuízo material desolador (principalmente aos mais humildes que pouco tem e vivem sujeitos a perder tudo a cada chuva que cai, num moto perpétuo dos mais cruéis). Não eximindo a culpa das autoridades do poder executivo que pecam pela sistemática má administração pública, é claro que a culpa também é do próprio povo que nem esboça associar a prática selvagem de jogar lixo nas ruas, com o drama das enchentes. Em suma : vivemos numa sociedade ainda atrelada a valores da Idade Média ou pior ainda, da Antiguidade. Exagerando, mas infelizmente sendo realista, em muitos casos, o nosso padrão de sociedade chega a ser pré-histórico. E o que dizer de pessoas que mesmo diante de uma lixeira pública a ignoram retumbantemente e não ficam ruborizadas em jogar dejeto no chão ? Pior ainda, o que pensar sobre a questão do vandalismo, onde pessoas acham engraçado e eu já vi até quem defenda a “legitimidade” de destruir lixeiras ? Ato político legítimo enquanto protesto ? Não existe outra forma republicana do cidadão expressar sua insatisfação com os poderes públicos ? Já tivemos lampejos de civilidade e os perdemos. Como é possível regredir ? Pois é, é possível... Em décadas passadas, tais valores eram mais observados pelas gerações anteriores. A limpeza nas ruas era mais acentuada, inclusive em cidades grandes e onde é mais difícil para o poder público dar conta da varrição das ruas e certamente havia uma postura mais colaborativa das pessoas. No início dos anos setenta, uma campanha de conscientização foi criada na mídia e até um personagem infantil foi criado para disseminar a ideia de que era errado jogar lixo nas ruas. Quem viveu a época, há de se recordar da figura do “Sugismundo”, um personagem prosaico, e que personificava o incauto que praticava atos de falta de cidadania, condenáveis. O objetivo claro era impressionar as crianças, formando uma consciência para o médio –longo prazo. Mas apesar do personagem ter se tornado popular lá em 1972, o efeito prático não logrou êxito e a situação da falta de educação popular só piorou, após o decorrer de muitos nos anos e décadas posteriores. Falando sobre o aspecto psicológico, a limpeza traz a sensação de ordem, diante de uma ambientação agradável, as pessoas tendem a raciocinar de uma forma mais clara, mais criativa e mais solidária, no sentido de querer estender o bem estar que sentem aos seus entes queridos e tal ação tende a ser viral, espalhando o bem estar generalizado. Ao contrário, num ambiente de limpeza extrema, a ausência de fatores deprimentes que denotem decadência desoladora, estimula as pessoas a compartilhar suas ideias em benefício mútuo e não presas em instintos selvagens de sobrevivência que nos prendam às cavernas pré-históricas. Sendo assim, é inevitável não associarmos o atraso do Brasil á mentalidade do povo que ainda não chegou num grau de padrão civilizado, onde nem seja necessário uma campanha de marketing na mídia, para o cidadão comum não praticar atos abomináveis de falta de higiene nas ruas. E veja que só estou falando sobre arremesso de lixo em locais públicos e nem mencionei a vergonha nacional que é convivermos com pessoas (muitas !!), que acham “normal” praticar suas necessidades fisiológicas nas ruas. E outra coisa : não há diferença, tecnicamente falando, entre jogar um papel de bala e um sofá velho na rua, pensando no aspecto da imoralidade em que se reveste o ato. Contudo, não há como não associar a tragédia das enchentes nas cidades brasileiras com o fato consumado que esse povo joga tudo na rua !! Como pode não haver enchente com as pessoas agindo como se a urbe fosse uma enorme lata de lixo ? Basta xingar as autoridades a cada tragédia ? Sim, eles também tem culpa pela inércia, pela falta de vontade política etc. Mas isso por acaso não é culpa nossa também a cada nuvem preta que aparece, não seria uma tragédia anunciada ? Povo imundo merece chafurdar, não é mesmo ? Sendo assim, não sairemos desse chiqueiro, enquanto não mudarmos a nossa postura pessoal nesse quesito. De nada adiante a troca quadrienal de poder, pois mesmo que haja boa vontade política do mandatário da vez, sem a profunda mudança de mentalidade do cidadão comum, nada mudará. Para o Brasil subir alguns degraus e se arvorar de ser um país eminentemente emergente e pleiteante a frequentar o seleto grupo de nações do primeiro mundo, é necessário que o povo mude sua postura em muitos aspectos e um deles é do asseio, passando a enxergar, mas sobretudo tratar a cidade onde habitamos, como uma extensão de nosso próprio Lar. Ter o sentimento de carinho pelo nosso Lar, precisa se alargar ao ponto de sentir como “nosso Lar”, a cidade inteira e por conseguinte, o estado e a união. Só assim o Brasil poderá ser considerado um país que sonha um dia ser do dito “primeiro mundo”. Fora disso, é no imaginário do mundo civilizado, apenas uma republiqueta das bananas e cujo povo costuma jogar as cascas na rua. E quem escorrega nas cascas, somos nós mesmos...

quarta-feira, 9 de março de 2016

​O espinhoso Terreno da Política

​O espinhoso Terreno da Política, texto de Fernando Becker.

Sempre tive relutância em falar de política . É um assunto que sempre achei massante , até porque a maioria das pessoas não consegue dialogar de forma racional e civilizada sobre o tema ; a grande maioria encara o assunto como se estivesse falando de futebol : "Eu sou torcedor da esquerda  !" ; "Eu sou torcedor da direita !" ; "Visto a camisa do PT !" ; "Visto a camisa do PSdB !" . E isso sem contar o fato de ser um terrenoaltamente decepcionante , onde os resultados práticos quase nunca acontecem , ficando sempre mascarados por trás de teorias mirabolantes . Desta forma , sempre preferi ficar em silêncio ou manter uma aura deneutralidade quando me vi em meio a discussões acaloradas ( e quase sempre completamente inúteis ) sobre o assunto .

Porém atualmente está cada vez mais difícil eu conseguir manter essamáscara de indiferença , pois o assunto é a bola da vez , está bombando por todos os lados e da pior forma possível : as pessoas estão absolutamente possessas e enfurecidas , tanto entre aquelas que atacam o governo , quanto entre aquelas que defendem o governo ; uma postura racional e ponderada , visando compreender e contornar os problemas , é algo que praticamente não existe . Assim sendo , pretendo agora colocar minhas sinceras opiniões sobre esse espinhoso assunto .

Começo por expor minha visão ideológica : não acredito em extremismos, nunca acreditei ; todo discurso inflamado e carregado de ódio irracional ( tanto da direita quanto da esquerda ) sempre me causou um medo profundo , pois essa é a matéria-prima das ditaduras e dos governos de exceção , onde a racionalidade e o olhar crítico sobre os fatos são absolutamente proibidos , só valendo as palavras de ordem do grupo político e social dominante . Para esses seres violentos e irracionais , o negócio é "matar" , "acabar" , "destruir" , "detonar" ; se perguntados sobre suas ideias políticas para contornar os problemas , a resposta é invariavelmente a mesma : "Temos que matar esses vagabundos que fazem política , dar um tiro na cabeça deles , detonar com tudo" . Sinto um terrível frio na espinha quando vejo esses patéticos seres ganhando as ruas e bradando seu ódio cego e desprovido de ideias .

A História provou que os extremismos políticos deram errado , tanto napolaridade de esquerda quanto na de direita . Os exemplos são fartos e contundentes . Vamos a eles , primeiro criticando a extrema esquerda : o dito "socialismo real" , que imperou na finada União Soviética e no leste europeu , e que ainda perdura em Cuba , China e Coréia do Norte , infelizmente foi ( e ainda é ) uma grande falácia . Até pode ter havido algum avanço social nesse modelo , principalmente no combate à fome , porém a coisa acabava esbarrando na falta de liberdade individual para a população ; as liberdades de expressão e de comportamentosimplesmente não existiam ( à ponto de pessoas que se declarassemcristãs ou homossexuais serem condenadas à morte ) , e todos deveriam apenas respeitar os ditames ( e os limites ! ) impostos pelo Estado . O maior símbolo desse período foi o malfadado Muro de Berlim .

Agora vejamos o lado da extrema direita : o neoliberalismo foi uma dasmaiores furadas de toda a história da humanidade ; colocar as bases políticas de uma nação  nas mãos das leis de mercado foi um dosmaiores desastres já enfrentados pela pobre espécie humana . Nesse panorama , as questões sociais deixam de existir , pois até o conceito de sociedade é questionado por alguns arautos desse perverso modelo político-econômico ( Margareth Tatcher , a controversa "Dama de Ferro", chegou certa vez a declarar que "não existe sociedade , apenas indivíduos" ) . Nos anos 80 e 90 , sob o viés desse modelo político-econômico , a Inglaterra passou a ficar apinhada de desempregados e moradores de rua , enquanto os grandes empresários prosperavam . Um dos maiores símbolos do fracasso ( e da farsa ! ) do neoliberalismo foi a reação da população britânica diante da notícia do falecimento deMargareth Tatcher : saíram às ruas comemorando de felicidade , como se o time de futebol preferido tivesse vencido um campeonato . Situação altamente patética e contundente .

O único modelo político-econômico que conseguiu ter um relativo êxito foi o modelo social-democrata , que por sinal é o modelo usado pelos países do norte da Europa , região  com o melhor nível de vida do planeta . Esse modelo é um meio termo entre o socialismo e o neoliberalismo , pois consegue mesclar elementos de ambos , fazendo com que funcionem de forma harmônica : existe um Estado protetor ( mas não autoritário ! ) , que zela pelos direitos essenciais dos cidadãos , e ao mesmo tempo existe espaço para a iniciativa privada . Uma coisa não exclui a outra ; elas se complementam , e penso ser evidente a superioridade deste modelo político-econômico em relação aos demais . Os fatos deixam isso claro .

Mas agora vamos para a zona mas espinhosa de todas : o atual cenário político brasileiro .

Em minha humilde opinião , o Partido dos Trabalhadores está sendo erroneamente julgado , tanto por seus defensores quanto por seusdetratores . Os defensores teimam em não reconhecer que o PT não é indefectível , e está inegavelmente ligado a escândalos de corrupção e evidentes demonstrações de incompetência administrativa . Os pobres petistas não querem enxergar a atual imagem apodrecida do partido ,fazendo de conta que ainda estão em 1980 . Já os detratores , em sua grande maioria , destilam apenas um ódio cego ao partido , muitas vezes apenas repetindo o mantra interesseiro e tendencioso da grande mídia anti-petista , dando a entender que o Partido dos Trabalhadores foi o criador da corrupção no Brasil , deixando fora de sua alça de mira todos os demais partidos e governos anteriores . Alguns agem assim por simples ignorância ( pois tiram suas informações apenas de veículos como a Rede Globo , Revista Veja e sites sensacionalistas da internet ) , enquanto outros agem por má fé mesmo , ostentando uma visão política violenta e reacionária .

PT tem defeitos inegáveis , e qualidades tão inegáveis quanto . O observador de boa fé ( que pensa na sociedade como um todo , sem pensamentos perversos e particularistas ) , se analisar a fundo a questão de forma acurada e imparcial , vai constatar a existência de ambos . Vamos primeiro aos defeitos : o Partido dos Trabalhadores deu seguimento a muitas práticas neoliberais herdadas do período do Governo FHC ; fez muitos conchavos com grandes empresas , seguindo a lógica do mercado , atrapalhando as questões sociais ; tentou mesclar política social com as leis do mercado , algo que é tão difícil quanto misturar água com azeite ; não realizou uma reforma tributária ,deixando de introduzir um modelo de impostos progressivos ; atolou-se em inegáveis escândalos de corrupção , tais como o "Mensalão" . Pois bem , agora vamos às qualidades : fomentou um inegável processo de redistribuição de renda , diminuindo o fosso entre ricos e pobres ;realizou programas de assistência social que diminuiu sobremaneira a quantidade de pessoas sofrendo com a fome e a falta de habitação ; investiu na criação de escolas e universidades , aumentandosobremaneira o contingente de crianças , jovens e adultos nas instituições de ensino .

Partido dos Trabalhadores e seus representantes ( Lula , Dilma e demais membros ) estão em uma inegável crise política e de identidade , nadando em um mar de contradições que mescla extraordinárias qualidades e realizações com lamentáveis e escabrosos escândalos de corrupção . Em meio a isso tudo , o povo brasileiro fica jogado em um verdadeiro "cabo de guerra ideológico" , tensionados entre osdefensores e os detratores do partido do governo . É a situação política mais crítica de nosso país desde 1964 . Só espero que essa crise seja superada de forma democrática , com bastante racionalidade e ponderação , sem os arroubos violentos e irracionais que podem vir a suscitar um golpe de Estado . Façamos votos para que a democracia prevaleça !                                             

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

De Onde Vem os Políticos ?



De onde vem os políticos ?, texto de Luiz Domingues.

Desde sempre, a máxima espanhola que diz : “se hay gobierno en esta tierra, yo soy contra”, também domina o imaginário do brasileiro de uma forma muito contundente.

Na maioria das vezes, as reclamações procedem, pois a má gestão grassa em todas as esferas da administração pública, mas também a falta de reconhecimento da parte da população para com eventuais acertos e a boa vontade em acertar em muitos aspectos, é notória.

Esse é um primeiro ponto a se pensar.

Outro aspecto, tão gritante quanto a constatação de que vivemos uma época de onde nunca se desvelou tanta corrupção com uma roubalheira atingindo cifras inacreditáveis que se bem usadas em ações públicas tão necessárias, melhorariam setores que estão moribundos, caso da saúde e educação pública; fora a segurança; saneamento e infra estrutura que estão em patamar insuportável.

Portanto, um alimento e tanto para os “reclamões de plantão”, que mesmo que nada houvesse de errado no panorama da política, bradariam contra veementemente e agora diante das provas cabais surgindo, tem prato cheio para berrar.

É nesse ponto que a reflexão mais aprofundada não avança e ficamos na superfície da análise popularesca, que não propõe enxergar os fatos de frente, com o povo a ficar no “oba oba” dos linchamentos morais,  e agora com o advento das redes sociais da internet, isso ganhou proporção de histeria incontrolável.

Vejamos um exemplo prático que aos nossos olhos parece estranho pelo choque de culturas muitos diferentes : no Japão, um político que é desmascarado em alguma falcatrua, sente tanta vergonha pelo fato em que se envolveu, que tem vontade de morrer, desaparecer inteiramente, como única forma de se livrar da pressão que tal ato hediondo por ele cometido causou, com prejuízo à coletividade, e por conseguinte destruindo sua reputação pessoal, e pior ainda, envergonhando seus familiares.  

Isso é inimaginável na cultura brasuca carnavalizada, onde nada envergonha e tudo pode, não é mesmo ?

Então chego ao âmago da questão : se achamos normal urinar nas ruas; jogar lixo pelas calçadas; jogar entulho em qualquer lugar; destruir patrimônio público e privado; vandalizar; circular com bicicletas sobre calçadas; avançar o semáforo no vermelho; fazer conversões proibidas, obstruir entrada de garagens; furar filas; não respeitar idosos e deficientes físicos; mentir para obter vantagens pessoais; falar mal da vida alheia; praticar bullying; pedir coisas emprestadas e não as devolver ao seu dono; não honrar dívidas contraídas deliberadamente; gerar intriga; desdenhar das pessoas; e tantas e tantas falcatruas que o brasileiro comete diariamente e as considera como coisas corriqueiras, ou como dizem os mais dissimulados : “faz parte da nossa cultura”, como podemos colocar o dedo em riste na face dos políticos e empresários que perpetram esse espetáculo deprimente de corrupção e desvio de verbas ?

De onde vem o “jeitinho brasileiro” ??

A maldita concepção de “malandragem”, a cultura do “esperto que ludibria otários”, ou para ficar numa gíria mais moderna, os “manés”.

Essa ideia paradigmática que somos um povo cheio de malandragem, criou uma falsa noção de superioridade, que beira o ridículo. Todo brasileiro é “malandro”; é “esperto”, e ludibria facilmente os “manés”  gringos...

Ok, então...nós somos malandros que aplicamos pequenos golpes e arrancamos dinheiro dos “trouxas” dos gringos que vem fazer turismo aqui. OK, somos  “superiores” e eles , uns “otários”... 

Os Finlandeses; dinamarqueses; suecos; norte americanos; franceses; britânicos; alemães; suíços; japoneses...todos são uns otários, e nós é que somos “malandros”...

Diante dessa perspectiva, lhe pergunto caro leitor : de onde saem os políticos e os empresários que se envolvem nas falcatruas de corrupção, propinas, favorecimentos e desvio de verbas públicas com lavagem de dinheiro e afins ?

Tal categoria de seres não são humanos desse mesmo seio pátrio ?

Tais criaturas abomináveis não foram criados na mesma cultura da malandragem, que há séculos vem sendo valorizada e cantada em prosa e verso ?

Somos ou não somos um povo “macunaímico”, no pior sentido do conceito cunhado por Mário de Andrade, impregnado de valores equivocados acerca das questões éticas ?

Como podemos nos surpreender ao nos depararmos com a roubalheira em todas as esferas do setor público e de mãos dadas com as expectativas de boa parte da iniciativa privada, que acostumou-se com a máxima de que ”nada funciona se não se molhar a mão dos políticos” ?

Vejo portanto com bons olhos a ação da Polícia Federal; Ministério Público e demais órgãos envolvidos na determinação de apurar denúncias múltiplas que estão em alta voga na mídia, mas deixando a ressalva de que toda denúncia deve ser investigada a fundo e muitas vezes isso não acontece, com engavetamentos indevidos e uma velada torcida de um grupo “B” que quer apenas explorar as sujeiras do grupo “A”, blindando sua “tchurma” e agindo na pior prerrogativa possível, baixando o nível das discussões ao patamar da mentalidade das torcidas uniformizadas de clubes de futebol, ou seja, “os nossos bandidos são mais legais que os seus”...

Ora, enquanto não mudarmos a mentalidade, e leia-se uma quebra de paradigma histórica, ficaremos no limbo da civilização, chafurdando no terceiro mundo e reclamando do político safado que desviou milhões blá blá blá.

A consciência de que essa cambada de ladrões sai do mesmo povo em que eu e você faz parte, precisa ser encarada de frente e nossa missão, e eu quero crer que você leitor, não compactua com a imoralidade e tem caráter ilibado, começa pelo verdadeiro clamor que a camada honesta da população tem que fazer, que é mudar completamente a mentalidade do nosso povo e isso só se consegue mediante um mutirão pró educação, de forma maciça.

Talvez a atual geração esteja perdida, lamento ser realista e dizer isso, mas se os bebês que agora nascem começarem a ser criados com outra mentalidade, há esperança, aliás, sempre há.

Políticos e empresários corruptos e corruptores, não vem de Marte; Saturno ou de outra galáxia. São apenas brasileiros que cresceram acreditando na ideia de que somos todos “malandros” e nada se consegue com trabalho honesto e lucro justo.

Cresceram ouvindo os pais e os avós, dizendo que tudo só se resolve com “jeitinho”. Ouviram os seus professores dizendo que as “brechas da Lei permitem muitos deslizes”, e que imoralidade ou amoralidade não são tão graves se são passíveis nas aberturas vergonhosas que o texto capcioso das leis lhes dão margem. Entraram na vida adulta achando “normal” pagar e pedir propina; que fiscais são apenas achacadores oficializados; que “obter vantagem em tudo” é uma virtude...

Que se investigue; prove; julgue e castigue, todo corrupto e logicamente com ressarcimento da verba surrupiada, aos cofres públicos. Que se cobre a ação implacável para todos que cometeram atos ilícitos, sem exceção e doa a quem doer.

Mas que cheguemos à conclusão de que ser “malandro” é vergonhoso, tanto quanto achar que os gringos são “otários”. 

Compare os países de primeiro mundo ao Brasil e tire sua conclusão sobre quem são os verdadeiros “trouxas”...

Chega de bundalização !! Chega de malandragem !!

Quando Charles De Gaulle, então presidente da França, afirmou que o Brasil não era um país sério, lá no longínquo ano de 1968, os brasileiros ficaram ofendidos. Ora, falou alguma mentira ?

Recentemente, 2016, uma reportagem na mídia americana afirmou que o povo brasileiro dança nu nas ruas, em meio à uma epidemia terrível, perpetrada pela ação de um mosquito a lhe transmitir três doenças graves, alheio à catástrofe, referindo-se ao carnaval.

Seus pares brasucas se ofenderam, dizendo que o jornalista que assinou a matéria foi preconceituoso...

Com crise econômica; política; moral e epidemia alastrando-se pela profusão de mosquitos, o povo brasileiro abre mão do seu carnaval ? (eu sei que a festa atrai divisas, mas convenhamos, o dinheiro que entra pela via do turismo, dilui-se em mil bolsos e não necessariamente se reflete em ações públicas concretas que beneficiem a coletividade).

Pois é, quando vejo protestos e alguns justos até, penso na superficialidade que nos atravanca. 

OK, não é só pelos vinte centavos do aumento da tarifa dos ônibus urbanos, mas nunca se chega ao verdadeiro âmago da questão, ou seja : você, brasileiro, está disposto a deixar de ser “malandro” e não furar a fila ?

Pense nisso antes de arranhar a sua panelinha, na varanda gourmet da sua residência...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Não Precisamos de Fogos de Artifício

Não Precisamos de Fogos de Artifício,

texto de Luiz Domingues.

Passado o Reveillon, a reflexão é inevitável sobre o foguetório que encanta tanto as pessoas.
Milhões  de pessoas se aglomeram na Praia de Copacabana; na Avenida Paulista, e em todas as cidades brasileiras para comemorar a chegada do Ano Novo, e a pirotecnia parece indispensável para todos, como a justificar a sua permanência na rua para celebrar coletivamente a data.

Não só o Reveillon, mas várias datas ao longo do ano são comemoradas ao som e visual dos fogos de artifício, incluso comemorações de torcidas de times de futebol; manifestações políticas; reivindicações e protestos os mais variados, pequenas comemorações privadas, e até por razões nada nobres, como criminosos anunciando a chegada de suas mercadorias ilícitas...

Diante de tanta necessidade de extravasar sentimentos através de estampidos e luzinhas coloridas no céu, a pergunta é : não conseguimos  viver sem tal artifício ?

A julgar pela história, parece que o vício vem de longe, pois os registros sobre as tentativas de se manipular o fogo, remontam à era pré-histórica.

Oficialmente mesmo, a pirotecnia nasceu na China, cerca de dois mil anos atrás. Um experimento perpetrado por um alquimista chinês e completamente maluco, misturou salitre; enxofre e carvão, para em seguida aquecê-los.  

Isso resultou num pó preto que descobriu, era explosivo e recebeu o nome de “pólvora”. Através de inúmeros experimentos, constataram que poderia ser manipulado para gerar efeitos sonoros e visuais os mais diversos, alegrando as festividades, mas além disso, abriu caminho para um sem número de ramificações maléficas, dando origem às armas de fogo.

Nos tempos modernos, observamos que os fogos de artifício podem ser muito perigosos em muitos aspectos, infelizmente.

Mutilações terríveis; mortes; incêndios, e outras ocorrências decorrentes de seu mau uso, e que são condenadas amplamente pelo Corpo de Bombeiros, mas que ninguém dá ouvidos, a não ser depois que a tragédia acontece, estão no noticiário cotidiano.

Uma reclamação a mais, e que parece ser mais moderna a ser acrescentada nesse rol de malefícios, é o trauma gerado em animais domésticos pela incidência do barulho.

Parecendo um ataque nuclear, dependendo do local, é de se imaginar o quanto os animais sofrem sentindo um medo incomensurável.

Há relatos de muitas ocorrências de animais que não suportam o foguetório e infartam, apavorados pelo medo incompreensível que sentem diante de tal artilharia.

Vendo reportagens na TV sobre o colapso da saúde pública no Brasil, foi impossível não traçar um paralelo com os shows pirotécnicos do Reveillon.

Vendo pessoas com apêndice supurando sendo mandadas de volta para as suas casas; pessoas com AVC; aneurismas e infarto; gestantes dando a luz nas calçadas, gente com fraturas expostas chorando na rua pela falta de atendimento, entre outras barbaridades que vi num hospital de Realengo, no Rio de Janeiro, como não pensar no dinheiro que foi literalmente queimado em milhares de fogos que foram deflagrados para alegrar uma festa que tem lá seu simbolismo psicológico para a maioria das pessoas, admito, mas que na prática, é só um rito social, portanto, o que acontece não passa de um dia que acaba e começa outro ?

Antes que me acusem de ser piegas ou “ecochato” militante, alegando que uma coisa não tem nada a ver com a outra, e o dinheiro arrecadado com o turismo faz valer todo o esforço para que existam os shows de Reveillon, realmente não dá para não pensar que um gesto de boa vontade poderia ser dado pelos governantes, e creio que o povo entenderia, pois estamos todos vivendo um momento de crise.

Diante dessa draga em que estamos, será que o dinheiro gasto com essas festas de rua não teria sido melhor aproveitado para socorrer os hospitais públicos que estão à míngua ?

Sei que existe uma burocracia institucional entre as três instâncias do poder público, e claro que o dinheiro de uma prefeitura não pode passar assim, sem mais nem menos para socorrer um órgão federal etc  etc. Mas será que não poderia suprir emergencialmente em forma de espécie, como uma doação pura e simplesmente ?

Não ajudaria pegar o dinheiro desses fogos de artifício e comprar um lote de seringas descartáveis; luvas; algodão; bandagens, álcool; material de higiene, e outros tantos produtos de necessidade básica, e que faltam vergonhosamente no atendimento dos hospitais públicos ?

Quantas macas dá para comprar ? Quantos cobertores e lençóis ?

Enfim, não daria para não ter festa pirotécnica, e mesmo assim as pessoas não poderiam comemorar saindo às ruas para brindar o ano novo sem essa “perfumaria” cara ?

Hora de pensar no quanto o estampido e as luzinhas  são reais necessidades que temos para ornamentar nossas comemorações, extravasar ou reclamar de alguma coisa etc etc...