segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Não Precisamos de Fogos de Artifício

Não Precisamos de Fogos de Artifício,

texto de Luiz Domingues.

Passado o Reveillon, a reflexão é inevitável sobre o foguetório que encanta tanto as pessoas.
Milhões  de pessoas se aglomeram na Praia de Copacabana; na Avenida Paulista, e em todas as cidades brasileiras para comemorar a chegada do Ano Novo, e a pirotecnia parece indispensável para todos, como a justificar a sua permanência na rua para celebrar coletivamente a data.

Não só o Reveillon, mas várias datas ao longo do ano são comemoradas ao som e visual dos fogos de artifício, incluso comemorações de torcidas de times de futebol; manifestações políticas; reivindicações e protestos os mais variados, pequenas comemorações privadas, e até por razões nada nobres, como criminosos anunciando a chegada de suas mercadorias ilícitas...

Diante de tanta necessidade de extravasar sentimentos através de estampidos e luzinhas coloridas no céu, a pergunta é : não conseguimos  viver sem tal artifício ?

A julgar pela história, parece que o vício vem de longe, pois os registros sobre as tentativas de se manipular o fogo, remontam à era pré-histórica.

Oficialmente mesmo, a pirotecnia nasceu na China, cerca de dois mil anos atrás. Um experimento perpetrado por um alquimista chinês e completamente maluco, misturou salitre; enxofre e carvão, para em seguida aquecê-los.  

Isso resultou num pó preto que descobriu, era explosivo e recebeu o nome de “pólvora”. Através de inúmeros experimentos, constataram que poderia ser manipulado para gerar efeitos sonoros e visuais os mais diversos, alegrando as festividades, mas além disso, abriu caminho para um sem número de ramificações maléficas, dando origem às armas de fogo.

Nos tempos modernos, observamos que os fogos de artifício podem ser muito perigosos em muitos aspectos, infelizmente.

Mutilações terríveis; mortes; incêndios, e outras ocorrências decorrentes de seu mau uso, e que são condenadas amplamente pelo Corpo de Bombeiros, mas que ninguém dá ouvidos, a não ser depois que a tragédia acontece, estão no noticiário cotidiano.

Uma reclamação a mais, e que parece ser mais moderna a ser acrescentada nesse rol de malefícios, é o trauma gerado em animais domésticos pela incidência do barulho.

Parecendo um ataque nuclear, dependendo do local, é de se imaginar o quanto os animais sofrem sentindo um medo incomensurável.

Há relatos de muitas ocorrências de animais que não suportam o foguetório e infartam, apavorados pelo medo incompreensível que sentem diante de tal artilharia.

Vendo reportagens na TV sobre o colapso da saúde pública no Brasil, foi impossível não traçar um paralelo com os shows pirotécnicos do Reveillon.

Vendo pessoas com apêndice supurando sendo mandadas de volta para as suas casas; pessoas com AVC; aneurismas e infarto; gestantes dando a luz nas calçadas, gente com fraturas expostas chorando na rua pela falta de atendimento, entre outras barbaridades que vi num hospital de Realengo, no Rio de Janeiro, como não pensar no dinheiro que foi literalmente queimado em milhares de fogos que foram deflagrados para alegrar uma festa que tem lá seu simbolismo psicológico para a maioria das pessoas, admito, mas que na prática, é só um rito social, portanto, o que acontece não passa de um dia que acaba e começa outro ?

Antes que me acusem de ser piegas ou “ecochato” militante, alegando que uma coisa não tem nada a ver com a outra, e o dinheiro arrecadado com o turismo faz valer todo o esforço para que existam os shows de Reveillon, realmente não dá para não pensar que um gesto de boa vontade poderia ser dado pelos governantes, e creio que o povo entenderia, pois estamos todos vivendo um momento de crise.

Diante dessa draga em que estamos, será que o dinheiro gasto com essas festas de rua não teria sido melhor aproveitado para socorrer os hospitais públicos que estão à míngua ?

Sei que existe uma burocracia institucional entre as três instâncias do poder público, e claro que o dinheiro de uma prefeitura não pode passar assim, sem mais nem menos para socorrer um órgão federal etc  etc. Mas será que não poderia suprir emergencialmente em forma de espécie, como uma doação pura e simplesmente ?

Não ajudaria pegar o dinheiro desses fogos de artifício e comprar um lote de seringas descartáveis; luvas; algodão; bandagens, álcool; material de higiene, e outros tantos produtos de necessidade básica, e que faltam vergonhosamente no atendimento dos hospitais públicos ?

Quantas macas dá para comprar ? Quantos cobertores e lençóis ?

Enfim, não daria para não ter festa pirotécnica, e mesmo assim as pessoas não poderiam comemorar saindo às ruas para brindar o ano novo sem essa “perfumaria” cara ?

Hora de pensar no quanto o estampido e as luzinhas  são reais necessidades que temos para ornamentar nossas comemorações, extravasar ou reclamar de alguma coisa etc etc...    

18 comentários:

  1. Olha, Luiz....eu tenho tanto nojo da ideologia deste país por causa disso.....gastam milhões com banalidades enquanto muita gente passa fome e morre nas filas dos postos de saúde, lastimável mesmo.....e o povo ainda acha bonito esses fogos.

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    1. A discrepância entre a miséria e o desperdício é para causar espécie mesmo.

      Bacana ter postado o primeiro comentário, caro amigo editor !!

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    2. os políticos só fazem o q rende a melhor super faturação, e q modo maravilhoso d super faturar, queimou, acabou, quem vai fiscalizar fogos desaparecidos em poucos minutos na ressaca do novo ano...
      de resto, como o é p todos os nossos males, culpa d quem?
      os adminitradores privilegiam ações populistas, agora lhes pergunto, o povão (pobres e ricos) preferem seringas e remédios, cultura e educação, ou FOGOS E BUNDALIZAÇÃO?
      sem postura nazistóide elitista ou hipocrisia do politicamente correto...
      vamos ser sinceros, o brasil tem o q merece...
      acho o argumento do mal estar d animais o mais nobre, se o 'único', prq aqueles sim são vitimas 100% inocente, a população q sofre as mazelas da corrupção nas filas dos hospitais são VIA D REGRA os maiores consumidores dos fogos....

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    3. Entendo perfeitamente o seu ponto de vista.

      Sei que o meu enfoque é um pouco diferente na abordagem, mas no cômputo geral, estamos falando da mesma questão, acredito, pois também penso que responsabilizar só a classe política pelos males que nos afligem é ingênuo.

      Isso porque, a classe política não é formada por alienígenas que vieram de outros planetas, mas simplesmente por pessoas saídas do seio do nosso próprio povo.

      Portanto, nesse sentido, compreendo e concordo com seu ponto de vista de que o povo sofre e reclama, mas via de regra, qualquer um que alcance o poder e passe a transitar pelas alamedas dos poderosos de Brasília, tende a se comportar igual.

      O problema, portanto, não são os políticos, mas a índole do povo brasileiro e assim, você acertou na sua avaliação : "O Brasil tem o que merece". Bem colocado, concordo, infelizmente...

      Grato por ler e comentar, professor Wolmar. Sua presença por aqui sempre enriquece os debates.

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  2. Oi, Luiz

    Em outros tempos, eu diria que você é um chato mesmo! he he
    Quando eu era criança, eu adorava os fogos. Uma vez, vi um espetáculo, e achei lindo.
    Mas, do jeito que estão nossas vidas, hoje, não há como não concordar com você. Infelizmente...
    Com tantos problemas na saúde, segurança, transportes públicos, educação... Viu que vão cortar mais créditos na educação??? Será que é para gastar com os fogos??? (fazendo piada).
    Infelizmente, para mim, atualmente, não há um político ou partido que se salve. Arranjam dinheiro para gastar com fogos, mas não com os outros itens mais necessários.
    Abraços!

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    1. Essa foi boa, Janete...

      Longe de mim querer ser estraga prazeres dos outros, mas neste caso, com a saúde em petição de miséria, parece escárnio das autoridades promover festas populares, queimando, literalmente, dinheiro.

      Grato pelo comentário, sempre pertinente !

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  3. Com ou sem crise é dinheiro jogado fora, queimado. Mesmo que tenham cidades que optarão por fogos sem estrondos, acredito que possamos festejar a alegria de outra forma, sem estes artifícios.

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    1. Também acho...fogos sem estrondos podem resolver a questão dos animais que sofrem pelo bombardeio, mas isso não resolve os outros múltiplos estorvos que a pirotecnia causa à sociedade.

      Num mundo tecnológico, onde a possibilidade de se fazer efeitos visuais eletrônicos é total, é para repensar mesmo o arcaico e dispendioso uso de pólvora.

      Grato por ler e comentar !

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  4. Concordo com tudo que lí, como sempre seus textos muito lucidos, o Brasil está passando por uma de suas maiores críses, super desnecessário esse disperdicício de dinheiro, com certeza dinheiro público.

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    1. Bacana saber que pensa igual, amigo Kim !

      De fato, não tem cabimento gastar tanto em festas populares, e vermos os hospitais públicos em petição de miséria.

      Grato por ler, elogiar e comentar !!

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  5. Meus cães ficam apavorados nessas datas , tenho que colocar todos dentro da minha casa de tanto medo, outra coisa, muito da produção desses fogos também é fruto de trabalho escravo , e concordo totalmente com VC a respeito do dinheiro ser melhor empregado para a população em geral, Parabéns.

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    1. Segundo li na mídia, em Bauru, no interior de São Paulo, a prefeitura local utilizou fogos sem ruídos, exatamente para preservar a saúde dos animais que sofrem muito com essa artilharia.

      Uma boa medida, mas que resolve só um pedaço do problema que temos, conforme disse na matéria.

      Trabalho escravo eu nem citei, mas se existe nesse setor, conforme ventilou, é uma tremenda agravante.

      Grato por ler e comentar, amigo Prik !

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Também sempre detestei fogos de artifício , principalmente pelas mortes e mutilações que invariavelmente causam . Mas o texto coloca outros fatores que também são relevantes .

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    1. Exato, Fernando !

      Só pelas mutilações e perigo de morte, já deveriam sair de circulação, concordo contigo.

      Mas para piorar, existem agravantes, portanto, vejo com perplexidade que a grande massa não pense como nós e abra mão desse recurso para embalar suas festas.

      Grato por ler e comentar !

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  8. Exatamente! Penso que isso até era atrativo quando aconteciam de maneira esparsa o suficiente para ser um espetáculo inesquecível, mas realmente hoje se utiliza de maneira aleatória e indiscriminada, sem Brasil vendidos maioria das vezes de maneira ilegal, levando grande parte da população à utilização irresponsável...quanto aos investimentos públicos sim, diante da nossa realidade obviamente deveriam ser repensados...

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    1. favor substituir a palavra "sem" antes de Brasil, por "no" foi um erro de digitação :)

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    2. Bem por aí, Christine !

      Tudo o que observou é bastante pertinente. Causa-nos espécie que não haja uma mobilização séria para rever tal prática no Brasil.

      Grato por ler e comentar, e não se preocupe, relevo o seu erro de digitação, mencionado. Acontece com todos nós.

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