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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
O País do Futuro, Segundo Stefan Zweig.
O País do Futuro, Segundo Stefan Zweig, texto de "Mr". Luiz Domingues.
A expressão : "O Brasil é o país do futuro", vem sido usada há décadas.
Usada de todas as formas e sob todas as circunstâncias, pode ser encarada de várias formas, num enorme leque de conotações, que vão da ironia ao extremo otimismo.
Atribui-se a criação dessa expressão à um intelectual austríaco de origem judaica, chamado Stefan Zweig, que passou seus últimos dias aqui, encantado com o potencial que enxergou, há mais de 70 anos atrás.
Stefan Zweig nasceu em Viena, no ano de 1881, filho e neto de ricos banqueiros da Boêmia. Nesses termos, teve uma educação refinada e desde cedo foi preparado para assumir as instituiçõs financeiras da família ao lado de seu irmão, mas a vida intelectual o cooptou antes.
Mesmo sendo uma família judia, segundo Zweig, a religião não era seguida à risca das tradições e ele mesmo chegou a afirmar que ser judeu era algo meramente ocasional em seu Lar.
Estudou filosofia na Universidade de Viena e obteve seu doutorado em 1904, defendo a tese "A Filosofia de Hyppolyte Taine".
Mas mesmo antes da graduação e doutorado, já havia publicado seu primeiro livro de poemas ("Silbern Saiten", "Cordas de Prata" em português), em 1902.
Especializando-se em literatura inglesa e francesa, traduziu vários autores para o alemão (Keats, Baudelaire, Morris, Yeats, Verlaine, entre outros).
Era amigo pessoal de artistas e intelectuais tais como Rimbaud, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann e Sigmund Freud, entre outros.
Em 1912, duas peças teatrais de sua autoria fizerem sucesso ("A Metamorfose da Comédia" e "A Mansão à Beira-Mar"), com encenações concorridas em Viena.
Começa então a se interessar pelo cinema com muito entusiasmo, também. Chega a escrever muitos roteiros e até Roberto Rossellini chegou a filmar um roteiro seu ("O Medo", de 1954, anos após sua morte).
Começa a primeira guerra mundial e inflamado pelo sentimento nacionalista que assolou a Alemanha e a Austria, apoiou o estado germânico, mas logo a seguir passou a ter outra visão da guerra, tornando-se um pacifista ferrenho, doravante.
Casou-se em 1915 com a escritora Friderick Von Winsternitz a após o término da I Guerra, viveu momento de intensa produção literária, lançando livros de poesias, traduções de outros autores e muitas biografias de personalidades como Maria Antonieta, Fouché, Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi, Stendhal etc.
Passa a lançar também romances e ensaios, a partir dos anos vinte. São famosas as obras como : "Amok" (1922), "Angústia" (1925) e "Confusão de Sentimentos" (1927), influenciadas pela psicanálise, que seu amigo Sigmund Freud, tanto conversou a respeito, certamente.
Separado de sua primeira esposa, une-se desta feita com sua secretária, Charlotte Elizabeth Altmann, apelidada de "Lotte" entre seus familiares.
Com a ascensão do partido nacional socialista ao poder na Alemanha, Zweig sentiu-se inseguro para continuar vivendo na Austria e às pressas, mesmo antes das primeiras hostilidades antissemitas terem início, mudou-se com "Lotte" para a Inglaterra, no ano de 1934.
Sua ideia era viver numa pacata cidadezinha medieval, chamada Bath, mas suas atividades intelectuais faziam com que passasse o maior tempo em Londres.
Quando a II Guerra eclodiu, percebeu que mesmo tendo a Inglaterra, a mais poderosa força armada para enfrentar os nazistas na Europa, havia perigo iminente e dessa maneira, fogem para Nova York, onde sentiriam-se mais seguros.
Em 1940, vem pela primeira vez ao Brasil. Sua visita é para palestar em universidades. Fica encantado com a Bahia, onde vislumbra um paraíso alheio à guerra e lhe impressiona como as pessoas nativas são felizes com tão poucos recursos.
E nessa primeira viagem, conclui com entusiasmo um ensaio, onde coloca o título de "Brasil, o País do Futuro".
Sua presença é celebrada pelos intelectuais brasileiros, mas setores do governo mal disfarçam a insatisfação pela presença de um intelectual judeu e antinazista.
Fato, o governo Vargas flertava com simpatia pelo Eixo e só mudou a orientação por outros fatores e interesses, unindo-se aos Aliados nos estertores do conflito.
Cada vez mais impressionado com os avanços dos nazistas, inflamava-se em discursos antinazistas, onde questionava abertamente as intenções racistas de Hitler e fazendo o contraponto, achava que o Brasil era o exemplo da nova civilização a ser seguido, via miscigenação total de raças e não a aniquilação de raças ditas inferiores, num falso esforço de apuro genético, que era a proposta dos nazistas.
Encantado com essa perspectiva, resolve estabelecer residência no Brasil, comprando uma casa na cidade de Petrópolis, região serrana do estado do Rio.
Morando em Petrópolis, Stefan Zweig escreve mais algumas obras ("O Jogador de Xadrez"; "O Mundo de Ontem", que ficou inacabado e "O Mundo que eu Vivi", onde descreve suas impressões sobre a I Guerra Mundial).
Mas as notícias vindas da Europa não eram nada boas em 1942, e Zweig entrou num processo de depressão acentuado, perdendo as esperanças diante dos avanços nazi-fascistas.
E sendo assim, decide dar cabo à própria vida, de comum acordo com sua companheira, "Lotte".
Deixa uma carta explicando os seus motivos :
Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com minha mente lúcida, imponho-me última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e a meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu reconstruir minha vida, agora que o mundo de minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite.
Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.
Stefan Zweig
O casal foi enterrado no cemitério Municipal de Petrópolis e sua residência hoje em dia é um Centro Cultural com seu nome, Stefan Zweig.
Décadas após, em 2002, o cineasta paranaense, Sylvio Back, realizou um filme, chamado "Lost Zweig", baseado na biografia de Stefan Zweig, escrita por Alberto Dines, denominada "A Morte no Paraíso".
O próprio Sylvio Back já havia lançado um documentário sobre o casal Zweig anteriormente e que lhe serviu de base, além do livro de Alberto Dines, naturalmente.
Uso político à parte, a expressão cunhada por Stefan Zweig, "O Brasil é o País do Futuro", finalmente mostra-se como uma perspectiva concreta nos dias atuais e não como uma utopia e alvo de escárnio para os pessimistas de plantão.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBelo texto amigo, Petrópolis é a minha cidade Natal...linda Cidade cultural, quantas saudades...obrigado por me relembrar tantas coisas boas...abraços! :)
ResponderExcluirQue legal que gostou da matéria, amigo, Kim.
ExcluirE muito bacana saber que nasceu e viveu em Petrópolis, cidade que tive o prazer de conhecer no final dos anos oitenta.
De fato, Petrópolis é uma cidade linda, com muitos atrativos culturais e clima excelente.
Obrigado por ler, comentar e elogiar !!