Monteiro Lobato Preocupado com o Petróleo, Luiz Domingues "ruleiando" no blog. Vivemos uma Era de euforia em decorrência da descoberta do Pré-Sal.
Segundo
estimativas, o Brasil entrará para a OPEP (Organização Mundial dos
Países Produtores de Petróleo), superando a perspectiva da
autosuficiência (que por si só, já seria excelente), para alçar-se à
condição de exportador.
Porém, até chegarmos nesse ponto, muitas coisas ocorreram antes e a questão petrolífera no Brasil gerou muita controvérsia.
Os
primeiros registros de exploração por aqui, datam do século XIX. O
Marquês de Olinda autorizou um pequeno empreendedor chamado José Barros
de Pimentel, a fazer pequenas prospecções às margens do rio Marau, na
Bahia.
Nas três primeiras décadas do século XX, os registros
oficiais dão conta de que pessoas comuns do povo, exploravam essa
extração de forma precária, sem nenhuma regulamentação oficial ou ação
empresarial constituída.
Foi então que o governo Vargas, na
década de trinta, entrou de sola nessa questão, criando restrições
oficiais à essa prática, mas ao mesmo tempo não criando mecanismos
claros sobre a exploração, gerando assim, muita insatisfação por parte
de muitas pessoas politizadas, sobretudo.
E um desses intelectuais insatisfeitos, e que mais bateu públicamente no governo Vargas, foi o escritor Monteiro Lobato.
Lobato
era muito famoso por ter criado o personagem Jeca Tatu, onde criticava o
atraso do país, e veladamente o atribuía (também, mas não tão somente,
pois deixou claro que Jeca Tatu não era assim, mas "estava assim",
cutucando o governo), à preguiça como marca registrada da índole do povo
brasileiro (há certamente uma similaridade entre Jeca Tatu e o
Macunaíma de Mário de Andrade, nesse aspecto).
Lobato também era
famoso por ter criado o "Sítio do Pica-Pau Amarelo", sua literatura
infantil que atravessaria décadas, mas havia um lado seu sóciopolítico
que era forte e expressou-se em vários livros.
No caso da
exploração do petróleo no Brasil, a questão principal que o indignou,
residia no fato de que o governo Vargas criara restrições, mas não
apontava soluções.
Se a riqueza natural era de todos, ou o
governo criava mecanismos para a exploração, repassando os lucros à
população, ou permitia a livre exploração por parte de qualquer
interessado, ainda que tributando os lucros, logicamente.
Nesse
impasse, Lobato passou a protestar públicamente através de artigos na
imprensa, mas foi em 1936, que sua contundência chegou ao clímax, quando
lançou o livro : "O Escândalo do Petróleo".
O livro esgotou sua primeira edição muito rapidamente e incomodou o poder ditatorial de Vargas.
Tornou-se um slogan a expressão "não perfurar, nem deixar que se perfure", uma clara alusão à inércia de Vargas nessa questão.
Em
1937, a repressão oficial censurou o livro e mandou recolher suas
cópias disponíveis nas livrarias. Mas no mesmo ano, Lobato lançou mais
um livro do seu "Sítio" e usou o seu fantástico personagem, o "Visconde
de Sabugosa", uma espiga de milho humanizada e intelectual, para dar
mais pauladas no governo Vargas.
No livro "O Poço do Visconde",
Lobato usou a voz do simpático Visconde de Sabugosa para ser veemente :
"Ninguém acreditava na existência de petróleo nesta enorme área de 8.5
milhões de KM quadrados, toda ela circundada pelos poços de petróleo das
repúblicas vizinhas..."
Duas correntes políticas se
posicionaram frontalmente nessa questão, a partir daí. Os nacionalistas
queriam a criação de uma empresa estatal para monopolizar o controle da
extração e os chamados "entreguistas" (pejorativamente assim conhecidos,
é claro), que defendiam a tese da exploração ser aberta também à
empresas estrangeiras estatais ou particulares.
Em 1941, Lobato
foi preso por um general do exército, que curiosamente envolvería-se
anos depois, com a campanha "O Petróleo é nosso", nos anos quarenta.
Foi
criada a Petrobrás em 1953 e só recentemente o governo mudou as regras e
abriu espaço para empresas estrangeiras particulares atuarem em
parceria.
Qual seria a opinião de Monteiro Lobato sobre o atual panorama petrolífero do Brasil ?
Se
por um lado, possivelmente estaria feliz por constatar esse potencial
produtor, que na sua época era inimaginável, por outro, estaria perplexo
por constatar que tal riqueza não se reflete na economia popular como
era de se esperar.
Os economistas, tributaristas e técnicos do
governo falam, falam, mas não explicam com clareza o porque do preço dos
combustíveis ao consumidor final, serem tão tão caros.
E numa
economia onde esse fator é o principal motivador da alta de todos os
produtos e serviços possíveis e imagináveis, realmente causa espanto que
uma riqueza assim não seja distribuída equânimamente para o seu
verdadeiro dono, o povo.
Vai demorar um pouco, mas quando os
primeiros barris extraídos da safra do Pré-Sal começarem a render
lucros, qual vai ser a desculpa governamental ?
Tomara que não,
mas se essa riqueza não for repassada corretamente, só nos restará
torcer para que o Visconde de Sabugosa use de sua sabedoria
enciclopédica e seja o nosso porta-voz indignado.
Muito esclarecedor. Parabéns Luiz!
ResponderExcluirAbraços do Juma
Obrigado, Juma !
ExcluirUma página esquecida de nossa história, aliás, mais uma...
Abraço !
Ainda bem que existem pessoas que lutam para a melhora do país e do povo. Mesmo sendo a minoria, que tem essa coragem que teve Monteiro Lobato. Acredito que muitos se calam, pois nem vale a pena. Infelizmente o poder fica sempre nas mãos da minoria, que só olham para o próprio umbigo. Acredita que Macaé- R.J, conhecida como a capital do petróleo, é a cidade que o tem o preço mais alto de combustível? Vai entender.....
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