terça-feira, 18 de junho de 2013

Campeão Mundial do Improviso.

Campeão Mundial do Improviso, texto de Luiz Domingues.
Quando o Brasil foi escolhido pela FIFA, como o país sede da Copa do Mundo de 2014, tal data parecia longínqua na ocasião.

Era o ano de 2007, e sete anos parecia ser uma eternidade para promover tantas mudanças estruturais necessárias para cumprir o exigente caderno de adequações da FIFA.

E já naquele ano, o Brasil despontava como emergente "bola da vez", recebendo elogios da mídia internacional e sendo enfim notado pelas nações do 1° mundo, coisa rara até então.

Mas os problemas que se sucederiam, eram absolutamente previsíveis...

Enraizado na alma do Brasil, existem signos absolutamente vergonhosos que enquanto não forem erradicados do imaginário popular, difícilmente farão com que a riqueza material conquistada pela economia do país, reflitam-se como real grandeza digna de nos colocar de fato, no 1° mundo.

Por exemplo, a vergonhosa mania de se orgulhar de ser um povo que dá "jeitinho" em tudo.

Esse estigma é terrível, pois nos leva a crer que fazer as coisas de qualquer maneira, sem critério de qualidade, é uma virtude, quando na verdade, é uma prática lamentável.

Ligado intimamente à esse fator, existe outro estigma horrível, que é o do atraso.

Brasileiro acha bonito atrasar-se, entregar coisas ou tomar providências no último momento possível e muitas vezes, além do prazo final estipulado.

A questão do "jeitinho", tem a conotação do improviso, da "gambiarra", do "gato". Nessa mentalidade, nada é seguro, pois do pequeno reparo caseiro com a fita isolante, aos grandes empreendimentos arquitetônicos, paira no ar esse artíficio que a qualquer momento se descortina, algumas vezes em tragédias.

Outro estigma horrível e típico do Brasil é o orgulho da "malandragem". Se desde crianças, somos bombardeados com esse conceito, realmente fica muito difícil ter outra visão.

Se somos todos "malandros" e sempre dispostos a levar vantagem em tudo (certo ? ), chocamos os estrangeiros do 1° mundo, não habituados à tal prática abusiva/extorsiva inaceitável, e faz de nós, estelionatários em potencial.

Quando Mário de Andrade criou o personagem "Macunaíma" e Monteiro Lobato criou o "Jeca Tatu", os criaram a ambos, com a característica da "preguiça', como traço de personalidade dominante.

Ora, se ambos são personificações típicas do brasileiro, obviamente que os respectivos autores os criaram com forte fator de denúncia sóciocultural, mas parece que o povo absorveu a ideia de preguiça, como algo para se orgulhar...

Outro aspecto lamentável e típico do Brasil é a exaltação da sensualidade. Após décadas de propaganda maciça nesse sentido para atrair turistas, não é contraditório que o brasileiro sinta-se ofendido quando vê estrangeiros referindo-se às nossas mulheres de forma desrespeitosa ?

Sete anos se passaram e nada foi feito para atenuar essas questões. E como poderia mudar algo formatado há séculos, e com a agravante de ninguém nem discutir o assunto ?

A preocupação foi apenas construir novas "arenas", mas deixando em segundo plano uma série de outros fatores estruturais.

Arenas estão sendo inauguradas, todas embonecadas de cair o queixo, mas o entorno ainda é caótico; os meios de transporte, precários.

Aeroportos, portos, estações rodoviárias de terceira categoria; nenhum preparo para atender e informar bem os turistas...

Nem vou falar sobre segurança pública, para não fazer ninguém perder o sono.

E vou falar mais uma : disse acima que as arenas estão deslumbrantes. Isso é verdade, mas problemas estruturais inadmissíveis estão acontecendo em tempo recorde.

Na Fonte Nova, por exemplo, logo no primeiro dia da inauguração, verificava-se que a distância entre uma cadeira e outra, era inadequada para uma pessoa acomodar-se; no Castelão, há relatos de pessoas que demoraram horas (eu disse horas !) para sair do centro de Fortaleza e chegarem ao estádio, para o show do Paul McCartney.

O entorno do Maracanã está impraticável por conta das obras viárias. No Mineirão, logo nos primeiros jogos pós-inauguração, foi um horror a venda de ingressos, com uma bagunça generalizada.

Outra Arena que nem revelarei o nome, tinha um "probleminha" no dia da inauguração : jornalistas atônitos, descobriram não haver tomadas nas cabines de imprensa..."só" isso...

Isso sem contar toda a manobra política para tirar o Morumbi do evento.

Ora, está na ponta do lápis : Seria necessário uma rápida reforma para adequar o Morumbi às exigências da FIFA.

Isso custaria cerca de 350 milhões de reais, nos quais o São Paulo Futebol Clube pagaria quase toda a despesa, de seus cofres.

Mas "curiosamente", a FIFA criou todo tipo de empecilhos, preferindo ameaçar a cidade de São Paulo, de ficar fora do evento.

Daí, surgiu a "oportunidade" de construir o estádio do Corinthians, numa previsão inicial de "apenas" 800 milhões de reais, mas que agora já passou de 1 bilhão, é claro.

E o Maracanã ? Acaba de ser reformado, mas o governo anunciou que o reformará novamente para as Olimpíadas de 2016. Brasileiro adora reforma, licitação, concorrência pública...

Na ponta do lápis, parece coisa de louco, é o é, certamente. Mas aqui é o país do "jeitinho", da "malandragem", não é mesmo ?

Em tempo : recomendo assistir o seguinte documentário postado no You Tube : "A Caminho da Copa".

http://www.youtube.com/watch?v=nFcA2PKIcfQ

terça-feira, 4 de junho de 2013

Monteiro Lobato Preocupado com o Petróleo.

Monteiro Lobato Preocupado com o Petróleo, Luiz Domingues "ruleiando" no blog. Vivemos uma Era de euforia em decorrência da descoberta do Pré-Sal.

Segundo estimativas, o Brasil entrará para a OPEP (Organização Mundial dos Países Produtores de Petróleo), superando a perspectiva da autosuficiência (que por si só, já seria excelente), para alçar-se à condição de exportador.

Porém, até chegarmos nesse ponto, muitas coisas ocorreram antes e a questão petrolífera no Brasil gerou muita controvérsia.

Os primeiros registros de exploração por aqui, datam do século XIX. O Marquês de Olinda autorizou um pequeno empreendedor chamado José Barros de Pimentel, a fazer pequenas prospecções às margens do rio Marau, na Bahia.

Nas três primeiras décadas do século XX, os registros oficiais dão conta de que pessoas comuns do povo, exploravam essa extração de forma precária, sem nenhuma regulamentação oficial ou ação empresarial constituída.

Foi então que o governo Vargas, na década de trinta, entrou de sola nessa questão, criando restrições oficiais à essa prática, mas ao mesmo tempo não criando mecanismos claros sobre a exploração, gerando assim, muita insatisfação por parte de muitas pessoas politizadas, sobretudo.

E um desses intelectuais insatisfeitos, e que mais bateu públicamente no governo Vargas, foi o escritor Monteiro Lobato.

Lobato era muito famoso por ter criado o personagem Jeca Tatu, onde criticava o atraso do país, e veladamente o atribuía (também, mas não tão somente, pois deixou claro que Jeca Tatu não era assim, mas "estava assim", cutucando o governo), à preguiça como marca registrada da índole do povo brasileiro (há certamente uma similaridade entre Jeca Tatu e o Macunaíma de Mário de Andrade, nesse aspecto).

Lobato também era famoso por ter criado o "Sítio do Pica-Pau Amarelo", sua literatura infantil que atravessaria décadas, mas havia um lado seu sóciopolítico que era forte e expressou-se em vários livros.

No caso da exploração do petróleo no Brasil, a questão principal que o indignou, residia no fato de que o governo Vargas criara restrições, mas não apontava soluções.

Se a riqueza natural era de todos, ou o governo criava mecanismos para a exploração, repassando os lucros à população, ou permitia a livre exploração por parte de qualquer interessado, ainda que tributando os lucros, logicamente.

Nesse impasse, Lobato passou a protestar públicamente através de artigos na imprensa, mas foi em 1936, que sua contundência chegou ao clímax, quando lançou o livro : "O Escândalo do Petróleo".

O livro esgotou sua primeira edição muito rapidamente e incomodou o poder ditatorial de Vargas.

Tornou-se um slogan a expressão "não perfurar, nem deixar que se perfure", uma clara alusão à inércia de Vargas nessa questão.

Em 1937, a repressão oficial censurou o livro e mandou recolher suas cópias disponíveis nas livrarias. Mas no mesmo ano, Lobato lançou mais um livro do seu "Sítio" e usou o seu fantástico personagem, o "Visconde de Sabugosa", uma espiga de milho humanizada e intelectual, para dar mais pauladas no governo Vargas.

No livro "O Poço do Visconde", Lobato usou a voz do simpático Visconde de Sabugosa para ser veemente : "Ninguém acreditava na existência de petróleo nesta enorme área de 8.5 milhões de KM quadrados, toda ela circundada pelos poços de petróleo das repúblicas vizinhas..."

Duas correntes políticas se posicionaram frontalmente nessa questão, a partir daí. Os nacionalistas queriam a criação de uma empresa estatal para monopolizar o controle da extração e os chamados "entreguistas" (pejorativamente assim conhecidos, é claro), que defendiam a tese da exploração ser aberta também à empresas estrangeiras estatais ou particulares.

Em 1941, Lobato foi preso por um general do exército, que curiosamente envolvería-se anos depois, com a campanha "O Petróleo é nosso", nos anos quarenta.

Foi criada a Petrobrás em 1953 e só recentemente o governo mudou as regras e abriu espaço para empresas estrangeiras particulares atuarem em parceria.

Qual seria a opinião de Monteiro Lobato sobre o atual panorama petrolífero do Brasil ?

Se por um lado, possivelmente estaria feliz por constatar esse potencial produtor, que na sua época era inimaginável, por outro, estaria perplexo por constatar que tal riqueza não se reflete na economia popular como era de se esperar.

Os economistas, tributaristas e técnicos do governo falam, falam, mas não explicam com clareza o porque do preço dos combustíveis ao consumidor final, serem tão tão caros.

E numa economia onde esse fator é o principal motivador da alta de todos os produtos e serviços possíveis e imagináveis, realmente causa espanto que uma riqueza assim não seja distribuída equânimamente para o seu verdadeiro dono, o povo.

Vai demorar um pouco, mas quando os primeiros barris extraídos da safra do Pré-Sal começarem a render lucros, qual vai ser a desculpa governamental ?

Tomara que não, mas se essa riqueza não for repassada corretamente, só nos restará torcer para que o Visconde de Sabugosa use de sua sabedoria enciclopédica e seja o nosso porta-voz indignado.