terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Nossos Melhores Cérebros, a Serviço dos Outros...

Nossos melhores cérebros, a serviço dos outros..., um texto de Luiz Domingues.

A expressão “Brain Drain”, criada pelos americanos, reflete e explica muito de sua grandeza como potência, ou melhor, maior potência do Planeta.

O que faz com que um país, seja considerado do seleto rol do “Primeiro Mundo” ?

São muitos os indicadores, naturalmente. Os óbvios (economia & lastro; instituições fortes; poderio bélico; organização social; tecnologia; educação; setores produtivos etc), e também os mais sutis, que ficam na retaguarda de toda a sociedade, caso dos ditos “melhores cérebros”, ou trocando em miúdos, profissionais altamente gabaritados sob o ponto de vista intelectual e consequentemente, com o melhor nível de capacitação, prontos, portanto para dar o melhor de si para a cadeia produtiva pública ou privada.

Essa é uma das chaves para o sucesso de uma nação e o óbvio investimento em educação de máxima qualidade é um caminho para chegar nesse ponto.

Mas o outro lado, o “Dark Side” (não o do Pink Floyd, que mediante um prisma vira multifacetado), mas um dispositivo bastante comum e aceitável dentro dos parâmetros do megacapitalismo : Não basta formar grandes cérebros, mas cooptar os cérebros brilhantes alheios, também.

Não acho isso um demérito, que fique claro. Quem reúne as melhores condições, tem mais é que contratar os melhores profissionais.

Quando éramos crianças, escolhíamos nossos times de futebol nas aulas de educação física, mediante o sorteio de par e ímpar, e a cada escolha do adversário, escolhíamos o próximo jogador para o nosso time, baseado no critério evidente de buscarmos a melhor qualificação possível, reforçando nosso time com os melhores jogadores. 

Nesse caso, o padrão de equilíbrio, era o sorteio promovido pelo professor, evitando que um time ficasse absurdamente mais forte que o outro, fazendo com que o jogo perdesse o poder de disputa, e abrindo caminho para o estímulo ao Bullying, por outro lado.

Mas na vida comum, esse fator de equilíbrio não existe e na selva de pedra, vence o instinto de sobrevivência.

Nessa linha de raciocínio, não enxergo como antiética a postura de atrair os melhores cérebros do planeta para reforçar os quadros da pesquisa tecnológica de ponta, e com tal contingente de gênios trabalhando em equipe, não há como uma nação não impor-se no cenário mundial, com postura de liderança.

O grande dilema para os países mais debilitados é criar mecanismos para que seus melhores cérebros fiquem e trabalhem em seus respectivos países.
Falando especificamente do Brasil, é histórica a relação de descaso com a educação, ao longo da história.

É importante ter em mente que os grandes cérebros a serem trabalhados, começam na tenra infância, e não apenas na graduação final nas universidades.

A base, na cadeia educacional, começa pela pré-escola, com uma capacitação excelente no desenvolvimento cognitivo das crianças, desde o berço, mentalidade que é comum num país de alto grau de desenvolvimento, como o Japão, por exemplo.

O ensino fundamental tem que receber uma profunda reformulação pedagógica, passando pela reformulação da didática; conteúdo; estímulo à capacidade criativa e reflexiva das crianças e adolescentes etc.

Nas universidades, o estreitamento da relação entre elas, instituições de ensino, com a sociedade, tem que ser total.

De forma tímida, existe tal conexão, via associações de indústria e comércio, como Fiesp e Fierj, por exemplo, mas isso deveria ser multiplicado à décima potência.

O governo precisa dar mais ouvidos aos Think Tanks, buscando essa inteligência sociológica e logística, na condução de sua política estratégica.

Já temos ótimos exemplos de polos de tecnologia de ponta, em que gente brilhante vem trabalhando e agregando, caso de cidades como Recife e Campinas, mas num país das dimensões e potencialidades do Brasil, isso precisa se multiplicar de forma epidêmica, espalhando-se por todos os quadrantes, do Oiapoque ao Chuí, literalmente.

Formar, capacitar e estimular os melhores cérebros a ficar no país e usar sua capacidade dentro de nossa economia e não a serviço de nações estrangeiras, se faz mister.

E tudo começa e acaba na grande chave do desenvolvimento de uma nação : Educação.

O restante, vem por dedução óbvia, com indústria; comércio e agricultura de ponta; instituições fortes; economia sólida; democracia inabalável e blindada contra radicalismos atrasados, sejam de extrema direita ou esquerda; investimento maciço em cultura; ações concretas de cidadania, ecologia e sustentabilidade; forças armadas bem equipadas, com o máximo de inteligência tecnológica e motivadas para trabalhar pela nação e jamais serem usadas para manobras políticas golpistas perpetradas por radicais infiltrados em suas fileiras; reforma fiscal, política, do código criminal;  etc etc.

Essa é a cartilha que impulsionou a grandeza das nações de primeiro mundo, e antes que me chamem de ingênuo, pois é óbvio que existe também o “Dark Side”(aí sim, o lado obscuro, mesmo), com corporativismos; intervenções invasivas na autonomia dos países pobres via belicismo; reserva de mercado; sanções econômicas e pressão política de toda sorte e geralmente antiética, é fato que tudo isso foi gerado graças aos cérebros privilegiados.

Um exemplo clássico, se deu no término da Segunda Guerra Mundial, quando os melhores quadros da inteligência que servia ao nazismo, foram convidados a trabalhar para os americanos, vide Van Braun e outros tantos.

Cérebro privilegiado move o mundo para frente, portanto, o desafio é não deixar que nossos melhores saiam, para trabalhar a favor dos outros.   

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Por que se paga muito mais para ver um artista estrangeiro ?

Por que se paga muito mais para ver um artista estrangeiro ?, texto de Luiz Domingues.

Juízo de valor é um conceito subjetivo, isso é evidente.

Desde que o mundo existe, as sociedades mais primitivas trataram de precificar tudo, e assim o mundo foi sendo regido, sem perspectiva de uma mudança radical que não baseie a vida em torno de tal paradigma.

O assunto é imensamente amplo e portanto, vou direto ao ponto que quero enfatizar nesta crônica.

No caso específico do Brasil, o estigma de ter sido uma ex-colônia de um país europeu, causou um prejuízo emocional, que na psiquê de nações com história geopolítica igual à nossa, não necessariamente ocorreu também.

Refiro-me à completa baixa autoestima que norteou a alma brasuca, e que por séculos, tem nos aprisionado no paradigma da inferioridade.

Esse complexo terrível que o brasileiro médio tem em relação às outras nações do planeta, incluso países semelhantes, ou em condições socioeconômicas ainda piores do que as nossas, resulta numa subserviência patética e patológica, que gera um sem número de situações vexatórias.

O brasileiro passa muito além do comportamento de simpatia para com estrangeiros, exagerando na dose em demasia, e fazendo com que o tal “calor humano” seja na verdade um ato de absoluto entreguismo, em muitos aspectos.

O cronista/dramaturgo e crítico esportivo, Nelson Rodrigues, cunhou a famosa expressão “Síndrome de Vira-Lata” para designar esse desvio de conduta, alimentada pelo patológico complexo de inferioridade arraigado em nosso povo.

Indo ainda mais direto ao ponto, pois tal tema gera muitos desdobramentos, quero observar uma questão específica com a qual estou acostumado, pois é do meu métier como músico : o show business.

O valor de um cachet é naturalmente proporcional à fama que cada artista consegue adquirir, isso não se discute.

É uma questão óbvia e que demanda a conquista da sua popularidade, mediante sua exposição midiática e é natural que ganhe cada vez mais, conforme cresce seu portfólio, em todos os sentidos.

Mas aí o brasileiro entra com sua famosa síndrome, e distorções ocorrem a todo momento.

O critério para precificar ingressos de shows internacionais, em relação aos espetáculos de artistas nacionais, é de uma discrepância assustadora.

Por que ?

As desculpas são muitas e quase nenhuma é convincente o suficiente.

Vejo pessoas falando que o valor exorbitante se justifica pelo fato do artista estrangeiro não vir com regularidade ao nosso país.

Isso era um argumento relativamente válido até trinta anos atrás, pois faz tempo, o Brasil entrou na rota internacional das turnês dos grandes artistas.

E pelo contrário, nos últimos anos, pelo fato do Brasil ter sido um dos raros países do mundo a não entrar em recessão profunda pela turbulência da crise mundial de 2008, nosso país virou um porto seguro para muitos artistas que estreitaram o espaço entre suas visitas.

Muitos se aproveitaram dessa oportunidade e incluíram mais cidades brasileiras nas suas tours, saindo da obviedade de fazer shows apenas em São Paulo e Rio de Janeiro.

Pelo contrário, tornou-se comum artistas internacionais fazerem shows até em cidades interioranas, o que é ótimo, é claro.

Artistas de médio e até pequeno porte, afinaram seu faro e o Brasil virou um país apto a receber shows para todos os gostos, com bastante profusão.

Outra desculpa comum, é a de que a cada vinda do artista, é melhor não perder a oportunidade de vê-lo ao vivo, pois ele pode demorar a voltar, e falecer, não havendo outra chance.

Ora, ao que me consta, artistas brasileiros também estão sujeitos à morte física, e se em tese, deixo de assistir um show deles, também abro a possibilidade de não haver outra chance na prática, caso ele “parta desta para a melhor”...

E convenhamos : tem artista estrangeiro que tem vindo com tanta frequência ao Brasil, que praticamente já fala português com certa desenvoltura...

Indo além, são inúmeros os casos de artistas internacionais que até tem residência temporária ou fixa no país.

Apesar dessa frequência cada vez maior, velhos hábitos brasucas não mudam.

Um exemplo disso é a famosa “Síndrome de Vira Lata”, típica e de certa forma, crônica (espero que não !!)...

O artista estrangeiro, independente de sua qualidade, e aqui não cabe esse julgamento técnico, embora em muitos casos isso deva ser levado em consideração, só por ser estrangeiro nem precisa cobrar demais, pois o próprio brasileiro fará questão de lhe pagar um cachet astronômico.

Está impregnado na nossa alma, que o sujeito é “superior” a nós, só por ser estrangeiro e se for anglo-saxão então, o encantamento é ainda maior. Basta falar inglês e já entra em campo ganhando o jogo de 10 x 0, ou 7 x 1 , que é um placar na moda...

Em detrimento disso, para convencer o público a pagar ingresso até dez vezes mais barato do que pagariam aos “gringos”, para ver um artista brasuca, é uma luta quase inglória e quem for do meio e estiver lendo esta crônica, certamente haverá de concordar comigo.

Resumo : Para quem achava que o fato do Brasil ter entrado há muito tempo na rota do circuito de shows do planeta, isso seria uma porta aberta para o fomento da cultura e de seus artistas locais, houve um ledo engano.

De fato, a infraestrutura para fazer shows melhorou muito, com equipamento de som e luz compatíveis com o padrão de primeiro mundo; existem muitas casas de espetáculos com essa infra e logística; estádios e arenas surgindo principalmente no pós-Copa, em condições tão boas ou até melhores que estádios americanos e europeus; temos tecnologia etc etc.

Contudo, a patologia brasuca não foi curada...esqueceram de contratar um mutirão de psicólogos, psicanalistas e terapeutas holísticos para promover essa cura da alma mater tupiniquim...

E nesses termos, enquanto não mudarmos essa mentalidade de inferioridade atroz que nos corrói, seremos por muito tempo um povo que sempre estenderá tapetes vermelhos aos estrangeiros, não por sermos calorosos e bons anfitriões, mas por acharmos que eles são “superiores” e merecem por isso, sempre serem tratados com o exagero e a vergonhosa subserviência.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Por que Tiram a Camiseta na Hora do Gol ?

Por que Tiram a Camiseta na Hora do Gol ?, texto de Luiz Domingues.

Existe um sem número de coisas abomináveis no futebol profissional e que atrapalham a condução do referido esporte, enquanto atração de massa e em relação à sua credibilidade.

Uma delas é a mania de vários jogadores em arrancarem suas camisetas para comemorar gols. E porque isso é inaceitável ?

Desde o início dos anos oitenta, os clubes começaram a alugar seus respectivos uniformes para empresas, gerando uma renda extra que os auxilia a manter as contas em dia, visto que anteriormente só contavam com a renda das bilheterias dos jogos, basicamente (em tempos antigos, havia a questão do passe dos jogadores, também, e o merchandising era super mal explorado).

Dessa forma, os patrocinadores ganhariam muito com a exposição de suas marcas por conta da exibição dos jogos na TV, e muitas fotos nos jornais e revistas.

Mas aí começou uma “moda” entre os boleiros : O sujeito faz o gol e para extravasar sua alegria, comemora tirando sua camiseta. Ora, no momento máximo da partida, onde a exposição da marca que ajuda a bancar os salários astrômicos de alguns desses jogadores, deveria ser exaltada, eles simplesmente jogam fora essa possibilidade, deixando o clube em maus lençóis com o patrocinador.

A FIFA lançou então uma recomendação, orientando os árbitros a punirem tal procedimento com o cartão amarelo, mas isso parece ter criado outra situação entre os boleiros. Não é de hoje que sabemos que existe uma malandragem implícita entre eles, jogadores, e a questão dos cartões amarelos acumulados que revertem em suspensão automática é manipulada a seu bel prazer.

Portanto, mesmo advertidos por seus técnicos e dirigentes para não fazer isso de forma alguma, também por esse aspecto da suspensão, não tomam conhecimento e parecem não se importar com a punição, o que convenhamos, lhes é interessante para eles poderem exercer uma oportunidade de vagabundagem clara, desfalcando o time num momento em que deveriam estar em campo.

E mais uma coisa : um cidadão comum arruma emprego numa empresa, e tomando conhecimento do regimento interno, é avisado que em hipótese alguma pode trabalhar sem usar um uniforme com o emblema da instituição.

Aí, ele senta-se na sua mesa de trabalho e a primeira coisa que faz é tirar o uniforme...

Claro que recebe a advertência de um superior, mas reincide.

Aí repete, repete e repete a insubordinação. O que fazer com um sujeito desses ?

E aqui não cabe nenhuma contra-argumentação sobre a validade moral da norma. Não é o caso, pois não fere nenhuma questão ética, tampouco é algo invasivo que ofenda a dignidade do funcionário, portanto, se não gosta de usar uniforme, basta buscar outro tipo de colocação no mercado...

Como torcedor e espectador de futebol, fico inconsolável quando vejo o gol sair, e o energúmeno sai correndo jogando a camiseta no chão, mesmo sabendo amplamente que será punido com um cartão amarelo.

Ainda bem que não sou técnico de futebol, pois seria um sofrimento lidar com esse tipo de gente. 

Na hora de renovar um contrato, querem se valorizar ao máximo como profissionais, fazendo pedidas estratosféricas, que chegam a humilhar a grande massa que os idolatra, mas dentro das suas atribuições, agem como amadores da pior espécie, nessa e em inúmeras outras questões.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Ebola, a Bola da Vez.

Ebola, a Bola da Vez.

Texto de Luiz Domingues.

Talvez a maioria da população brasileira não esteja prestando atenção devidamente ao problema, inebriada por outras questões, como a disputa eleitoral, escândalos de corrupção e o mundo cão do cotidiano que é explorado ad nauseam nos programas sensacionalistas da TV aberta, disfarçados de jornalismo.

Mas o fato é que a epidemia de Ebola, está gravíssima na África e o perigo de se espalhar de forma incontrolável para todo o planeta, existe, ainda que as autoridades se esforcem para não deixar transparecer tal possibilidade e dissemine-se assim o pânico total.

Segundo a literatura da medicina, a doença foi detectada nos anos setenta, no Sudão e no Congo, recebendo o nome de um Rio do Congo, chamado Ebola.
Nessa primeira abordagem, em 1976, a projeção era de que tal vírus era transmitido por morcegos e rapidamente infectando primatas, e claro, chegando aos humanos.

A transmissão da doença é extremamente agressiva, sendo feita por diversos fluídos corporais e abrindo o campo para a contaminação pelo ar.

Cientistas trabalham com afinco para criar uma vacina definitiva, mas ainda no campo das experimentações, não existe algo absolutamente definitivo que erradique a epidemia e salve a vida dos infectados.
O caso do médico norte-americano que salvou-se e está com a saúde 100 % revitalizada, é ainda um caso isolado e sujeito a estudos, não caracterizando se tratar de uma solução final para o caso.
As autoridades movimentam-se para evitar o contágio, com medidas profiláticas básicas, mas longe de algo realmente que assegure o bem estar de suas respectivas populações.

O básico do básico é fechar fronteiras e vigiar com rigor a entrada de pessoas que venham desses países onde o surto está muito intenso. E isso está sendo feito por todos os países.

Agora, o que chama a atenção, é que se medidas de prevenção são necessárias, na mais prosaica, porém válida ação de proteger a própria prole em sua casinha, por outro lado, não se nota nenhuma ação pesada por parte das nações desenvolvidas para ajudar de forma contundente, os países assolados pela doença.
A ação dos países do primeiro mundo, parece tímida, em proporção à gravidade da situação e pior ainda, apontam para medidas mais preocupadas em não deixar o vírus se espalhar, do que efetivamente auxiliar a população dos países afetados.

Fora ações de ONG’s abnegadas, como o “Médico sem Fronteiras” e a “Cruz Vermelha”, não existe um aparato portentoso da parte de países europeus, Estados Unidos e Japão, para ajudar países como a Libéria, Serra Leoa, Guiné e Nigéria, onde a situação é desesperadora.

Claro que o conflito Ucrânia-Russia preocupa; lógico que a Guerra sangrenta na faixa de Gaza está dramática e deixa o mundo em alerta vermelho máximo, na iminência do estouro de uma III Guerra Mundial, mas não consigo pensar nesse surto de uma doença terrível e letal, possa ficar à margem da preocupação das nações desenvolvidas.
A única nova vinda das nações de primeiro mundo, é a proposta de criar um isolamento na Libéria. Lembra o Gueto de Varsóvia que os Nazistas criaram, infelizmente.
Outro aspecto desse surto, que normalmente não gosto de alimentar, mas que é uma possibilidade, é o de que tal vírus possa ser obra de inúmeras contaminações feitas através de ações militares.
Fato, depois do uso e abuso de gases na I Guerra Mundial, toda possibilidade de contágio se abriu e são inevitáveis as especulações sobre mutações genéticas decorrentes das conseqüências do uso de armas químicas.
Faz cem anos que o gás de pimenta foi usado de forma cruel na I Guerra Mundial, mas depois disso, quantas outras ações desse porte ou piores, não foram deflagradas ?
Se o gás de pimenta era algo terrível, o que dizer do poder de uma bomba atômica e sua radiação a reboque ?
E as experiências com doenças sexualmente transmissíveis, feitas em cobaias humanas incautas na Guatemala ?
Esqueceram do “Agente Laranja” que os americanos cansaram de jogar na cabeça da população vietnamita ?
Enfim, sem fomentar “Teorias da Conspiração”, mas será que o Ebola, assim como a Aids e outras moléstias agressivas, não são frutos de ações químicas usadas em conflitos bélicos ?
Isso sem ir adiante e conjecturar que tais vírus possam ser criações propositais, geradas em laboratórios a serviço de forças secretas etc etc. Mas convenhamos, não se pode descartar essa hipótese, também.
Aproveitando, nada a ver com o assunto Ebola, mas tratando de outra doença, digo que obviamente que sou a favor da causa a favor de arrecadação de fundos para a pesquisa em prol de avanços para o tratamento da Esclerose Lateral Amiotrófica, uma doença muito dramática e que acomete muitas pessoas. Torço para que as pessoas e as autoridades se sensibilizem e lhe prestem apoio para que se busquem tratamentos e cura definitiva, contudo, não vou postar vídeo nas redes sociais jogando um balde de gelo ou água gelada sobre o corpo para demonstrar apoio à causa, pois isso é absolutamente ridículo e denota um modismo perpetrado por marketeiros, e se tem uma coisa que abomino é armação de “formadores de opinião”, esses verdadeiros “Goelbbelzinhos” de araque.
Além do mais, que coisa mais infeliz incentivar o desperdício de água, num momento dramático onde o planeta está vendo suas reservas de água se esvaindo...parece que eu sou um ecochato por falar isso, pois o que representa um mero “baldinho” nesse contexto, não é mesmo ?
Aí eu vejo a notícia que estima-se que 16 milhões de metros cúbicos de água foram para o ralo por conta dessa asneira e aí, fico com mais bronca ainda do marketeiro que deve se achar um gênio por isso ter “virado”.  
Encerrando com o Ebola, toda a atenção é pouca para uma doença devastadora como essa.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Repórter Esso, Testemunha Ocular da História.

Repórter Esso, Testemunha Ocular da História, texto de Luiz Domingues.

Nos primórdios da história do Rádio, o tratamento com o qual o jornalismo era exercido, não tinha um formato específico e adequado à esse novo veículo.

Portanto, no início, o noticiário radiofônico era uma mera leitura de notícias publicadas nos jornais tradicionais, como uma espécie de mural enfadonho e muitas vezes não levando em conta que certas particularidades da notícia lida dessa forma, causava alguma confusão ao ouvinte.

Demorou um tempo para que os radialistas notassem que era preciso inventar um formato radiofônico específico para tal veículo.

Foi com esse propósito que em 1935, surgiu nos Estados Unidos, o “Reporter Esso”, um noticiário criado especialmente para o Rádio e patrocinado por uma companhia petrolífera (Standart Oil Company), daí esse nome personalizado.

O lado obscuro dessa iniciativa, era que tinha um objetivo claro em sua linha editorial, sua prerrogativa, mas obviamente questionável enquanto jornalismo livre e ético, pois acintosamente noticiava os fatos conforme o ponto de vista americano, realçando suas virtudes, omitindo os defeitos e enxergando o mundo pelo seus interesses, de forma parcial.

Dessa forma, não demorou e o grande foco do Reporter Esso foi a II Guerra Mundial, naturalmente.

Acompanhando o plano expansionista da política de boa vizinhança do governo Roosevelt, o Repórter Esso criou franquias (foram quinze ao longo do mundo, segundo consta na sua história), e chegou ao Brasil de Getúlio Vargas.

Em 28 de agosto de 1941, estreou na Rádio Nacional do Rio de Janeiro e desde o seu início, era subordinado ao DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), com a mão de ferro de Vargas a lhe conduzir o editorial.
No início, eram programas curtos de apenas cinco minutos de duração, e na maior parte do tempo ocupados com a reprodução do programa americano e as notícias dos militares americanos no conflito.

E mesmo com Vargas voltando ao poder em pleito democrático, anos depois, a atuação do Repórter Esso continuou na sua predisposição de noticiar sob o prisma americano.

Com o passar do tempo, o noticiário estava tão sedimentado no imaginário do cidadão brasileiro, que seus slogans e jingle, faziam parte do cotidiano do país, talvez numa proporção maior do que veio a representar o Jornal Nacional da TV Globo, anos depois.

Havia até um ditado popular, que dizia que se uma notícia surgia, só era considerada verdadeira se fosse noticiada no Repórter Esso.

O programa migrou para outras estações de Rádio, e chegou à TV, onde também fez grande sucesso.

Jornalistas como Heron Domingues, Luis Jatobá, Roberto Figueiredo e Gontijo Teodoro, passaram por ele e certamente que influenciaram outros programas que surgiram depois, incluso o Jornal Nacional da TV Globo, onde aliás, o próprio Heron Domingues fez parte no seu começo.

As trombetas estridentes que anunciavam a entrada do noticiário no ar, tinham um ar solene, parecendo que sempre a notícia a ser dada era bombástica, embora raramente isso ocorresse, dentro da rotina do jornalismo.

A contribuição que o Repórter Esso deu para o radialismo foi imensa, contribuição que estendeu-se ao jornalismo televisivo, posteriormente.

Segundo consta na história do radialismo, graças ao Repórter Esso, criou-se enfim o formato adequado para o veículo, com notícias curtas, de forma muito objetiva e expressas com frases ágeis, usando não só o poder da síntese, como a preocupação na escolha de palavras fortes para dar a ênfase necessária.

A última edição radiofônica ocorreu na noite de 31 de dezembro de 1968. O radialista Guilherme de Sousa falou sobre alguns decretos de ordem econômica assinados pelo presidente Costa e Silva, desdobramentos do AI-5, então recentemente promulgado e notas sobre o Reveillon.

À medida que falava, foi embargando a voz e nitidamente emocionado, não conseguiu encerrar a sua locução, chorando copiosamente e assim fazendo com que o locutor reserva entrasse às pressas na sala da técnica, e assumindo o microfone, encerrou a transmissão desejando um “feliz 1969 à todos”.

Na Televisão, o noticiário sobreviveu mais um pouco, mas também teve uma última edição no Reveillon, desta feita, na noite de 31 de dezembro de 1970, nas TV’s Record e Tupi.

Fim de uma Era no radialismo e calava-se para sempre a “Testemunha Ocular da História”.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Hinos Manchados de Sangue.

Hinos Manchados de Sangue, texto de Luiz Domingues.

Somos educados desde a tenra idade, a decorar o hino nacional e mesmo sem entender a maioria das palavras ali contidas, tendemos a não nos preocuparmos com a interpretação de seu significado, metáforas, analogias e outras figuras de linguagem implícitas em sua verborragia.

A maioria dos hinos nacionais dos países,  é antigo e isso explica muito o porquê do uso de palavras pouco usuais ao coloquial moderno, não só da nossa compreensão em português, mas valendo para todas as línguas, praticamente.

A exaltação das respectivas belezas e recursos naturais de cada país,  são costumeiras, assim como o enaltecimento de características humanas de seus povos, mas existe um dado além, que chama a atenção pela grande profusão, e se trata do caráter bélico, na maioria dos hinos nacionais ao redor do planeta.

Isso é compreensível, na medida em que por serem antigos, geralmente, trazem carga em anexo de uma mentalidade arcaica e arraigada em valores norteados por disputas territoriais que remontam à Idade Média e em alguns casos, até à Antiguidade.

Fala-se muito no conceito da vida e morte; luta, defesa da honra e da fronteira, como o mais alto valor a ser defendido.
Não é incomum ver nas letras dos hinos, citações de batalhas; guerras & revoluções;, sangue derramado; dor e sofrimento de seu povo; restrições & penúria material etc etc.

Geralmente ninguém se dá conta de que a mentalidade generalizada em tais composições, perpetua valores segregacionistas, com todo mundo defendendo com unhas e dentes seu pedacinho de chão, sua língua e cultura particular, em detrimento de uma visão mais macro do planeta, como casa de toda a humanidade, sem fronteiras como dizia o brother Lennon na sua canção, Imagine.

Em época de Copa do Mundo e Olimpíadas é que a mídia dá mais ênfase na execução dos hinos das nações participantes de tais jogos e aí, escancara-se toda essa constatação que venho fazendo.

A começar pelo hino brasileiro, onde se observa algumas colocações que corroboram tal tese. Por exemplo :
“Verás que um filho teu não foge à luta”, nem teme, quem te adora a própria morte”...

No da Itália, era natural que exaltassem as glórias do Império Romano, mas convenhamos, sob o fio afiado das espadas ou gládios, para sermos precisos :

“Com o Elmo de Scipio, cingiu sua cabeça, onde está a vitória, lhe estenda a coma, que escrava de Roma, Deus a criou...estamos prontos para a morte, a Itália chamou...estamos prontos para a morte”...   
No de Portugal, é natural que se exaltasse a coragem dos descobridores, via tradição marítima, mas tem truculência, também :

“Ás armas, às armas, sobre a terra e sobre o mar...contra os canhões, marchar, marchar”...


Não tenho dúvida que o hino da França é um dos mais belos, senão o mais belo do planeta. Mesmo não sendo francês e não tendo nenhuma identificação com tal nação, quase todo mundo se arrepia quando ouve a Marselhesa, todavia, já parou para analisar que tal hino foi criado no calor de uma revolução sangrenta e retrata na sua letra, ipsis literis, um banho de sangue, ainda que lutando por nobres ideais de liberdade ?

Nem reproduzirei trechos da letra, porque nesse caso, a letra inteira exalta os cidadãos a marchar, lutar e derramar seu sangue...

O hino inglês exalta a monarquia e isso não surpreende em nada, levando-se em conta o tradicional espírito conservador britânico. Mesmo ameno e formal, tem lá seu lado  raivoso :
“Ó senhor nosso Deus, venha dispersar seus inimigos...e fazê-los cair...confunda sua política, frustre seus truques fraudulentos”...

O México expressou no seu hino, o trauma da dizimação dos povos pré-colombianos pelos colonizadores espanhóis, pois fala em defesa do solo, que cada cidadão é um soldado em potencial e a espada dos arcanjos está ao seu lado para a eventualidade...caso parecido como hino da França, abstenho-me de reproduzir frases, pois é inteiro calcado nesses valores de belicismo.

De nosso vizinhos argentinos, o espírito libertador do jugo colonialista europeu, espírito comum em todos os países latinoamericanos , nos traz a frase emblemática : “Coroados de glória vivamos, ou juramos com glória morrer”...

A Argélia mostra também seu lado de exaltação da força em se defender : “Juramos, pelo raio que destrói, pelos rios de generoso sangue derramado...somos soldados em revolta, pela verdade”...

A Grécia traz seu passado da antiguidade tal como a Itália que cita Roma, mas ao invés de exaltar a sua cultura privilegiada de outrora, via filosofia e artes, fala do belicismo : “Reconheço-te pelo gume do teu terrível gládio”...

Enfim, para não tornar esta matéria gigantesca, foco por aqui, mas acredite amigo leitor, os hinos nacionais, salvo honrosas exceções, ainda trazem como teor de suas exaltações, o espírito bélico em seu bojo, numa visão nada amistosa da convivência entre os povos e considerando que na verdade, a casa onde moramos, o planeta Terra, pertence a todos e a divisão com arame farpado, de pequenos terrenos, é mera invenção sociopolítica e ultrapassada.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Steve Jobs, Internet, Compartilhar...

       Steve Jobs, Internet, Compartilhar...texto de Luiz Domingues.

Em meio à discussão acalorada sobre o marco civil da internet no Congresso Nacional, acho que vale a pena trazer à tona algumas considerações sobre o uso da rede livre de computadores.

Para início de conversa, não é lenda urbana como alguns afirmam, que o conceito da Internet livre tem uma raiz muito forte no movimento Hippie, dos anos sessenta.

Muitos de seus idealizadores, foram Hippies de fato, e portanto bastante entusiasmados com conceitos de fraternidade, que eram típicos daquela filosofia de vida proposta por seus seguidores.

Dentro desses parâmetros, um desses entusiastas das ideias fraternais propostas pelos hippies, era um jovem chamado Steve Jobs, que também era apaixonado por tecnologia.

No final da década de sessenta, dois fenômenos aconteciam no estado da Califórnia : o movimento Hippie e o agrupamento de indústrias de tecnologia no Vale de Santa Clara, que ganhou o apelido de "Vale do Silício".

Jobs transitava com entusiasmo entre os dois mundos e não é exagero dizer que muito de suas futuras realizações, foram profundamente influenciadas pelo fato de ter sido um hippie.

Ouvindo Bob Dylan o dia inteiro, ideias borbulhavam em sua cabeça.

Foi à Índia, numa típica incursão espiritualista que todo hippie potencialmente sonhava realizar, e travou contato com conceitos do Zen Budismo. A simplicidade e a bondade, como conceitos a serem adotados por toda a vida, lhe fizeram bem.

Claro que teve seu envolvimento com as drogas alucinógenas, mas a experiência do "mind expansion" parecia não ser o melhor caminho para se atingir uma nova consciência, e se criar daí, uma sociedade realmente fraternal.

Abrir a cabeça e enxergar além, era apenas um passo e pela indução das drogas, o estrago inerente causado como efeito colateral, não era nada saudável (e de fato, foi fator preponderante para o declínio do movimento, infelizmente).

Haviam pontos de divergência, é bem verdade. Hippies mais puristas, enxergavam os computadores como ferramentas de opressão da sociedade totalitária e consumista que abominavam. Mas é cabível considerar que no final dos anos sessenta e início dos setenta, a internet era restrita ao metier das universidades e serviço secreto governamental, portanto nem um pouco popular, e dessa forma, antipática e assustadora a serviço de forças realmente opressoras da parte de instituições governamentais.

Abro um parênteses para recomendar um filme produzido em 1970, chamado "Collosus, The Forbiden Project" (leia resenha sobre tal filme, em meu Blog 1 :http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2012/11/colossus-forbin-project-por-luiz.html), que retrata bem a maneira como os computadores eram vistos pelas pessoas naquela ocasião.  

Jobs conheceu outro hippie e gênio da tecnologia, chamado Steve Wosniak, e dessa parceria resultaria a Apple, empresa por ambos fundada e que entraria no mercado para transformar o mundo.

Ainda em 1976, criou seu primeiro protótipo de um computador para uso doméstico.

Até a metade dos anos setenta, a imagem que as pessoas tinham de computadores, era a de máquinas monstruosamente grandes, e circunscritas a salões enormes e cheios de técnicos de jalecos brancos e pranchetas à mão, fazendo anotações indecifráveis.

A ideia de ter um aparelho em casa como um eletrodoméstico, parecia apenas devaneio de filmes do Sci-Fi ou do desenho animado futurista, "Os Jetsons", onde aliás, certas coisas que eram fantasiosas na época em que o estúdio Hanna-Barbera criou tais personagens, já são corriqueiras e de certa forma até ultrapassadas na sociedade...

Em 1977, a dupla Jobs/Wozniak lançou o Apple II, o primeiro computador caseiro que apresentava imagens em cores.

Já em 1980, a empresa dos "freak brothers" Jobs & Wosniak, tinha um patrimônio de 2 bilhões de dólares, que era muito dinheiro para aquela época (e para a maioria dos pobres mortais, dos quais me incluo, continua sendo...).

Não parando de criar e ousar, vieram mais produtos e mudanças significativas que consolidaram a empresa nos anos oitenta. A ideia do "mouse", por exemplo, que Jobs assumidamente disse ter concebido após conhecer as empresas de eletrônicos do Japão e o inerente conceito oriental de miniaturização. A nanotecnologia precisava ser dominada e incorporada ao produto.

Um paradigma era o mote com o qual trabalhava : "Invenção e Inovação = execução". Essa era a diferença que transformava a ideia em realidade.

E além de pequeno e usual, o produto tinha que ser simples no seu manuseio para o consumidor leigo, tirando todo o ranço de que só "cientistas" usavam computadores.

Sofrendo pressões terríveis, Jobs acabou deixando a empresa que fundara e criou a NeXT. Anos depois, a NeXT foi comprada pela Apple e Jobs voltou à empresa que fundara, agora sendo o seu CEO.

A empresa teve novo boom de popularidade com sua volta, pois Jobs era uma estrela do mundo corporativo, muito além do conceito do bilionário bem sucedido, mas principalmente pela imagem zen que trazia, contrastando com o executivo padrão, obcecado por dinheiro e nada sensível às reivindicações socioambientais.

Pelo contrário, por ter a imagem de um Hippie "descolado", Jobs criou um conceito para a empresa, de que ela era também engajada em tais ideais e que tudo girava em torno de conceitos de fraternidade, bondade e compartilhamento.

Claro que não é bem isso, mas a imagem criada de uma empresa Hippie Chic, certamente amenizou a sua imagem e em comparação com outras mega empresas, é muito "menos odiada" por militantes socioambientais, ecomilitantes e anarquistas em geral, do que a Coca-Cola, Ford, Disney, McDonald's, os Bancos e todo o pessoal de Wall Street, sem dúvida.

Em relação à Rede Mundial de Computadores, Jobs tinha em mente o conceito de "Empacotar a Internet", para distribui-la em cada lar.

A ideia da internet ser livre, com o compartilhamento total de informações, era o sonho hippie anti-Establishment se concretizando.

De quem é o legado da civilização construída ao longo de séculos ? Não é da humanidade ? Que droga é essa de ter que pagar para obter uma informação ?

Pois é, o lado hippie de Jobs e Wosniak queria a internet livre, com cada cidadão tendo o seu equipamento livremente em casa para acessar à vontade.

Claro, o lado materialista era presente também. A internet tinha de ser livre, mas para acessá-la, você precisava ir á loja da Apple e comprar seu microcomputador. E depois os acessórios; depois os programas; depois contratar a empresa provedora da banda larga etc etc...

Enfim, Hippie até a página dois do manual capitalista, mas convenhamos, melhor isso do que o modelo que as corporações desejavam/desejam, com a internet sendo fatiada para eles a explorarem como as empresas de TV a cabo fazem quando vendem seus "pacotes", fatiando as opções para fazer com que o consumidor pague o máximo para ter direito a todos os canais, quando moralmente falando, a taxa mínima deveria dar o mesmo direito.

Isso sem contar o famigerado "Pay-Per-View", que considero um mecanismo de achaque amoral. Se você já paga por um serviço, com que direito o seu fornecedor estabelece fragmentá-lo para criar patamares de cobranças adicionais para só assim disponibilizá-los ?

Com esse precedente abominável, o que falta para cobrar o "pay-per-view advanced" ?

Seria algo como : "não basta pagar a TV a Cabo para ver um jogo de futebol ao vivo, mas na verdade, você precisa comprar o Pay-per-view. Contudo, no "advanced", o consumidor teria que pagar uma terceira taxa, para liberar o sinal do segundo tempo da partida"...

É mais ou menos o que as corporações querem fazer da Internet e espero que nossos parlamentares não cedam às pressões, mas falando realisticamente, com o dinheiro que está em jogo, alguém tem esperança que os "representantes do povo", pensem no povo, enfim ?

Bem, Steve Jobs e Steve Wosniak ficaram conhecidos pela alcunha de Lennon & McCartney da informática. Há quem discorde e ache exagerado, mas numa primeira leitura, acho que tem uma similaridade, sim, e essa atribuída escala de valores, faz sentido.

No tocante ao conceito de compartilhamento de informações, cultura & afins, a internet nasceu fechada e secreta, mas graças aos hippies nerds que se infiltraram nas universidades, o conceito Hippie de compartilhamento espalhou-se.

O que temos hoje em dia, é algo próximo do que os Hippies dos anos sessenta sonharam para o futuro da humanidade. Não é o ideal que queriam, mas hoje a temos com concessões ao capitalismo selvagem de Wall Street e seus seguidores.

Cabe à nós, usuários, pressionarmos os políticos a domarem a sua sanha e das corporações, para não haver um retrocesso total e a internet se tornar um império todo fatiado e inacessível para nós todos.

Deixo a dica de um bom documentário que assisti, para entender um pouco melhor a vida e obra de Steve Jobs, chamado : "Steve Jobs, um Hippie Bilionário" :

https://www.youtube.com/watch?v=03jV3sebUrI&feature=youtube_gdata_player

Para escrever esta matéria, tive o apoio da amiga Jani Santana Morales que deu-me valiosas dicas sobre Jobs e Wosniak. Agradeço-a efusivamente por isso.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Educando o Cidadão.

     Educando o Cidadão, texto de Luiz Domingues.

Vivemos em sociedade, em meio à inúmeras demandas. As necessidades estruturais são múltiplas para que possamos viver com conforto, bem estar, segurança e sobretudo usufruindo do meio ambiente e suas reservas naturais.

Contudo, essa equação é dificílima de se fechar, na medida em que tudo, absolutamente tudo, depende do dinheiro para ser movimentado.

Pareço óbvio falando isso, mas pense bem : se tudo depende do dinheiro, é justo que cada um dê uma contribuição pessoal para que se providencie obras fundamentais, visando suprir as necessidades de interesse de todos.

Caramba, outra obviedade. Isso existe desde a antiguidade, quando ainda nas civilizações mais rudimentares, percebeu-se que sem tal esforço coletivo, nenhuma providência para o bem estar do grupo, poderia ser feita.

Concomitantemente, a tentação de se lidar com o dinheiro arrecadado pela coletividade, era o caminho aberto para o ego humano desenvolver essa patologia chamada "corrupção", e assim a humanidade foi caminhando, nessa relação pouco saudável.

Mas esta matéria não é sobre ética, apesar de ser inevitável mencionar a questão da lisura, quando se fala de erário público, tributação e governo.

O que quero enfocar hoje é a formação do cidadão, sob o ponto de vista educacional.

Evidentemente que a sociologia engloba o assunto de uma forma muito ampla, distribuindo entre várias vertentes das ciências sociais, tais estudos que nos ajudam a entender os meandros da organização social como um todo. O que é público e o que é privado, como se complementam etc etc.

Mas como formar o cidadão comum, no básico, é a questão, pois parece ineficaz considerar que tais estudos se restrinjam aos estudantes de Ciências Sociais.

Independente de quem queira seguir esse caminho acadêmico e se especializar em suas múltiplas graduações, o cidadão médio deveria saber o básico sobre o funcionamento da máquina pública, a meu ver.

E essa máquina, é gigantesca, cheia de subdivisões e por que não dizer, contradições.

Se para um estudante de sociologia, economia, ou direito, já é complexo tentar compreender as entranhas dessa máquina monstruosa (o "monstruosa" aqui, tem duplo sentido, eu sei), imagine para o cidadão comum.

Só que tem um detalhe nessa predisposição que considero fundamental : estamos no século XXI, e não tem cabimento que o cidadão que paga impostos (e tudo o que consome é tributado, fora os impostos por bens, renda e serviços), não saiba como esse dinheiro é usado, nem com funciona a máquina pública.

Já estou imaginando leitores me achando ingênuo por escrever isso, pois há séculos que o modus operandi das autoridades é o de não explicar nada, e não favorecer nenhuma ação que propicie transparência sobre o funcionamento da máquina. 

Eu sei disso. Falo sobre o que seria ideal, não sobre o que é errado desde que a humanidade começou a organizar-se.

Quando a ditadura militar apertou para valer, após a promulgação do AI-5, os militares baixaram decreto instituindo a obrigatoriedade da matéria "Educação Moral e Cívica" no ensino fundamental (ainda no final da era do curso primário e posterior curso ginasial); "OSPB" (Organização Social e Política Brasileira"), no ensino médio e "EPB" (Estudo dos Problemas Brasileiros"), no ensino superior, além de militarizar as aulas de educação física, com a "ordem unida".

No discurso, ou desculpa para falar o português claro, a ideia era ensinar as crianças e adolescentes a conhecer o funcionamento da sociedade, mas isso era uma grande mentira.

O objetivo era outro, com a exaltação do nacionalismo, incutir valores religiosos quase explícitos, sendo que o estado deveria ser laico, e o pior de tudo, desestabilizar a capacidade de reflexão, instituindo a obediência como valor máximo a ser observado.

Para corroborar com tal estratégia, os militares instituíram licenciaturas de curta duração nos cursos superiores, quebrando os cursos de História, Geografia, e assim incentivando a formação de professores muito despreparados para ministrar as aulas de Educação Moral e Cívica nas escolas, o mais rápido que podiam.

Quando a ditadura acabou, tais cursos foram suspensos, enfim.

Não sou professor, portanto não tenho elementos para opinar com profundidade sobre a pedagogia.

Todavia, tenho em mente, que o cidadão tem o direito de entender o funcionamento da sociedade, desde o ensino básico, pois é condição básica do exercício da cidadania.

Se alguém joga um papel de bala na calçada, precisa ter a consciência do dano ambiental que aquilo causa à coletividade. Por exemplo, se as pessoas tivessem a consciência de que é errado jogar lixo nas ruas, quanto economizaríamos com as enchentes que atormentam as cidades a cada temporal ?

Se não houvessem enchentes, quanto se economizaria em saúde pública, considerando que enchentes são caldos asquerosos e repletos de bactérias ?

Quanto a zoonose gastaria menos, não tendo a proliferação de insetos, ratos e baratas que tal sujeira causa ?

Esse exemplo do papel de bala, é só um item dessa equação. Quantas outras questões de civilidade não poderiam ser tratadas em sala de aula, desde a tenra infância ?

E a máquina em si, como funciona ? 

O que faz exatamente o prefeito, o governador e o presidente ? Como se arrecadam os impostos e como se distribuem entre as três instâncias ?

Qual é o papel do legislativo ? Para que serve um vereador, deputado estadual, deputado federal e senador ?

O que são as secretarias que servem o poder executivo ? Para que servem os ministérios ?

O que é o tribunal de contas ?

Quem define a saúde, agricultura, segurança ?

Quem traça os planos da educação, infraestrutura, abastecimento, energia ?

O que é o Ministério Público, o que é defensoria ?

O que são autarquias ? 

Aposto que 95 % (ou mais), das pessoas que foram ás ruas na onda de protestos de 2013, não sabem responder essas perguntas, infelizmente.

E se no bojo, eu reconheço que os protestos tinham a legitimidade democrática de demonstrar a insatisfação generalizada, tais protestos pareciam uma briga de bêbados no escuro, tamanha a confusão que denotavam, com pessoas protestando sem um critério adequado, cobrando reivindicações de autoridades que nem tratam dos itens que estavam lhe cobrando.

Pedir para o prefeito abaixar o preço das hortaliças nos supermercados ou para o presidente cuidar da segurança pública, ou mesmo o governador tomar providências sobre o mau estado das estradas federais, são exemplos clássicos de confusão que as pessoas fazem sobre a atribuição de cada instância.

E não para por aí. Cobram posturas dos parlamentares, como se fossem do executivo e vice-versa. Cobram da polícia providências que são concernentes ao judiciário etc etc.

Portanto, sou a favor da matéria de estudos sociais, nas escolas fundamentais e médias, mas sem aquele ranço de interesses escusos da ditadura militar com sua "Educação Moral e Cívica", mas sim criando um conteúdo onde fosse explicado aos jovens, como funciona a rés pública e como devemos ser solidários para ter o melhor convívio possível, levando o país, enfim, para o padrão de 1º mundo.

Fazê-los entender que a cidade é uma extensão de nossa residência, é fundamental. Quebrar o paradigma de que a rua não merece consideração porque "não é de ninguém", além de contribuir para transformar a cidade num lixo decadente, é um caminho permanente para a roubalheira da corrupção (sei que existem outros fatores e não é só isso que acabaria com a corrupção).

Quando cada cidadão considerar a rua como sua casa, de fato, a mentalidade generalizada vai ser a de querer manter tudo limpo, o tempo todo. Bem iluminado, com equipamento público em perfeito funcionamento e isso gera baixa criminalidade, ausência de vandalismo, solidariedade, fraternidade etc.

Utópico em primeira leitura, eu sei. Mas se em países como a Nova Zelândia, Dinamarca, Finlândia, Canadá, Alemanha, Austrália, Bélgica, França e outros, isso que descrevi é quase uma realidade, penso que o segredo é a educação e troca de paradigma.

Talvez demore para chegarmos nesse patamar, mas não acho impossível. Veja o exemplo da Coréia do Sul e o salto que deu quando passou a investir pesado na educação.

A própria revitalização de Seul, com a despoluição do rio Han, é um exemplo. Até bem pouco tempo atrás, era um rio putrefado como o Tietê, com o povo acostumado a jogar detritos nele, como se não se importassem com sua morte.

Quando o rio passou a ser encarado como um patrimônio da cidade, tudo mudou.

A transformação da sociedade começa na mudança individual do cidadão.

Mesmo porque, se eu não ligo para a minha cidade ( e por extensão, estado ou país), abro o caminho para que as autoridades também pensem igual, e com aquela montanha de dinheiro arrecadado nos cofres públicos...

E tem um dado a mais : De onde vem os políticos ? De onde saem os funcionários públicos de carreira ? De onde saem os parlamentares, e os membros do judiciário ?

Pois, são pessoas como nós, do mesmo povo...

E se a mentalidade do povo é a de não considerar o bem público, por que você acha que eles pensariam diferente, se são pessoas da mesma formação cultural, educacional e nacional ?

O que adianta cobrar seriedade e lisura, se você continua passando o semáforo vermelho, acha normal jogar lixo na rua, não economiza água, desperdiça comida, não respeita filas, destrata pessoas humildes e idosos etc etc etc ?