De onde vem os políticos ?, texto de Luiz Domingues.
Desde sempre, a máxima espanhola que diz : “se hay gobierno en esta tierra, yo soy contra”, também domina o imaginário do brasileiro de uma forma muito contundente.
Na maioria das vezes, as reclamações procedem, pois a má gestão grassa em todas as esferas da administração pública, mas também a falta de reconhecimento da parte da população para com eventuais acertos e a boa vontade em acertar em muitos aspectos, é notória.
Esse é um primeiro ponto a se pensar.
Outro aspecto, tão gritante quanto a constatação de que vivemos uma época de onde nunca se desvelou tanta corrupção com uma roubalheira atingindo cifras inacreditáveis que se bem usadas em ações públicas tão necessárias, melhorariam setores que estão moribundos, caso da saúde e educação pública; fora a segurança; saneamento e infra estrutura que estão em patamar insuportável.
Portanto, um alimento e tanto para os “reclamões de plantão”, que mesmo que nada houvesse de errado no panorama da política, bradariam contra veementemente e agora diante das provas cabais surgindo, tem prato cheio para berrar.
É nesse ponto que a reflexão mais aprofundada não avança e ficamos na superfície da análise popularesca, que não propõe enxergar os fatos de frente, com o povo a ficar no “oba oba” dos linchamentos morais, e agora com o advento das redes sociais da internet, isso ganhou proporção de histeria incontrolável.
Vejamos um exemplo prático que aos nossos olhos parece estranho pelo choque de culturas muitos diferentes : no Japão, um político que é desmascarado em alguma falcatrua, sente tanta vergonha pelo fato em que se envolveu, que tem vontade de morrer, desaparecer inteiramente, como única forma de se livrar da pressão que tal ato hediondo por ele cometido causou, com prejuízo à coletividade, e por conseguinte destruindo sua reputação pessoal, e pior ainda, envergonhando seus familiares.
Isso é inimaginável na cultura brasuca carnavalizada, onde nada envergonha e tudo pode, não é mesmo ?
Então chego ao âmago da questão : se achamos normal urinar nas ruas; jogar lixo pelas calçadas; jogar entulho em qualquer lugar; destruir patrimônio público e privado; vandalizar; circular com bicicletas sobre calçadas; avançar o semáforo no vermelho; fazer conversões proibidas, obstruir entrada de garagens; furar filas; não respeitar idosos e deficientes físicos; mentir para obter vantagens pessoais; falar mal da vida alheia; praticar bullying; pedir coisas emprestadas e não as devolver ao seu dono; não honrar dívidas contraídas deliberadamente; gerar intriga; desdenhar das pessoas; e tantas e tantas falcatruas que o brasileiro comete diariamente e as considera como coisas corriqueiras, ou como dizem os mais dissimulados : “faz parte da nossa cultura”, como podemos colocar o dedo em riste na face dos políticos e empresários que perpetram esse espetáculo deprimente de corrupção e desvio de verbas ?
De onde vem o “jeitinho brasileiro” ??
A maldita concepção de “malandragem”, a cultura do “esperto que ludibria otários”, ou para ficar numa gíria mais moderna, os “manés”.
Essa ideia paradigmática que somos um povo cheio de malandragem, criou uma falsa noção de superioridade, que beira o ridículo. Todo brasileiro é “malandro”; é “esperto”, e ludibria facilmente os “manés” gringos...
Ok, então...nós somos malandros que aplicamos pequenos golpes e arrancamos dinheiro dos “trouxas” dos gringos que vem fazer turismo aqui. OK, somos “superiores” e eles , uns “otários”...
Os Finlandeses; dinamarqueses; suecos; norte americanos; franceses; britânicos; alemães; suíços; japoneses...todos são uns otários, e nós é que somos “malandros”...
Diante dessa perspectiva, lhe pergunto caro leitor : de onde saem os políticos e os empresários que se envolvem nas falcatruas de corrupção, propinas, favorecimentos e desvio de verbas públicas com lavagem de dinheiro e afins ?
Tal categoria de seres não são humanos desse mesmo seio pátrio ?
Tais criaturas abomináveis não foram criados na mesma cultura da malandragem, que há séculos vem sendo valorizada e cantada em prosa e verso ?
Somos ou não somos um povo “macunaímico”, no pior sentido do conceito cunhado por Mário de Andrade, impregnado de valores equivocados acerca das questões éticas ?
Como podemos nos surpreender ao nos depararmos com a roubalheira em todas as esferas do setor público e de mãos dadas com as expectativas de boa parte da iniciativa privada, que acostumou-se com a máxima de que ”nada funciona se não se molhar a mão dos políticos” ?
Vejo portanto com bons olhos a ação da Polícia Federal; Ministério Público e demais órgãos envolvidos na determinação de apurar denúncias múltiplas que estão em alta voga na mídia, mas deixando a ressalva de que toda denúncia deve ser investigada a fundo e muitas vezes isso não acontece, com engavetamentos indevidos e uma velada torcida de um grupo “B” que quer apenas explorar as sujeiras do grupo “A”, blindando sua “tchurma” e agindo na pior prerrogativa possível, baixando o nível das discussões ao patamar da mentalidade das torcidas uniformizadas de clubes de futebol, ou seja, “os nossos bandidos são mais legais que os seus”...
Ora, enquanto não mudarmos a mentalidade, e leia-se uma quebra de paradigma histórica, ficaremos no limbo da civilização, chafurdando no terceiro mundo e reclamando do político safado que desviou milhões blá blá blá.
A consciência de que essa cambada de ladrões sai do mesmo povo em que eu e você faz parte, precisa ser encarada de frente e nossa missão, e eu quero crer que você leitor, não compactua com a imoralidade e tem caráter ilibado, começa pelo verdadeiro clamor que a camada honesta da população tem que fazer, que é mudar completamente a mentalidade do nosso povo e isso só se consegue mediante um mutirão pró educação, de forma maciça.
Talvez a atual geração esteja perdida, lamento ser realista e dizer isso, mas se os bebês que agora nascem começarem a ser criados com outra mentalidade, há esperança, aliás, sempre há.
Políticos e empresários corruptos e corruptores, não vem de Marte; Saturno ou de outra galáxia. São apenas brasileiros que cresceram acreditando na ideia de que somos todos “malandros” e nada se consegue com trabalho honesto e lucro justo.
Cresceram ouvindo os pais e os avós, dizendo que tudo só se resolve com “jeitinho”. Ouviram os seus professores dizendo que as “brechas da Lei permitem muitos deslizes”, e que imoralidade ou amoralidade não são tão graves se são passíveis nas aberturas vergonhosas que o texto capcioso das leis lhes dão margem. Entraram na vida adulta achando “normal” pagar e pedir propina; que fiscais são apenas achacadores oficializados; que “obter vantagem em tudo” é uma virtude...
Que se investigue; prove; julgue e castigue, todo corrupto e logicamente com ressarcimento da verba surrupiada, aos cofres públicos. Que se cobre a ação implacável para todos que cometeram atos ilícitos, sem exceção e doa a quem doer.
Mas que cheguemos à conclusão de que ser “malandro” é vergonhoso, tanto quanto achar que os gringos são “otários”.
Compare os países de primeiro mundo ao Brasil e tire sua conclusão sobre quem são os verdadeiros “trouxas”...
Chega de bundalização !! Chega de malandragem !!
Quando Charles De Gaulle, então presidente da França, afirmou que o Brasil não era um país sério, lá no longínquo ano de 1968, os brasileiros ficaram ofendidos. Ora, falou alguma mentira ?
Recentemente, 2016, uma reportagem na mídia americana afirmou que o povo brasileiro dança nu nas ruas, em meio à uma epidemia terrível, perpetrada pela ação de um mosquito a lhe transmitir três doenças graves, alheio à catástrofe, referindo-se ao carnaval.
Seus pares brasucas se ofenderam, dizendo que o jornalista que assinou a matéria foi preconceituoso...
Com crise econômica; política; moral e epidemia alastrando-se pela profusão de mosquitos, o povo brasileiro abre mão do seu carnaval ? (eu sei que a festa atrai divisas, mas convenhamos, o dinheiro que entra pela via do turismo, dilui-se em mil bolsos e não necessariamente se reflete em ações públicas concretas que beneficiem a coletividade).
Pois é, quando vejo protestos e alguns justos até, penso na superficialidade que nos atravanca.
OK, não é só pelos vinte centavos do aumento da tarifa dos ônibus urbanos, mas nunca se chega ao verdadeiro âmago da questão, ou seja : você, brasileiro, está disposto a deixar de ser “malandro” e não furar a fila ?
Pense nisso antes de arranhar a sua panelinha, na varanda gourmet da sua residência...
Desde sempre, a máxima espanhola que diz : “se hay gobierno en esta tierra, yo soy contra”, também domina o imaginário do brasileiro de uma forma muito contundente.
Na maioria das vezes, as reclamações procedem, pois a má gestão grassa em todas as esferas da administração pública, mas também a falta de reconhecimento da parte da população para com eventuais acertos e a boa vontade em acertar em muitos aspectos, é notória.
Esse é um primeiro ponto a se pensar.
Outro aspecto, tão gritante quanto a constatação de que vivemos uma época de onde nunca se desvelou tanta corrupção com uma roubalheira atingindo cifras inacreditáveis que se bem usadas em ações públicas tão necessárias, melhorariam setores que estão moribundos, caso da saúde e educação pública; fora a segurança; saneamento e infra estrutura que estão em patamar insuportável.
Portanto, um alimento e tanto para os “reclamões de plantão”, que mesmo que nada houvesse de errado no panorama da política, bradariam contra veementemente e agora diante das provas cabais surgindo, tem prato cheio para berrar.
É nesse ponto que a reflexão mais aprofundada não avança e ficamos na superfície da análise popularesca, que não propõe enxergar os fatos de frente, com o povo a ficar no “oba oba” dos linchamentos morais, e agora com o advento das redes sociais da internet, isso ganhou proporção de histeria incontrolável.
Vejamos um exemplo prático que aos nossos olhos parece estranho pelo choque de culturas muitos diferentes : no Japão, um político que é desmascarado em alguma falcatrua, sente tanta vergonha pelo fato em que se envolveu, que tem vontade de morrer, desaparecer inteiramente, como única forma de se livrar da pressão que tal ato hediondo por ele cometido causou, com prejuízo à coletividade, e por conseguinte destruindo sua reputação pessoal, e pior ainda, envergonhando seus familiares.
Isso é inimaginável na cultura brasuca carnavalizada, onde nada envergonha e tudo pode, não é mesmo ?
Então chego ao âmago da questão : se achamos normal urinar nas ruas; jogar lixo pelas calçadas; jogar entulho em qualquer lugar; destruir patrimônio público e privado; vandalizar; circular com bicicletas sobre calçadas; avançar o semáforo no vermelho; fazer conversões proibidas, obstruir entrada de garagens; furar filas; não respeitar idosos e deficientes físicos; mentir para obter vantagens pessoais; falar mal da vida alheia; praticar bullying; pedir coisas emprestadas e não as devolver ao seu dono; não honrar dívidas contraídas deliberadamente; gerar intriga; desdenhar das pessoas; e tantas e tantas falcatruas que o brasileiro comete diariamente e as considera como coisas corriqueiras, ou como dizem os mais dissimulados : “faz parte da nossa cultura”, como podemos colocar o dedo em riste na face dos políticos e empresários que perpetram esse espetáculo deprimente de corrupção e desvio de verbas ?
De onde vem o “jeitinho brasileiro” ??
A maldita concepção de “malandragem”, a cultura do “esperto que ludibria otários”, ou para ficar numa gíria mais moderna, os “manés”.
Essa ideia paradigmática que somos um povo cheio de malandragem, criou uma falsa noção de superioridade, que beira o ridículo. Todo brasileiro é “malandro”; é “esperto”, e ludibria facilmente os “manés” gringos...
Ok, então...nós somos malandros que aplicamos pequenos golpes e arrancamos dinheiro dos “trouxas” dos gringos que vem fazer turismo aqui. OK, somos “superiores” e eles , uns “otários”...
Os Finlandeses; dinamarqueses; suecos; norte americanos; franceses; britânicos; alemães; suíços; japoneses...todos são uns otários, e nós é que somos “malandros”...
Diante dessa perspectiva, lhe pergunto caro leitor : de onde saem os políticos e os empresários que se envolvem nas falcatruas de corrupção, propinas, favorecimentos e desvio de verbas públicas com lavagem de dinheiro e afins ?
Tal categoria de seres não são humanos desse mesmo seio pátrio ?
Tais criaturas abomináveis não foram criados na mesma cultura da malandragem, que há séculos vem sendo valorizada e cantada em prosa e verso ?
Somos ou não somos um povo “macunaímico”, no pior sentido do conceito cunhado por Mário de Andrade, impregnado de valores equivocados acerca das questões éticas ?
Como podemos nos surpreender ao nos depararmos com a roubalheira em todas as esferas do setor público e de mãos dadas com as expectativas de boa parte da iniciativa privada, que acostumou-se com a máxima de que ”nada funciona se não se molhar a mão dos políticos” ?
Vejo portanto com bons olhos a ação da Polícia Federal; Ministério Público e demais órgãos envolvidos na determinação de apurar denúncias múltiplas que estão em alta voga na mídia, mas deixando a ressalva de que toda denúncia deve ser investigada a fundo e muitas vezes isso não acontece, com engavetamentos indevidos e uma velada torcida de um grupo “B” que quer apenas explorar as sujeiras do grupo “A”, blindando sua “tchurma” e agindo na pior prerrogativa possível, baixando o nível das discussões ao patamar da mentalidade das torcidas uniformizadas de clubes de futebol, ou seja, “os nossos bandidos são mais legais que os seus”...
Ora, enquanto não mudarmos a mentalidade, e leia-se uma quebra de paradigma histórica, ficaremos no limbo da civilização, chafurdando no terceiro mundo e reclamando do político safado que desviou milhões blá blá blá.
A consciência de que essa cambada de ladrões sai do mesmo povo em que eu e você faz parte, precisa ser encarada de frente e nossa missão, e eu quero crer que você leitor, não compactua com a imoralidade e tem caráter ilibado, começa pelo verdadeiro clamor que a camada honesta da população tem que fazer, que é mudar completamente a mentalidade do nosso povo e isso só se consegue mediante um mutirão pró educação, de forma maciça.
Talvez a atual geração esteja perdida, lamento ser realista e dizer isso, mas se os bebês que agora nascem começarem a ser criados com outra mentalidade, há esperança, aliás, sempre há.
Políticos e empresários corruptos e corruptores, não vem de Marte; Saturno ou de outra galáxia. São apenas brasileiros que cresceram acreditando na ideia de que somos todos “malandros” e nada se consegue com trabalho honesto e lucro justo.
Cresceram ouvindo os pais e os avós, dizendo que tudo só se resolve com “jeitinho”. Ouviram os seus professores dizendo que as “brechas da Lei permitem muitos deslizes”, e que imoralidade ou amoralidade não são tão graves se são passíveis nas aberturas vergonhosas que o texto capcioso das leis lhes dão margem. Entraram na vida adulta achando “normal” pagar e pedir propina; que fiscais são apenas achacadores oficializados; que “obter vantagem em tudo” é uma virtude...
Que se investigue; prove; julgue e castigue, todo corrupto e logicamente com ressarcimento da verba surrupiada, aos cofres públicos. Que se cobre a ação implacável para todos que cometeram atos ilícitos, sem exceção e doa a quem doer.
Mas que cheguemos à conclusão de que ser “malandro” é vergonhoso, tanto quanto achar que os gringos são “otários”.
Compare os países de primeiro mundo ao Brasil e tire sua conclusão sobre quem são os verdadeiros “trouxas”...
Chega de bundalização !! Chega de malandragem !!
Quando Charles De Gaulle, então presidente da França, afirmou que o Brasil não era um país sério, lá no longínquo ano de 1968, os brasileiros ficaram ofendidos. Ora, falou alguma mentira ?
Recentemente, 2016, uma reportagem na mídia americana afirmou que o povo brasileiro dança nu nas ruas, em meio à uma epidemia terrível, perpetrada pela ação de um mosquito a lhe transmitir três doenças graves, alheio à catástrofe, referindo-se ao carnaval.
Seus pares brasucas se ofenderam, dizendo que o jornalista que assinou a matéria foi preconceituoso...
Com crise econômica; política; moral e epidemia alastrando-se pela profusão de mosquitos, o povo brasileiro abre mão do seu carnaval ? (eu sei que a festa atrai divisas, mas convenhamos, o dinheiro que entra pela via do turismo, dilui-se em mil bolsos e não necessariamente se reflete em ações públicas concretas que beneficiem a coletividade).
Pois é, quando vejo protestos e alguns justos até, penso na superficialidade que nos atravanca.
OK, não é só pelos vinte centavos do aumento da tarifa dos ônibus urbanos, mas nunca se chega ao verdadeiro âmago da questão, ou seja : você, brasileiro, está disposto a deixar de ser “malandro” e não furar a fila ?
Pense nisso antes de arranhar a sua panelinha, na varanda gourmet da sua residência...