terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Nossos Melhores Cérebros, a Serviço dos Outros...

Nossos melhores cérebros, a serviço dos outros..., um texto de Luiz Domingues.

A expressão “Brain Drain”, criada pelos americanos, reflete e explica muito de sua grandeza como potência, ou melhor, maior potência do Planeta.

O que faz com que um país, seja considerado do seleto rol do “Primeiro Mundo” ?

São muitos os indicadores, naturalmente. Os óbvios (economia & lastro; instituições fortes; poderio bélico; organização social; tecnologia; educação; setores produtivos etc), e também os mais sutis, que ficam na retaguarda de toda a sociedade, caso dos ditos “melhores cérebros”, ou trocando em miúdos, profissionais altamente gabaritados sob o ponto de vista intelectual e consequentemente, com o melhor nível de capacitação, prontos, portanto para dar o melhor de si para a cadeia produtiva pública ou privada.

Essa é uma das chaves para o sucesso de uma nação e o óbvio investimento em educação de máxima qualidade é um caminho para chegar nesse ponto.

Mas o outro lado, o “Dark Side” (não o do Pink Floyd, que mediante um prisma vira multifacetado), mas um dispositivo bastante comum e aceitável dentro dos parâmetros do megacapitalismo : Não basta formar grandes cérebros, mas cooptar os cérebros brilhantes alheios, também.

Não acho isso um demérito, que fique claro. Quem reúne as melhores condições, tem mais é que contratar os melhores profissionais.

Quando éramos crianças, escolhíamos nossos times de futebol nas aulas de educação física, mediante o sorteio de par e ímpar, e a cada escolha do adversário, escolhíamos o próximo jogador para o nosso time, baseado no critério evidente de buscarmos a melhor qualificação possível, reforçando nosso time com os melhores jogadores. 

Nesse caso, o padrão de equilíbrio, era o sorteio promovido pelo professor, evitando que um time ficasse absurdamente mais forte que o outro, fazendo com que o jogo perdesse o poder de disputa, e abrindo caminho para o estímulo ao Bullying, por outro lado.

Mas na vida comum, esse fator de equilíbrio não existe e na selva de pedra, vence o instinto de sobrevivência.

Nessa linha de raciocínio, não enxergo como antiética a postura de atrair os melhores cérebros do planeta para reforçar os quadros da pesquisa tecnológica de ponta, e com tal contingente de gênios trabalhando em equipe, não há como uma nação não impor-se no cenário mundial, com postura de liderança.

O grande dilema para os países mais debilitados é criar mecanismos para que seus melhores cérebros fiquem e trabalhem em seus respectivos países.
Falando especificamente do Brasil, é histórica a relação de descaso com a educação, ao longo da história.

É importante ter em mente que os grandes cérebros a serem trabalhados, começam na tenra infância, e não apenas na graduação final nas universidades.

A base, na cadeia educacional, começa pela pré-escola, com uma capacitação excelente no desenvolvimento cognitivo das crianças, desde o berço, mentalidade que é comum num país de alto grau de desenvolvimento, como o Japão, por exemplo.

O ensino fundamental tem que receber uma profunda reformulação pedagógica, passando pela reformulação da didática; conteúdo; estímulo à capacidade criativa e reflexiva das crianças e adolescentes etc.

Nas universidades, o estreitamento da relação entre elas, instituições de ensino, com a sociedade, tem que ser total.

De forma tímida, existe tal conexão, via associações de indústria e comércio, como Fiesp e Fierj, por exemplo, mas isso deveria ser multiplicado à décima potência.

O governo precisa dar mais ouvidos aos Think Tanks, buscando essa inteligência sociológica e logística, na condução de sua política estratégica.

Já temos ótimos exemplos de polos de tecnologia de ponta, em que gente brilhante vem trabalhando e agregando, caso de cidades como Recife e Campinas, mas num país das dimensões e potencialidades do Brasil, isso precisa se multiplicar de forma epidêmica, espalhando-se por todos os quadrantes, do Oiapoque ao Chuí, literalmente.

Formar, capacitar e estimular os melhores cérebros a ficar no país e usar sua capacidade dentro de nossa economia e não a serviço de nações estrangeiras, se faz mister.

E tudo começa e acaba na grande chave do desenvolvimento de uma nação : Educação.

O restante, vem por dedução óbvia, com indústria; comércio e agricultura de ponta; instituições fortes; economia sólida; democracia inabalável e blindada contra radicalismos atrasados, sejam de extrema direita ou esquerda; investimento maciço em cultura; ações concretas de cidadania, ecologia e sustentabilidade; forças armadas bem equipadas, com o máximo de inteligência tecnológica e motivadas para trabalhar pela nação e jamais serem usadas para manobras políticas golpistas perpetradas por radicais infiltrados em suas fileiras; reforma fiscal, política, do código criminal;  etc etc.

Essa é a cartilha que impulsionou a grandeza das nações de primeiro mundo, e antes que me chamem de ingênuo, pois é óbvio que existe também o “Dark Side”(aí sim, o lado obscuro, mesmo), com corporativismos; intervenções invasivas na autonomia dos países pobres via belicismo; reserva de mercado; sanções econômicas e pressão política de toda sorte e geralmente antiética, é fato que tudo isso foi gerado graças aos cérebros privilegiados.

Um exemplo clássico, se deu no término da Segunda Guerra Mundial, quando os melhores quadros da inteligência que servia ao nazismo, foram convidados a trabalhar para os americanos, vide Van Braun e outros tantos.

Cérebro privilegiado move o mundo para frente, portanto, o desafio é não deixar que nossos melhores saiam, para trabalhar a favor dos outros.   

5 comentários:

  1. Nossa Luiz...ontem, dom/07, assistindo ao Globo Esporte, fiquei encantada com o Yuri Cordeiro - http://globotv.globo.com/rede-globo/esporte-espetacular/t/edicoes/v/brasileiro-piloto-de-helicoptero-se-destaca-nas-altas-velocidades-corrida-de-wingsuit/3815550/
    Refere-se à área esportiva, mas traço aqui um paralelo com seu texto, no que diz respeito ao nosso país - um ENORME contraste entre as deficiências e a excelência em diversas áreas do conhecimento e a exemplo de vários outros nomes brasileiros em destaque desde o séc. XVI, a começar talvez com o próprio D. Pedro II, em todo o mundo. É curioso e impressionante como vez em quando até em atividades nem tão exóticas ou destacadas surge o nome de algum brasileiro... Depreendo dai, que, embora nossas deficiências crassas em relação à Educação, talento é o que não nos falta...e voce tem razão - o desafio é não deixar que nossos melhores saiam, para trabalhar a favor dos outros...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito bom o seu adendo, Christine !

      Acho que dispensa maiores comentários de minha parte, pois deixou claro um exemplo de como talentos naturais são completamente ignorados pelo governo, instituições e pior ainda, pelo próprio povo...

      Esse rapaz só conseguiu tal notoriedade no exterior, porque esforçou-se pessoalmente, sem apoio algum de ninguém a anão ser de seus familiares e amigos próximos.

      Tal dinâmica se repete em todos os setores, não só no âmbito do esporte, caso dele.

      E explica porque nossos melhores talentos vão trabalhar para países estrangeiros ao invés de estarem aqui contribuindo para o crescimento de sua própria pátria.

      Grato pela participação muito pertinente !

      Excluir
  2. Só para ilustrar sua matéria, peguei isto no site abaixo: "A pesquisadora Gabriela Barreto Lemos afirma que pretende voltar para o Brasil, mas ainda não tem certeza. “O problema no Brasil é que o dinheiro para pesquisas é muito mais difícil. Conhecimento, bons pesquisadores e professores há, mas o dinheiro disponível é muito menor”, critica."
    https://nupesc.wordpress.com/2014/09/19/cientista-mineira-revoluciona-fisica-com-fotografia-quantica/Cientista mineira revoluciona física com fotografia quântica
    Revolução: A cientista Gabriela descobriu algo que Einstein classificou como “assustador” e que ninguém pensava ser possível provar

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ótimo adendo !

      De fato, um exemplo de como a falta de visão de nossas instituições faz com que cabeças pensantes prefiram trabalhar onde lhes oferecem condições adequadas, valorização profissional etc.

      Grato pela intervenção !

      Excluir
  3. Verdade, muito tem que ser melhorado na Educação, e no encaminhamento de profissionais qualificados dentro do nosso país!

    ResponderExcluir