Nossos melhores cérebros, a serviço dos outros..., um texto de Luiz Domingues.
A expressão “Brain Drain”, criada pelos americanos, reflete e explica muito de sua grandeza como potência, ou melhor, maior potência do Planeta.
O que faz com que um país, seja considerado do seleto rol do “Primeiro Mundo” ?
São muitos os indicadores, naturalmente. Os óbvios (economia & lastro; instituições fortes; poderio bélico; organização social; tecnologia; educação; setores produtivos etc), e também os mais sutis, que ficam na retaguarda de toda a sociedade, caso dos ditos “melhores cérebros”, ou trocando em miúdos, profissionais altamente gabaritados sob o ponto de vista intelectual e consequentemente, com o melhor nível de capacitação, prontos, portanto para dar o melhor de si para a cadeia produtiva pública ou privada.
Essa é uma das chaves para o sucesso de uma nação e o óbvio investimento em educação de máxima qualidade é um caminho para chegar nesse ponto.
Mas o outro lado, o “Dark Side” (não o do Pink Floyd, que mediante um prisma vira multifacetado), mas um dispositivo bastante comum e aceitável dentro dos parâmetros do megacapitalismo : Não basta formar grandes cérebros, mas cooptar os cérebros brilhantes alheios, também.
Não acho isso um demérito, que fique claro. Quem reúne as melhores condições, tem mais é que contratar os melhores profissionais.
Quando éramos crianças, escolhíamos nossos times de futebol nas aulas de educação física, mediante o sorteio de par e ímpar, e a cada escolha do adversário, escolhíamos o próximo jogador para o nosso time, baseado no critério evidente de buscarmos a melhor qualificação possível, reforçando nosso time com os melhores jogadores.
Nesse caso, o padrão de equilíbrio, era o sorteio promovido pelo professor, evitando que um time ficasse absurdamente mais forte que o outro, fazendo com que o jogo perdesse o poder de disputa, e abrindo caminho para o estímulo ao Bullying, por outro lado.
Mas na vida comum, esse fator de equilíbrio não existe e na selva de pedra, vence o instinto de sobrevivência.
Nessa linha de raciocínio, não enxergo como antiética a postura de atrair os melhores cérebros do planeta para reforçar os quadros da pesquisa tecnológica de ponta, e com tal contingente de gênios trabalhando em equipe, não há como uma nação não impor-se no cenário mundial, com postura de liderança.
O grande dilema para os países mais debilitados é criar mecanismos para que seus melhores cérebros fiquem e trabalhem em seus respectivos países.
Falando especificamente do Brasil, é histórica a relação de descaso com a educação, ao longo da história.
É importante ter em mente que os grandes cérebros a serem trabalhados, começam na tenra infância, e não apenas na graduação final nas universidades.
A base, na cadeia educacional, começa pela pré-escola, com uma capacitação excelente no desenvolvimento cognitivo das crianças, desde o berço, mentalidade que é comum num país de alto grau de desenvolvimento, como o Japão, por exemplo.
O ensino fundamental tem que receber uma profunda reformulação pedagógica, passando pela reformulação da didática; conteúdo; estímulo à capacidade criativa e reflexiva das crianças e adolescentes etc.
Nas universidades, o estreitamento da relação entre elas, instituições de ensino, com a sociedade, tem que ser total.
De forma tímida, existe tal conexão, via associações de indústria e comércio, como Fiesp e Fierj, por exemplo, mas isso deveria ser multiplicado à décima potência.
O governo precisa dar mais ouvidos aos Think Tanks, buscando essa inteligência sociológica e logística, na condução de sua política estratégica.
Já temos ótimos exemplos de polos de tecnologia de ponta, em que gente brilhante vem trabalhando e agregando, caso de cidades como Recife e Campinas, mas num país das dimensões e potencialidades do Brasil, isso precisa se multiplicar de forma epidêmica, espalhando-se por todos os quadrantes, do Oiapoque ao Chuí, literalmente.
Formar, capacitar e estimular os melhores cérebros a ficar no país e usar sua capacidade dentro de nossa economia e não a serviço de nações estrangeiras, se faz mister.
E tudo começa e acaba na grande chave do desenvolvimento de uma nação : Educação.
O restante, vem por dedução óbvia, com indústria; comércio e agricultura de ponta; instituições fortes; economia sólida; democracia inabalável e blindada contra radicalismos atrasados, sejam de extrema direita ou esquerda; investimento maciço em cultura; ações concretas de cidadania, ecologia e sustentabilidade; forças armadas bem equipadas, com o máximo de inteligência tecnológica e motivadas para trabalhar pela nação e jamais serem usadas para manobras políticas golpistas perpetradas por radicais infiltrados em suas fileiras; reforma fiscal, política, do código criminal; etc etc.
Essa é a cartilha que impulsionou a grandeza das nações de primeiro mundo, e antes que me chamem de ingênuo, pois é óbvio que existe também o “Dark Side”(aí sim, o lado obscuro, mesmo), com corporativismos; intervenções invasivas na autonomia dos países pobres via belicismo; reserva de mercado; sanções econômicas e pressão política de toda sorte e geralmente antiética, é fato que tudo isso foi gerado graças aos cérebros privilegiados.
Um exemplo clássico, se deu no término da Segunda Guerra Mundial, quando os melhores quadros da inteligência que servia ao nazismo, foram convidados a trabalhar para os americanos, vide Van Braun e outros tantos.
Cérebro privilegiado move o mundo para frente, portanto, o desafio é não deixar que nossos melhores saiam, para trabalhar a favor dos outros.