terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Mobilidade Urbana.

  Mobilidade Urbana, texto de Luiz Domingues.


Muito se tem falado sobre o estrangulamento do trânsito nas megacidades, mas a verdade é que esse problema já se espalha também por cidades de menor porte.

A falta de investimentos maciços em transporte público, por parte dos governantes, aliado aos interesses da indústria automobilística, sem dúvida que são fatores que impulsionam esse colapso.

Em diversas outras matérias que escrevi, abordando nuances dessa problemática, sempre deixei cravada a opinião de que uma ação isolada não resolve um nó dessa magnitude.

O investimento maciço no metrô, parece ser a medida número um nessa equação, mas como já salientei, não é a única.

O apoio de uma integração com os trens de subúrbio, é necessário e não descarto a existência dos aerotrens, fazendo interligações inteligentes interbairros.

Nada disso basta, pois não podemos abrir mão dos ônibus tradicionais e para tanto, a experiência da abertura de corredores exclusivos, com a possibilidade de tais veículos andarem mais rapidamente, é fundamental.

Nesse quesito, a prefeitura de São Paulo tem agido corretamente em forjar tal prática, ainda que tenha gerado alguns transtornos inevitáveis no processo de implantação. Numa cidade gigantesca como São Paulo, parece inevitável que qualquer medida que se tome, pode desagradar um grupo de pessoas, mas não tenho dúvida que corredor exclusivo, é imprescindível.

A experiência de cidades como Bogotá, na Colômbia e a Cidade do México, capital do país asteca, tem que ser usada como exemplo, onde os corredores tem centenas de KMs, em apoio ao Metrô.

Sobre a questão das ciclovias, também já falei bastante e tem muito ciclista que não entende certas colocações de minha parte. Já deixei muito bem explicado, mas reitero : Acho que o incentivo à prática do ciclismo urbano, tem que ser total por parte do poder público, desde que se criem ciclovias seguras e muito bem sinalizadas.

Mas deixo a ressalva de que os ciclistas precisam urgentemente conhecer a regulamentação que lhes cabe dentro do Código Brasileiro de Trânsito. Não respeitar os sinais básicos de trânsito, como o semáforo; indicação de faixa de segurança para pedestres e circular sobre calçadas, é abominável como conduta de civilidade, cidadania e respeito ao próximo.

Outra questão que defendo com ênfase, é o incentivo ao uso dos táxis. Se a tarifa do táxi fosse mais convidativa, quantos carros particulares não sairiam das ruas ?

Em conversa com taxistas amigos, sei que a reivindicação deles por melhores condições de trabalho, passa além da redução do preço dos combustíveis para a categoria, e dos impostos na hora da aquisição do carro novo. Para poder abaixar a tarifa, defendem um programa de auxílio manutenção.

Convenhamos, o desgaste de um táxi vai muito além do carro particular de passeio e não acho absurda a reivindicação deles, pelo contrário.

O governo que mais se preocupa em arrecadar com a obrigação da inspeção veicular, poderia bem usar essa estrutura montada para arrancar dinheiro extra dos proprietários de veículos (é bem sabido que o IPVA já deveria garantir essa inspeção, não é mesmo ?), dando suporte mecânico mais em conta para os taxistas.

Outra medida que poderia funcionar, é a da proibição sumária de tráfico de veículos particulares por ruas do centro da cidade, com a volta dos bondes urbanos.

Se os bondes nunca deixaram de funcionar, e pelo contrário, são funcionais e charmosos em cidades europeias, não vejo por que não poderiam voltar a operar em percursos de pequeno porte e desafogando assim as entupidas ruas do centro, de cidades como Rio e São Paulo, só para citar duas que estão caóticas pelo acúmulo de carros nas ruas.

A verdade é uma só : Se o transporte público fosse abundante e de qualidade, muita gente deixaria o carro particular na garagem e só o usaria para passeio no final de semana.

Se não o fazem, é porque querem evitar o sufoco de serem espremidos como sardinhas dentro da lata.

Se conseguem sentar-se decentemente, com limpeza e iluminação adequada, sinalização e sobretudo com abundância de opções e tudo sem esperas descomunais, as pessoas perderiam o receio de usar o transporte público.

Mas aí...a indústria automobilística não iria gostar muito de vender menos carros, e como um efeito dominó, ameaçariam demitir funcionários das montadoras. O governo corre para socorrer a indústria e não vai querer queda da taxa de empregos e consumo. Políticos não vão gostar de ter corte de verbas para suas campanhas eleitorais...

É como a velha propaganda daquele biscoito/bolacha : "Vende mais porque é mais fresquinho, ou é mais fresquinho justamente por vender mais" ?

6 comentários:

  1. Concordo plenamente. O Brasil precisa investir mais em transporte público. Está cada vez mais caótico enfrentar o trânsito nas grandes metrópoles e até nas pequenas cidades.
    Mas é como você externalizou, falta interesse político em colocar essa ideia em prática, tendo em vista que o investimento em transporte público afeta as ambições da indústria automobilística. E por outro lado, poucos políticos estariam inclinados a enfrentar tal setor, perdendo, inclusive, financiamentos de suas campanhas.
    A única forma de modificar essa situação é mediante a participação popular.
    Ademais, parabéns pelo texto amigo.
    Abraços, Alana.

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    1. Fiquei muito contente com a sua participação, amiga Alana, ainda mais trazendo ponderações tão sensatas na sua explanação.

      Não tenho muito o que acrescentar, pois você enfocou bem a problemática da falta de investimentos sérios por parte dos governantes, justamente por afrontarem interesses de poderosos que financiam suas respectivas campanhas políticas...

      Muito grato por ler, participar e elogiar !

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  2. As indústrias compram as pessoas com poderes legais, que poderiam implementar as suas sugestões, Luiz. Outro fator, é a falta de seriedade dos brasileiros "comandantes". Aliado à isso temos a superpopulação, fator número 1 do caos reinante, principalmente ao se concentrar em megalópoles, como São Paulo e outras. Minha opinião para resolver isso é: Seriedade dos dirigentes, cultura ao povo ara saber quem os comanda, e controle da natalidade. Imagine daqui há 20 anos....super - ultra população.....Não temos espaço físico interminável. Cabe ao governo criar normas e leis e implementá-las na prática: Seriedade nas ações, controle da natalidade, cultura ao povo. Mas, tudo isso, para a próxima geração. No momento, impera o caos, e parece que será longo o seu mandato.

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    1. Você tocou num ponto muito importante e que ninguém gosta de citar : de fato, a questão da natalidade deveria ser bem pensada no Brasil, mas por sermos um país de fortes tradições de ordem judaico-cristãs, tal assunto é tabu.

      Se não houver um controle, ainda que moderado, tendemos a ter os mesmos problemas que países como China e India, já apresentam há muitos anos, em muito breve.

      E nesse aspecto, o caos no trânsito será incontornável.

      Muito grato por ler e opinar com propriedade !

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  3. Luiz, assunto espinhoso e essencial. Bem, para São Paulo não vejo muitas alternativas a não ser investimento maciço em metro. Sabes que viajo muito por ai, e cidade grande sem metro decente não dá. Outros aspectos são a danosa aposta do governo federal no consumo interno ao zerar o IPI dos veículos e abarrotar as ruas com carros enormes que ocupam espaço, prejudicam o trânsito, consomem muito; mais a falta de educação dos motoristas e a contraditória e populista criação de faixas de ônibus em avenidas que não têm o número de linhas que justifique isso: um exemplo, avs Sumaré e Dr. Arnaldo que andavam bem e hoje são congestionadas praticamente o dia todo. Na real, fata seriedade aos nosso políticos e gestores. Abração, Dum.

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  4. Dum :

    Concordo contigo, apesar de ser um defensor de um plano multifacetado como único meio de desatar o nó no trânsito, a prioridade máxima tem que ser o Metrô. E sem ser partidário, mas fazendo o contraponto à sua bronca com o PT no governo federal, eu tenho tolerância zero com o PSDB, pela condução muitíssimo equivocada da administração de São Paulo. Qual a desculpa para tão pouco metrô na capital ? 5 mandatos consecutivos representam uma eternidade e com o maior orçamento estadual do Brasil em mãos, comparativamente, tem atuação pífia, para não dizer criminosa nesse quesito.

    Verdade, o governo federal incentivou a compra de carros via isenção do IPI, mas na ponta do lápis, nem o IPVA mais caro do Brasil e a presença de pedágios extorsivos a cada 40 KM nas estradas paulistas, obra do tucanato crônico que domina SP há mais de vinte anos, parece ter inibido o acúmulo de veículos particulares no nosso estado e na nossa cidade.

    Sou muito favorável à presença de faixas exclusivas para ônibus, ainda que estejam sendo implantadas na marra, causando tumultos. Não acho tal medida populista, não. É um convite para que se deixe o carro na garagem e se ande mais de ônibus, que realmente ganharam em mobilidade. Concordo no entanto, que tal ação foi atabalhoada e tenha causado tumulto nos primeiros dias.

    Medidas drásticas causam tumultos e algumas pessoas podem ser prejudicadas em primeira instância, mas não vejo outra forma de tentar-se dar uma melhora no caos.

    Falta o governo estadual se mexer e acelerar as obras do metrô e parar de enganar a população com maquiagens, fazendo-nos crer que a CPTM também faz parte do metrô, o que não é verdade. E o mesmo vale para o monotrilho.São apoios importantes, mas o metrô precisa ser subterrâneo e cruzar a cidade em 600 km de extensão, nos moldes de Londres, Paris e Nova York.

    Grande abraço !!

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