quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Só Bom Senso não Basta.

  Só Bom Senso não Basta, texto de Luiz Domingues.

Meses atrás, o Brasil viu uma enxurrada de manifestações populares, clamando por mudanças.

A pauta nem sempre foi clara e muita manipulação foi perpetrada por oportunistas de plantão, mas no seu âmago, o clamor parecia ter uma única raiz : mudanças...

Um dos mais monolíticos setores da sociedade, é o de organizações que regem os esportes, e notadamente o futebol.

As federações estaduais e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), são entidades que trabalham numa linha conservadora, muito parecida com a condução que o Vaticano exerce no catolicismo.

A palavra "mudança" causa calafrios nos sisudos e conservadores senhores que organizam o futebol profissional no Brasil, aliás, um microcosmo do que acontece no planeta, através da condução maior da Fifa, o orgão máximo que comanda o futebol, mundialmente falando.

Eis que na onda das manifestações da metade de 2013, finalmente a classe dos jogadores de futebol resolveu se unir e reivindicar mudanças muito importantes na regulamentação da sua profissão.

Chamado de movimento "Bom Senso", tem em seu manifesto inicial, uma pauta de reivindicações que faz jus ao nome escolhido para a sua agremiação.

O primeiro ponto, é o excesso de jogos. Ora, mesmo gostando de futebol e querendo ver vários torneios ao ano, mesmo o mais radical dos torcedores há de convir que estamos vivendo um calendário absurdo, onde o excesso está gerando a possibilidade de muitos jogadores contundirem-se.

Outro ponto, é o horário dos jogos. Não é admissível jogar em certas regiões do país onde o calor é abrasador, em horários de sol a pique.

E de outro lado, não é mais possível que uma rede de TV tenha o monopólio total das transmissões ao vivo e nos jogos das quartas, determine que as partidas comecem no insalubre horário das 22:00 h, com seu término ultrapassando a meia-noite e tudo por conta de não abrir mão de exibir o capítulo da novela das "oito", que há anos, começa as "nove"...

O fato da arbitragem ser amadora e determinante nos resultados dos jogos, é outro ponto a ser mudado urgentemente. Como podem os senhores árbitros e assistentes, errarem tanto e darem de ombros, pelo simples fato da atividade ser considerada como um "hobby" ?

É muita irresponsabilidade ter uma arbitragem amadora influindo diretamente numa engrenagem que gera milhões, quiçá bilhões de reais.

Aquele golzinho injustamente anulado, pode determinar o rebaixamento de um grande clube e o senhor árbitro, que no dia seguinte ao jogo, vai trabalhar como bancário ou dentista, não faz ideia de quantas famílias vão passar por sérios apuros, com o clube tendo um prejuízo financeiro retumbante por uma queda de divisão.

Outra coisa, se olharmos os salários astronômicos dos grandes jogadores, parece até que não existem profissionais à mingua nessa atividade.

Imagine outra realidade, muito aquém do Neymar, Ronaldinho Gaúcho e seus poucos pares. Qual é o salário de um jogador de um time do interior do Maranhão, que atua na segunda divisão daquele estado ?

Nesses termos, a realidade no futebol é muitíssimo diferente do glamour da elite, mas no imaginário popular, fica a impressão de que todos nadam em dinheiro e querem menos jogos, porque são "vagabundos"...

As condições de trabalho, também estão na pauta do dia. Ainda falando no excesso de jogos, a total impossibilidade de se realizar pré-temporada antes dos campeonatos iniciarem-se, é uma prática abominável.

É na pré-temporada, feita no prazo adequado, que os atletas se preparam físicamente para encarar os campeonatos e sem essa preparação adequada, a possibilidade de terem lesões é enorme. Portanto, não é uma "frescura", como certos dirigentes arcaicos andam dizendo por aí.

E o direito a greve ? Por que o jogador de futebol tem que tolerar os desmandos dos clubes mal organizados e que atrasam salários ?

Enfim, são muitas as reivindicações e em sua maioria, muito justas.

Mudanças são importantes na estrutura do futebol e entre tantas, a mais importante é : o jogador tem o direito a ter sua opinião ouvida, e por décadas, o principal artista desse espetáculo, esteve amordaçado, sem direito de expressar-se.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Mobilidade Urbana.

  Mobilidade Urbana, texto de Luiz Domingues.


Muito se tem falado sobre o estrangulamento do trânsito nas megacidades, mas a verdade é que esse problema já se espalha também por cidades de menor porte.

A falta de investimentos maciços em transporte público, por parte dos governantes, aliado aos interesses da indústria automobilística, sem dúvida que são fatores que impulsionam esse colapso.

Em diversas outras matérias que escrevi, abordando nuances dessa problemática, sempre deixei cravada a opinião de que uma ação isolada não resolve um nó dessa magnitude.

O investimento maciço no metrô, parece ser a medida número um nessa equação, mas como já salientei, não é a única.

O apoio de uma integração com os trens de subúrbio, é necessário e não descarto a existência dos aerotrens, fazendo interligações inteligentes interbairros.

Nada disso basta, pois não podemos abrir mão dos ônibus tradicionais e para tanto, a experiência da abertura de corredores exclusivos, com a possibilidade de tais veículos andarem mais rapidamente, é fundamental.

Nesse quesito, a prefeitura de São Paulo tem agido corretamente em forjar tal prática, ainda que tenha gerado alguns transtornos inevitáveis no processo de implantação. Numa cidade gigantesca como São Paulo, parece inevitável que qualquer medida que se tome, pode desagradar um grupo de pessoas, mas não tenho dúvida que corredor exclusivo, é imprescindível.

A experiência de cidades como Bogotá, na Colômbia e a Cidade do México, capital do país asteca, tem que ser usada como exemplo, onde os corredores tem centenas de KMs, em apoio ao Metrô.

Sobre a questão das ciclovias, também já falei bastante e tem muito ciclista que não entende certas colocações de minha parte. Já deixei muito bem explicado, mas reitero : Acho que o incentivo à prática do ciclismo urbano, tem que ser total por parte do poder público, desde que se criem ciclovias seguras e muito bem sinalizadas.

Mas deixo a ressalva de que os ciclistas precisam urgentemente conhecer a regulamentação que lhes cabe dentro do Código Brasileiro de Trânsito. Não respeitar os sinais básicos de trânsito, como o semáforo; indicação de faixa de segurança para pedestres e circular sobre calçadas, é abominável como conduta de civilidade, cidadania e respeito ao próximo.

Outra questão que defendo com ênfase, é o incentivo ao uso dos táxis. Se a tarifa do táxi fosse mais convidativa, quantos carros particulares não sairiam das ruas ?

Em conversa com taxistas amigos, sei que a reivindicação deles por melhores condições de trabalho, passa além da redução do preço dos combustíveis para a categoria, e dos impostos na hora da aquisição do carro novo. Para poder abaixar a tarifa, defendem um programa de auxílio manutenção.

Convenhamos, o desgaste de um táxi vai muito além do carro particular de passeio e não acho absurda a reivindicação deles, pelo contrário.

O governo que mais se preocupa em arrecadar com a obrigação da inspeção veicular, poderia bem usar essa estrutura montada para arrancar dinheiro extra dos proprietários de veículos (é bem sabido que o IPVA já deveria garantir essa inspeção, não é mesmo ?), dando suporte mecânico mais em conta para os taxistas.

Outra medida que poderia funcionar, é a da proibição sumária de tráfico de veículos particulares por ruas do centro da cidade, com a volta dos bondes urbanos.

Se os bondes nunca deixaram de funcionar, e pelo contrário, são funcionais e charmosos em cidades europeias, não vejo por que não poderiam voltar a operar em percursos de pequeno porte e desafogando assim as entupidas ruas do centro, de cidades como Rio e São Paulo, só para citar duas que estão caóticas pelo acúmulo de carros nas ruas.

A verdade é uma só : Se o transporte público fosse abundante e de qualidade, muita gente deixaria o carro particular na garagem e só o usaria para passeio no final de semana.

Se não o fazem, é porque querem evitar o sufoco de serem espremidos como sardinhas dentro da lata.

Se conseguem sentar-se decentemente, com limpeza e iluminação adequada, sinalização e sobretudo com abundância de opções e tudo sem esperas descomunais, as pessoas perderiam o receio de usar o transporte público.

Mas aí...a indústria automobilística não iria gostar muito de vender menos carros, e como um efeito dominó, ameaçariam demitir funcionários das montadoras. O governo corre para socorrer a indústria e não vai querer queda da taxa de empregos e consumo. Políticos não vão gostar de ter corte de verbas para suas campanhas eleitorais...

É como a velha propaganda daquele biscoito/bolacha : "Vende mais porque é mais fresquinho, ou é mais fresquinho justamente por vender mais" ?