Só Bom Senso não Basta, texto de Luiz Domingues.
Meses atrás, o Brasil viu uma enxurrada de manifestações populares, clamando por mudanças.
A
pauta nem sempre foi clara e muita manipulação foi perpetrada por
oportunistas de plantão, mas no seu âmago, o clamor parecia ter uma
única raiz : mudanças...
Um dos mais monolíticos setores da sociedade, é o de organizações que regem os esportes, e notadamente o futebol.
As
federações estaduais e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), são
entidades que trabalham numa linha conservadora, muito parecida com a
condução que o Vaticano exerce no catolicismo.
A palavra
"mudança" causa calafrios nos sisudos e conservadores senhores que
organizam o futebol profissional no Brasil, aliás, um microcosmo do que
acontece no planeta, através da condução maior da Fifa, o orgão máximo
que comanda o futebol, mundialmente falando.
Eis que na onda das
manifestações da metade de 2013, finalmente a classe dos jogadores de
futebol resolveu se unir e reivindicar mudanças muito importantes na
regulamentação da sua profissão.
Chamado de movimento "Bom
Senso", tem em seu manifesto inicial, uma pauta de reivindicações que
faz jus ao nome escolhido para a sua agremiação.
O primeiro
ponto, é o excesso de jogos. Ora, mesmo gostando de futebol e querendo
ver vários torneios ao ano, mesmo o mais radical dos torcedores há de
convir que estamos vivendo um calendário absurdo, onde o excesso está
gerando a possibilidade de muitos jogadores contundirem-se.
Outro
ponto, é o horário dos jogos. Não é admissível jogar em certas regiões
do país onde o calor é abrasador, em horários de sol a pique.
E
de outro lado, não é mais possível que uma rede de TV tenha o monopólio
total das transmissões ao vivo e nos jogos das quartas, determine que as
partidas comecem no insalubre horário das 22:00 h, com seu término
ultrapassando a meia-noite e tudo por conta de não abrir mão de exibir o
capítulo da novela das "oito", que há anos, começa as "nove"...
O
fato da arbitragem ser amadora e determinante nos resultados dos jogos,
é outro ponto a ser mudado urgentemente. Como podem os senhores
árbitros e assistentes, errarem tanto e darem de ombros, pelo simples
fato da atividade ser considerada como um "hobby" ?
É muita
irresponsabilidade ter uma arbitragem amadora influindo diretamente numa
engrenagem que gera milhões, quiçá bilhões de reais.
Aquele
golzinho injustamente anulado, pode determinar o rebaixamento de um
grande clube e o senhor árbitro, que no dia seguinte ao jogo, vai
trabalhar como bancário ou dentista, não faz ideia de quantas famílias
vão passar por sérios apuros, com o clube tendo um prejuízo financeiro
retumbante por uma queda de divisão.
Outra coisa, se olharmos os
salários astronômicos dos grandes jogadores, parece até que não existem
profissionais à mingua nessa atividade.
Imagine outra realidade,
muito aquém do Neymar, Ronaldinho Gaúcho e seus poucos pares. Qual é o
salário de um jogador de um time do interior do Maranhão, que atua na
segunda divisão daquele estado ?
Nesses termos, a realidade no
futebol é muitíssimo diferente do glamour da elite, mas no imaginário
popular, fica a impressão de que todos nadam em dinheiro e querem menos
jogos, porque são "vagabundos"...
As condições de trabalho,
também estão na pauta do dia. Ainda falando no excesso de jogos, a total
impossibilidade de se realizar pré-temporada antes dos campeonatos
iniciarem-se, é uma prática abominável.
É na pré-temporada, feita
no prazo adequado, que os atletas se preparam físicamente para encarar
os campeonatos e sem essa preparação adequada, a possibilidade de terem
lesões é enorme. Portanto, não é uma "frescura", como certos dirigentes
arcaicos andam dizendo por aí.
E o direito a greve ? Por que o
jogador de futebol tem que tolerar os desmandos dos clubes mal
organizados e que atrasam salários ?
Enfim, são muitas as reivindicações e em sua maioria, muito justas.
Mudanças
são importantes na estrutura do futebol e entre tantas, a mais
importante é : o jogador tem o direito a ter sua opinião ouvida, e por
décadas, o principal artista desse espetáculo, esteve amordaçado, sem
direito de expressar-se.
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