terça-feira, 30 de julho de 2013

Cidade Dormitório.

      Cidade Dormitório , texto de Luiz Domingues.

Vivemos tempos difíceis no quesito mobilidade urbana. Com as cidades cada vez mais inchadas, o trânsito caótico piora, transformando a rotina dos trabalhadores, um inferno cotidiano.

Ações são discutidas por técnicos para melhorar o deslocamento das pessoas nas cidades, mas a complexidade de tal engenharia de trânsito, torna-se muito difícil de ser equalizada, quando a realidade nos mostra que na cidade de São Paulo, por exemplo, cerca de 800 novos carros são emplacados pelo Detran, diariamente...

Vi uma estatística dando conta de que uma cidade do porte de Araçatuba (cerca de 300 mil habitantes), se desloca diariamente para São Paulo, vindo de cidades vizinhas, para trabalhar na capital.

No Estado do Rio, é clássico o exemplo da cidade de Duque de Caxias, onde quase 90 % de sua população precisa trabalhar na cidade do Rio, por falta de melhores opções de empregos.

Como se não bastassem todos os problemas, a questão política é um fator desanimador para quem sonha com dias melhores no trânsito.

Interesses obscuros fazem com que as ações dos governantes não afunilem-se em torno de uma meta, e isso só gera mais frustração.

Claro que o ideal é que cidades de mais de 500 mil habitantes tenham uma rede de metrô eficiente. Mas o que observamos é uma ação de tartarugas para construir metrô em poucas cidades e para piorar, de forma totalmente insatisfatória.

Corredor exclusivo para ônibus, é um outro exemplo de necessidade para lá de urgente, com a possibilidade desses coletivos andarem mais rápido, deslocando um número maior de pessoas, e tirando carros particulares das ruas.

Intregração con trens de subúrbio e incentivo ao uso de bicicletas, também são importantes, com a ressalva de que no caso das bicicletas, a criação de ciclovias seguras, se faz mister.

Repensar a questão tributária dos taxistas, dando-lhes a oportunidade de minimizar custos e por conseguinte, trabalhar com uma tarifa reduzida ao passageiro, é outra medida importante. Nesse caso, até a criação de uma tarifa especial de combustíveis, seria bem vinda e com a perspectiva do Pré-Sal, por que não ?

Tudo isso é discutido em profusão por vários setores da sociedade civil, ainda que o governo muitas vezes desconverse...

Mas existe um outro elemento nessa equação, que seria vital para desatar esse nó cruel que atormenta milhões de pessoas : a questão da cidade dormitório.

A vida é cara e para poder arcar com a despesa de moradia, muitas vezes as pessoas precisam submeter-se à morar muito longe de seus locais de trabalho.

Qual a lógica de se morar num determinado bairro e ter que deslocar-se com enorme sacrifício, para trabalhar num outro bairro longínquo ?

E o caso de pessoas que trabalham diariamente em outras cidades ?

Numa estrutura social caótica como a do Brasil, tudo parece responder à fatores aleatórios.

A pessoa mora longe, por que não tem como manter-se num bairro mais próximo do centro de sua cidade, e a questão do emprego é vista como um eterno "pegar ou largar", sem dar opção de escolha ao cidadão.

Dessa forma, criou-se essa caótica forma de deslocamentos, onde o que deveria ser o padrão, é tido como um golpe de sorte, para poucos e equivalente a tirar a sorte grande de um jogo de loteria.

Trabalhar e morar no mesmo bairro, passou a ser um privilégio de afortunados.

Pois os governantes deveriam consultar os urbanistas com maior atenção e repensar.

A geração de empregos privilegiando trabalhadores do mesmo bairro, deveria ser plano de governo, como prioridade.

Deveria ser tratada como meta de incentivo às indústrias, comércio, rede de serviços e outros empreendedores, no sentido de priorizarem a contratação de profissionais do mesmo bairro de suas sedes.

Se muitas pessoas passarem a trabalhar perto de suas residências, não é só o trânsito que melhora.

É óbvio o benefício humano, com o aumento significativo da qualidade de vida.

Tirando as pessoas do sufoco da "hora do rush", sobra tempo para lazer, cultura, tempo com suas famílias, prática de esportes etc.

Não consigo imaginar o caos do trânsito melhorar, sem que os governantes trabalhem todas essas ações conjuntamente.

Todavia, uma das mais importantes sem dúvida, é acabar com esse conceito de "cidade dormitório", onde o cidadão é massacrado por uma rotina de deslocamentos que lhe antecipa a velhice em muitos anos, numa subtração desumana.

6 comentários:

  1. Oi Luiz, em janeiro deste ano vi no programa Roda Viva o pensador e sociólogo italiano Domenico de Masi falar sobre o ócio criativo. Lá defende que o Brasil tem todas as condições para desenvolver um capitalismo moderno e mais humano. bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Infelizmente, não assisti esse debate, e portanto não posso opinar com propriedade sobre o que disse o sociólogo Domenico de Masi.

      Mas mesmo assim, acho perfeitamente plausível que o Brasil atinja esse patamar, um dia...

      Obrigado por ler e comentar !!

      Excluir
    2. Um dos pontos que ele abrange, refere-se à internet, à tecnologia de ponta e a possibilidade do cidadão trabalhar em casa, sem ter que enfrentar o trânsito caótico, minimizando gastos, tempo e situações de stress (congestionamentos, chuvas, pontos de alagamentos etc). O empresário atual deveria ter um olhar para o futuro e não ficar preso à velha lógica empresarial. Bj

      Excluir
    3. Sensacional, Lourdes !

      Esse ponto é crucial para desfogar o trânsito, melhorar a qualidade de vida das pessoas e levar vida aos bairros.

      Apoiado !!

      Excluir
  2. Oi, Luiz

    Que ótimo texto!
    Eu já disse a você que não gosto de São Paulo. Na verdade, eu gosto. O que eu não gosto é desses problemas que você cita.
    Creio que é possível melhorar São Paulo, com algumas sugestão que você dá.
    Minha manicure mora próxima à Represa de Guarapiranga. Para vir trabalhar, ela leva uma média de 1 hora e meia a 2 horas no trânsito, e outras tantas para voltar. Ou seja, são quase 3 a 4 horas no ônibus, por dia!!! Um absurdo.
    Perguntei por que ela não trabalhava perto de casa, ou na própria casa. Ela disse que não é possível, pois ganharia muito menos, e não daria para se sustentar. No entanto, ela só vai para casa para dormir. E ela não tem a menor condição de pagar um aluguel no meu bairro, pois é caro demais para ela.
    Porém, como fazer os responsáveis pelo governo entender tudo isso, e agir corretamente?
    Difícil.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Infelizmente, essa dinâmica da antilogística é praticada no Brasil como um tôdo. Em cidades grandes, isso se acentua muito mais e daí fica a percepção de que só ocorre nas mega-cidades, quando na verdade, é um problema urbanístico generalizado.

      Falta empenho, falta interesse político, enfim...

      Se essa equalização fosse mais inteligente, mataríamos dois coelhos com um tiro só, ou seja, a questão do trânsito caótico, e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

      Muito grato por ler e comentar !!

      Excluir