terça-feira, 24 de setembro de 2013

Cassinos, Por que Não ?



                        Cassinos, Por que não ? , texto de Luiz Domingues.



Houve época no Brasil, onde haviam mais de 70 grandes cassinos em plena atividade.

Alguns, extremamente glamourosos, como o histórico Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, e o Quitandinha, em Petrópolis, no mesmo estado do Rio.

A existência de shows musicais, era um grande mote adicional ao óbvio interesse pelas roletas, e outros jogos ali existentes, e nesse sentido, muitos artistas fizeram história, como por exemplo, Carmem Miranda, que causava furor nas noites do Cassino da Urca.

Mas um dia, o presidente Eurico Gaspar Dutra, baixou decreto extinguindo-os, causando assim a bancarrota de vários empresários, fora o desemprego de milhares de trabalhadores que deles dependiam, e num efeito cascata, prejudicando a classe artística, fornecedores, e serviços indiretos relacionados.

Motivo da proibição : Os cassinos seriam "antros de perdição", atentando aos "bons costumes" da sociedade brasileira.

À boca pequena, dizia-se que tal determinação de Dutra, teria sido pressão de sua esposa, uma senhora extremente religiosa, e que se incomodava muito com a existência de cassinos no Brasil.

Paralelamente à essa proibição de 30 de abril de 1946, o jogo do bicho seguia proibido, mas incólume à vigilância da Lei, fora a loteria federal, administrada pela Caixa Econômica Federal, provando que tal medida de Dutra, era uma tremenda de uma hipocrisia.

Outro argumento forte, era o óbvio : Se em países europeus e nos Estados Unidos, os cassinos seguiam a todo vapor, sem questionamentos pseudo-moralistas e/ou religiosos a lhes impingir restrições, por que no Brasil isso estaria acontecendo ?

Mas por aqui, a despeito do glamour de Mônaco, Estoril ou de Las Vegas, a Lei tornou-se imutável, atravessando décadas, apesar das pressões de empresários interessados em retomar a sua exploração. Por que ?

No final dos anos sessenta, a Caixa Econômica Federal lançou um novo jogo, chamado "Loteria Esportiva", baseado nos resultados dos jogos de futebol. Virou uma febre, que movimentou o país por pelo menos dez anos, até que foi lançando outros jogos oficiais, estes baseados em sorteio de números.

Por conseguinte, deduz-se que a existência de tantos "jogos de azar" oficializados, e controlados por um banco estatal, não traz prejuízos morais à sociedade moderna, certo ?

Nos anos noventa, houve um "boom" de aberturas de casas de bingo oficializadas, mas em algum momento posterior, falcatruas perpetradas por maus empresários, fizeram com que o governo tivesse a providência de fechá-los, portanto, era uma perspectiva muito diferente das razões que levaram Dutra a proibir os cassinos em 1946.

Agora, em plena segunda década do século XXI, parece incrível que tal proibição continue em vigor.

A argumentação de que o jogo vicia, e pode destruir uma pessoa e por tabela, desmantelar famílias, é válida até certo ponto.

Não obstante o fato de eu concordar que exista essa possibilidade, acho que vivemos uma fase da civilização, onde não há nenhum cabimento em vivermos sob a tutela de um estado autoritário, que diga o que as pessoas podem ou não fazer de suas próprias vidas.

Cabe ao governo, isso sim, prover a saúde pública de uma estrutura que possa sim, ajudar pessoas que não conseguim controlar-se a contento, e portanto, tenham prejuízos psíquicos, com a sua inabilidade de lidar com a tentação dos jogos.

Proibir a existência de cassinos, parece ser tão prosaico, quanto um marido inseguro mandar queimar o sofá de casa, como forma de coibir que a esposa o traia...

Num país de dimensões continentais como o Brasil é, e apresentando uma costa exuberante de mais de 8 mil Km de extensão, retomar a história dos cassinos, seria um impulso enorme ao turismo.

Empregos diretos e indiretos seriam criados, com uma rede de serviços; hotelaria de alto nível; atrações musicais e shows de stand-up comedy, abririam novos espaços para artistas e técnicos.

Agregariam-se lojas de souvenirs, restaurantes e lanchonetes. Passeios e atividades poliesportivas poderiam ser agregadas, em pacotes turísticos.

Enfim, seria um fomento ao turismo, com incalculável fonte de arrecadação, atraindo mais turistas estrangeiros, e portanto, despejando dólares e euros, na nossa economia.

Quanto à possibilidade de viciar uma pessoa, sim, é possível. Mas a cada esquina tem uma agência lotérica oficial, e não vejo ninguém reclamando disso...

Está mais do que na hora de abolirmos a hipocrisia na sociedade.

Vai quem quer, e nenhum governo deve determinar se isso é certo ou errado, tratando o cidadão como uma criança pequena, e incapaz de fazer suas próprias escolhas.

5 comentários:

  1. Luiz, muito bem escrito o seu artigo. Eu concordo que o tema é polêmico e vc levanta vários argumentos a favor do retorno aos cassinos. Mas não me convence. Difícil fundamentar tão bem porque sou contra, porque entra num campo subjetivo: tenho horror a jogo! Talvez seja algo de outras vidas (rs), sei lá, não tenho nenhum parente direto que tenha se esfolado no jogo, mas acho péssimo que as pessoas se apoiem na sorte ou no azar pra conseguir alguma coisa. Acho deseducativo (estou sendo moralista? pode ser? aceito as pedras!). Concordo com você que o governo arrecada MUITO com a loteria e jogos oficiais e, por mim, eles também deveriam acabar. E se as pessoas pusessem o dinheiro que jogam semanalmente num cofrinho, mensalmente depositariam numa poupança... certamente teriam um fundo bem melhor pra elas mesmas, e não pro governo. Ainda assim, acho que ir a uma agência lotérica não deve ser tão atraente (pra quem gosta) como ir a um cassino e de lá custar a sair... Desculpe, mas o argumento de que traria empregos é furado... O tráfico de drogas também gera emprego pra muita gente... Assim como todo tipo de atividade ilícita! Para incentivar o turismo (que no Brasil é tão mal explorado) haveria infinidades de atividades de formação e de atendimento a turistas que seria educativo e produtivo pros brasileiros e pros estrangeiros. Fiquei muito feliz com o fechamento dos bingos. Ouvi o argumento (de pessoas muito legais) que era uma atividade divertida pra terceira idade... Meu Deus! A terceira idade tem muito o que fazer, temos que incentivar o lazer e as atividades culturais (enriquecedoras da alma) pra esse segmento da população. E o fato de os artistas terem emprego com os cassinos, é porque eles existiam... Se não existem mais, os músicos têm uma série de outros lugares para se apresentar. Se não têm, criemos atividades saudáveis pra população!!! Desculpe. Como disse, é muito emocional o que escrevo. Acho que uma pessoa perde tempo e dinheiro jogando... Tenho pena de quem joga... Ich, vão ficar bravos comigo... mas tudo bem! Luiz, continue escrevendo e polemizando, isso é muito saudável (rs). Beijos

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    1. Oi, Claudinha !

      Que sensacional ter um comentário tão rico, esquentando a discussão. Claro que é salutar discordar, e o Blog se enaltece com essa participação, onde falando em nome de seu editor, Eduardo Sandoval, e do meu, estamos contentes com isso.

      Mas, tenho algumas discordâncias a observar, numa tréplica.

      Vamos lá :

      1) Em relação à sua primeira observação, não tenho nada a contraargumentar, se existe uma predisposição pessoal sua de não gostar de jogos. O que quis expressar, e é a chave da matéria, é na verdade o direito do cidadão de fazer suas escolhas, sem o peso arcaico de um estado paternalista e opressor. Nesse sentido, uso o seu próprio exemplo, ou seja, você não gosta e não iria frequentar um cassino. O que acho abominável não é existir/não existir cassino, mas sim o sistema usar opressão para decidir o que fazer das nossas vidas;

      2) A questão de ser "deseducativo" por parte do governo, desnuda a sua (refiro-me ao governo & sociedade), própria hipocrisia. Cassino é um "horror", mas a Mega Sena pode ? Qual a diferença ??

      3) Não sei se concordo com o seu raciocínio. Extinguir os jogos oficiais levaria as pessoas a usar esse dinheiro gasto em poupança ? Você sabe exatamente como os bancos usam o dinheiro da poupança ? A manobra financeira feita, é tão cruel quanto. E tal raciocínio abre precedentes perigosos. Você gostaria que o governo exercesse mais um tipo de controle sobre o seu dinheiro, além do que já exerce, acintosamente ?

      4) Absolutamente !! Onde está o furo em afirmar que cassinos abririam empregos diretos e indiretos ? Acho que você interpretou mal a matéria, pois o raciocínio é o de supor a revogação da Lei da extinção, portanto, com a legalização, estou me referindo a uma atividade regulamentada e absolutamente dentro da Lei, com regras e controle da Receita Federal, Caixa Econômica etc.

      Portanto, comparar ao tráfico, não tem cabimento, pois aí sim, é coisa ilegal, dentro de parãmetros ilícitos e criminosos.

      Se legalizado, qualquer empresário ilibado pode montar um cassino, sem problema algum e aí, gerar empregos, sim.

      Continua...

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    2. 5) Claro que existem inúmeras ações para fomentar o turismo e que devem ser usadas com todas as forças. Contudo, não podemos negar que cassinos, num país das dimensões do Brasil, onde muitas capitais estaduais são litorâneas, claro que seriam atrativos. Se Mônaco, Estoril e Hong Kong podem, por que não não pode voltar o Cassino da Urca, que era um luxo só ?

      6) Não vejo mal algum em surgirem cassinos, no sentido de que multiplicariam-se os espaços para shows musicais e de humor, tipo stand up comedy. Sinceramente, não consigo achar ruim a ideia de que numa possível volta, tenhamos 150 ou 200 novos espaços de show;

      7) Claro que existem diversas formas muito mais saudáveis e culturais de entreter pessoas da terceira idade. Disso não discordo, mas convenhamos, isso esbarra de novo na execrável mania do sistema, em achar que deve controlar as pessoas. Se eu tenho setenta anos de idade e quero ir à um bingo, o governo me diz que "Não", e isso é aceitável ? Ele é meu pai ? Eu tenho sete ou setenta anos de idade ?

      8) Particularmente, detesto jogos de azar, e acho cassinos muito cafonas. Nesse aspecto, penso parecido contigo. Mas encerrando, o teor da matéria e de meus argumentos, é um só : Ao estado cabe cuidar da Rés Pública e jamais do cerceamento do livre arbítrio das pessoas. Por isso fui veemente, mesmo que no fundo, pense parecido contigo.

      Então, nessa linha de pensamento, defendo a abertura dos cassinos, como um gesto de boa vontade do governo, demostrando que caminha para o futuro, deixando os grilhões medievais para trás.

      Claudinha, muito obrigado por ler e comentar ! Adorei a fartura de argumentos, que só engrandeceu a discussão !!

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  2. Eu particularmente não gosto de jogo que envolve apostas, e já ouvi dizer que a taxa de suicídios em Las Vegas é bem alta. Mas isso não quer dizer que sou contra. Afinal, existe tanto jogo clandestino por aí... mas é algo complicado, normalmente é coisa de mafioso mesmo. Alguns governos permitem em determinadas localidades porque deve gerar muito dinheiro e empregos diretos e indiretos. Mas será que não há maneira melhor e mais sadia de movimentar a economia?

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    1. Maravilha a sua participação, Carlão !

      Quanto à esse índice que citou, claro que pode ser um exemplo do malefício psíquico dos jogos a prejudicar pessoas. Mas existem índices de suicídio altos, também em outras circunstâncias, aparentemente não "pecaminosas".

      Por exemplo : na cidade de Detroit, que por décadas teve o maior parque industrial automobilístico do mundo, a taxa de suicídios era altíssima. Motivo : vazio existencial na vida de quase todo munícipe daquela cidade, que era operário das montadoras. No Japão, por motivos semelhantes, na Suécia, pelo tédio de uma vida em sociedade quase perfeita, por incrível que pareça, e por aí vai.

      Se apenas cassinos levassem à isso, já teriam acabado com Las Vegas, certamente.

      Sua pergunta é válida e boa : Certamente que existem meios muito mais sadios de se fazer dinheiro. Concordo. Mas não vejo os cassinos como algo tão vil. Se em Mônaco é bem quisto, não vejo por que não possam existir, para quem gosta.

      Eu, você e Claudinha, que opinou acima, certamente não seríamos clientes, mas é o tal negócio : Essa nossa decisão mútua, é nossa, e não é o governo quem deve decidir se podemos ou não podemos ir.

      Valeu por ler e comentar !!

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