quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Um Talento na U.T.I.

Um Talento na U.T.I. , texto de Luiz Domingues.

Houve uma época no Brasil, onde a poliomielite (popular "paralisia infantil"), era epidêmica.

Doença perigosa, que paralisa membros e tende a ser muito dura com as crianças, foi aos poucos sendo erradicada, graças aos esforços dos orgãos de saúde pública, promovendo ações de vacinação em massa.

Infelizmente, alheio à esse esforço, um garotinho chamado Paulo Henrique Machado, não teve a sorte de escapar de tal flagelo.

Sua mãe morreu apenas dois dias depois de seu nascimento e com um ano e meio, teve a infelicidade de contrair a doença.

Dessa forma, foi internado no Hospital das Clínicas de São Paulo, pois além de ter perdido o movimento de pernas e braços, precisava de cuidados respiratórios, pois seu pulmão também estava comprometido.

Dessa forma, o pequeno Paulo foi ficando na U.T.I. do Hospital das Clínicas, pois não havia meios de ter tais cuidados em sua casa.

Crescer dentro de um ambiente de U.T.I., tendo sérias dificuldades de locomoção e respiração, não foi fácil para o pequeno Paulo Henrique, todavia, o menino apresentava uma incomum disposição e alegria.

Mesmo com as dificuldades inerentes às consequências da doença, Paulo não se furtava de brincar e interagir com as demais crianças internadas e sua inteligência desde sempre, era fora do comum.

Uma de suas mais remotas lembranças, vinha de uma TV em preto e branco, onde assistira com vívido interesse, a chegada do homem à Lua, em 1969.

Desse estopim remoto, nasceu seu interesse pela tecnologia, Sci-Fi e ciência em geral.

O tempo foi passando e Paulo tornou-se adulto, mas sua vida não mudou, precisando dos cuidados do Hospital das Clínicas, que efetivamente estabeleceu-se como o seu Lar.

Com a popularização da tecnologia, Paulo adaptou-se rapidamente ao uso da informática e dessa forma, tornou-se um Web designer muito eficiente.

Ganhou seu primeiro PC, em 1994, mas era um modelo rudimentar e limitado.

Dessa maneira, tratou de montar um novo PC, sozinho, só indicando as peças que visualisava para tal montagem.

Hoje em dia, cada vez mais embrenhado nas possibilidades do mundo virtual, Paulo Henrique está com um projeto ambicioso, neste momento.

Está criando uma animação em 3D, cujos personagens são deficientes físicos.

Claro, precisa de recursos financeiros para tal empreitada e daí, fica a inevitável pergunta : Será que nossos governantes não poderiam dar uma ajuda para um projeto desses ?

Não quero ser oportunista, mas acho um pouco injusto um talento como o de Paulo Henrique Machado ficar obscurecido, enquanto bilhões de reais são gastos na construção/reforma de estádios de futebol.

Aos que poderiam contra-argumentar que uma coisa não tem nada a ver com a outra, eu pontuo a questão da falta de planejamento e nesse caso, a inexistência de prioridade para a cultura, educação e ciência.

Finalizando, Paulo Henrique Machado é mais um caso de talento desperdiçado e sendo assim, numa época onde o povo clama por mudanças, entra fácil para o rol das novas prioridades de um Brasil diferente, e que precisa valorizar seus melhores cérebros.

4 comentários:

  1. Muito triste e emocionante a história de vida de Paulo Henrique Machado. Luiz!
    Eu me coloquei no lugar dele, apenas por três minutos e já fiquei imaginando como é terrível morar em uma UTI de um Hospital.
    Já estive hospitalizada para fazer duas cirurgias e dois partos no decorrer da minha vida. Fiquei no máximo três dias dentro de um hospital. E em quarto. E mesmo assim , contava as horas e minutos para sair daquele lugar tão triste e sombrio.
    Fico pensando... O Hospital das Clínicas, conhecido como o maior complexo hospital da América Latina. Um hospital que socorre milhares de brasileiros, onde existem médicos e equipamentos qualificados, não tem alguém que possa entrar em contato com nossos governantes, para ajudar Paulo Henrique nesse trabalho?
    Infelizmente como vc mesmo diz... Um caso de talento desperdiçado.

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    1. Oi, Elisabete !

      De fato, muito triste nascer com, ou adquirir uma doença degenerativa, na tenra infância.

      No caso do Paulo Henrique, seu caso é extraordinário no sentido de nos mostrar que sempre há esperança de uma vida criativa.

      Quanto ao HC, creio que cuidam muitíssimo bem dele, fazendo inclusive que seu quarto de UTI, seja de fato, um Lar, com todo o confôrto e equipamentos para que ele pudesse ter estudado e se tornado um grande profissional.

      Eles tentam ajudá-lo além disso, mas as "otoridades" que vivem cegas, surdas e mudas na sua sanha palaciana, é que não estão nem aí, para ele...

      Obrigado por ler e comentar !!

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  2. Oi, Luiz

    Já conhecia a história do Paulo Henrique.
    Acho que muita gente deveria saber da vida dele.
    Soube que ele consegui dinheiro, através de doações. O governo não ajudou nada... como sempre.
    E li que ele tem tido apoio de uma equipe do Senac, para fazer as animações, e que Carlos Saldanha, responsável pelo filme Rio, e pela distribuição de A Era do Gelo tem entrado em contato com ele.
    Às vezes, esse tipo de pessoas acabam tendo mais chances de quem não tem problemas físicos, sabe? Mas, quase nunca do governo, e sim de pessoas sensíveis e compreensivas.
    Um grande abraço!

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  3. Oi, Janete !

    Minha motivação em escrever sobre esse rapaz, teve essa conotação, sem dúvida. Como pode uma pessoa que tem tantas dificuldades decorrentes de uma doença degenerativa grave, ser tão esforçada ao ponto de se tornar um profissional gabaritado ?

    Pois é...o talento supera a adversidade, e esse mérito é todo dele.

    O contraponto triste, é não haver esforço das autoridades, para lhe dar um suporte, mínimo que seja, para que seu talento fosse ainda melhor aproveitado.

    E dou o devido desconto ao fato dele ter o apoio do HC, um orgão estatal, e ligado ao governo estadual.

    Não sendo injusto, há esse apoio, claro ! E não é pouca coisa, diga-se de passagem.

    Todavia, poderia haver muito mais apoio, no campo cultural e tecnológico, fora o acolhimento nas dependências do HC.

    Indo além, acho que poderiam comissioná-lo como um funcionário de alguma estatal ligada à cultura, educação e/ou tecnologia, onde sua capacidade criativa seria útil ao estado, beneficiando-nos, por extensão.

    Mas, ainda bem, essa notícia que nos passou como adendo, sobre o animador Carlos Saldanha, e o Senac estarem apoiando-o, é sensacional.

    Obrigado por ler e comentar !

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