sábado, 26 de outubro de 2013

Gás, Crueldade e Covardia.

     Gás, Crueldade e Covardia, texto de Luiz Domingues.

Assunto controverso, é a questão da ética nas guerras.

Pois é, se existe ética dentro da insanidade que é uma guerra, é louvável que haja no mínimo esse esforço humanitário para estabelecer regras de conduta, minimizando assim os abusos.

Contudo, é quase impossível coibir tais abusos, tendo em conta que em conflitos dramáticos desse porte, não há tempo para focar em tais atos, arrolar provas, sensibilizar a opinião pública etc.

Com mortes, mutilações por todos os lados, como fazer para reparar as atrocidades cometidas no calor dos embates ?

Já na Idade Média, São Tomás de Aquino dizia que uma guerra só é válida se o motivo for muito justo. Sim, parece óbvio, mas no seu significado filosófico, existe uma profundidade nessa colocação.

Mais próximo de nós, um suiço chamado Henri Dunant, criou a Primeira Convenção de Genebra, em 1863, estabelecendo regras para os conflitos bélicos.

Seguiu-se à esse documento, outras Convenções de Genebra, até a última, de 1977, com regras para a conduta militar; trato com prisioneiros; ações da cruz vermelha, e principalmente no resguardo das populações civis, durante conflitos militares.

Um baita avanço da civilização, não vou negar, mas olhando pelo viés da realidade nua e crua, o ideal é que não existam conflitos, simples assim...

No início do século XIX, foi criado em laboratório, o chamado "Gás Iperita", ou "Gás de Mostarda".

Sua ação devastadora, provoca queimaduras terríveis na pele, e causa asfixia letal, "só isso"...

Alguns anos depois, no calor da I Guerra Guerra Mundial, o Gás de Mostarda dizimou milhares de soldados nas trincheiras daquele conflito, que se arvorava de ser "a guerra que acabaria com todas as "guerras"...

Proibido pela Convenção de Genebra, não eliminou a possibilidade no entanto, de outros gases serem usados na II Guerra Mundial.

O exército japonês, por exemplo, mantinha o terrível laboratório denominado "731", onde seus cientistas trabalhavam a todo vapor, na criação de outras modalidades gasosas, e de poder letal ainda maior.

Infelizmente, a nobre Convenção de Genebra não evitou que os americanos usassem o terrível agente laranja, um herbicida letal e devastador, sobre a população do Vietnam, no conflito dos anos sessenta e setenta.

Na terrível guerra Irã-Iraque, em 1980, armas químicas foram usadas com profusão, numa desumanidade sem tamanho.

A onda de terrorismo criou o medo bacteriológico do agente Antraz. Você recebe uma cartinha pelo correio, abre, e se contamina com uma guarnição paramilitar de micróbios ultra violentos...legal, não é ?

Israel vive em alerta sobre ataques desse porte, e a população é treinada desde a tenra infância, para se proteger com o uso de máscaras etc.

Recentemente, vimos cenas dramáticas no jornalismo, mostrando crianças estrebuchando, literalmente, em plena agonia de morte, após um ataque de Gás Sarin, na Síria.

Confesso, foi uma das coisas mais cruéis e comoventes que vi na vida, tal cena inacreditável de crianças de cinco, seis anos de idade, morrendo daquela forma, só porque cometeram o deslize de acordar naquela manhã e irem para a escola.

Conflitos envolvem ações radicais de quem se sente prejudicado e ofendido; Se o conflito militar é inevitável, existem regras, tentando garantir um mínimo de resguardo para a população civil, e a dignidade dos soldados.

E dentro dessa tentativa de minimizar o horror, onde fica a ética na questão do uso de gases letais ?

Qual a justificativa para lançar gás Sarin sobre uma escola, e matar dezenas de crianças pequenas ?

É de uma canalhice sem precedentes, sem maiores comentários.

2 comentários:

  1. Pois é Luiz!
    Também fiquei sem chão ao ver as cenas das crianças em uma escola na Síria.
    Tenho um sentimento de que valores estão sendo jogados no lixo e há muita confusão e "forças ocultas" como dizia um ex presidente já falecido.
    Não me refiro a nada sobrenatural, mas tenho lido em blogs sobre planos para reduzir a população, instalar o caos civil e depois apresentar uma "solução", mais ou menos como fez Hitler na Alemanha nazista...
    Um grande abraço!
    Nelson Ferraresso.

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    1. Nelson :

      Realmente inacreditáveis as imagens das crianças agonizando na Síria.

      E tão inacreditável quanto esse ato, é constatar que tal barbaridade não comoveu as pessoas com a mesma intensidade que a recente repercussão dos cãezinhos Beagle que foram libertados por ativistas de um laboratório que os usava como cobaias.

      Nada contra o ato dos ativistas, do qual acho legítimo, e claro que me solidarizo aos cães daquela triste circunstância, mas incomoda-me muito o hype indevido que para mim, é movido à uma baita hipocrisia.

      Se é para ser ativista, tem que ter coerência, isto é, não basta ter peninha de bichinhos pet, mas de todas as espécies, e no caso das crianças sírias, nem preciso dizer, não é ?

      Você levantou uma hipótese muito interessante e de fato, numa coisa o Jânio Quadros tinha razão : As forças ocultas são muito ativas na sociedade.

      De fato, as coisas estão muito esquisitas e nessa inversão de valores, parece que estão deixando a sociedade chegar num limite, para algo radical ser perpetrado.

      Verdade, o nazismo preparou o terreno para subir ao poder como grande esperança do povo alemão, sob o resultado de anos de hiperinflação, crise e desespero social. Quando chegou com aquele discurso de autoestima e prosperidade, caiu nos braços do povo, que não tinha como perceber as entrelinhas contidas nessa política, e o resultado foi o pior possível.

      Fiquemos atentos !

      Muito feliz por sua participação, com um comentário tão rico !!

      Grande abraço !

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