A Bolívia é o país mais pobre da América do Sul, e um dos mais carentes do mundo.
Suas riquezas naturais, mal suprem as necessidades básicas de seu povo, e chega a ser engraçada a reação de algumas pessoas que esbravejaram, quando o seu atual presidente tomou medidas radicais para valorizar uma das únicas fontes de renda daquele país, o seu gás, anteriormente comercializado abaixo do "preço de banana".
Com uma população de mais de 95 % formada por etnia indígena, a Bolívia foi governada em quase toda a sua história até aqui, pela minoria caucasiana de sua população, com um tipo de domínio que acintosamente não prestigiava os interesses da sua imensa maioria da população, infelizmente.
Diante de tais circunstâncias dramáticas, era natural que sua população se tornasse migrante, buscando melhores condições de vida nos países vizinhos mais abastados.
Num primeiro instante, Argentina e Uruguai eram os destinos mais procurados pela possibilidade de uma adaptação mais amena, levando-se em consideração o uso comum da lingua castelaña, como legado da colonização espanhola, em comum entre tais nações.
Mas, aos poucos, o Brasil começou a ser uma opção melhor, por conta das oportunidades de empregos, moeda mais forte, estabilidade da democracia se consolidando, e um fator extra, a típica reação de simpatia do brasileiro para com estrangeiros, coisa que na Argentina, por exemplo, era um empecilho, muito pelo contrário.
Nos anos 1980, o fluxo de bolivianos aumentou consideravelmente, mas foi a partir dos anos noventa, que os bolivianos começaram a ficar mais visíveis na sociedade brasileira, notadamente nos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo.
No caso da capital paulista, o fluxo foi aumentando de tal maneira, que o assentamento desse contingente passou a ocupar bairros inteiros, provocando a geração de oportunidades de trabalho para suprir as necessidades de tal comunidade.
Comércio e serviços direcionados aos bolivianos, podem ser vistos aos montes em bairros como Bom Retiro, Pari, Brás, Canindé e Belenzinho, com placas escritas em castelaño por todos os lados.
Existe inclusive a famosa feira dominical no bairro do Canindé, próximo ao estádio da Portuguesa de Desportos, que cresceu tanto, que é uma atração cultural muito legal da cultura desse povo.
Todavia, nem tudo são flores para essa população imigrante. Por muitos anos, a maioria dessas pessoas veio ao Brasil, em condições inóspitas, para submeterem-se à condições degradantes de trabalho e subsistência.
Geralmente trabalhando no ramo têxtil, a maioria trabalhou por anos a fio em regime de semi-escravidão, sem documentos oficiais de permanência e tampouco permissão de trabalho no Brasil.
E por estarem na ilegalidade, eram explorados por pessoas inescrupulosas, que os amontoavam em cubículos insalubres, trabalhando por até 16 horas por dia e lhes repassando um salário abaixo do salário mínimo, e lhes cobrando suas despesas pessoais, de maneira que num círculo vicioso, jamais conseguissem se libertar, e ter o direito de ter documentos em ordem, e consequentemente, poderem aspirar colocações melhores no mercado de trabalho, e sobretudo, uma condição de vida, digna.
Aos poucos, a pressão popular, mais os esforços da Polícia Federal, Ministério do Trabalho e das Relações Exteriores, mais Embaixada e Consulados da Bolívia no Brasil, foram desbaratando quadrilhas que exploravam esses imigrantes.
Digno de nota, também é o esforço de organizações não governamentais que atuam com bastante contundência na defesa de imigrantes com dificuldades prementes, no Brasil.
Os números oficias do IBGE e da Embaixada boliviana, não refletem a realidade da população boliviana no Brasil, justamente pelo fato da sua imensa maioria estar clandestina por aqui.
Segundo estimativas, só na cidade de São Paulo, existe uma população de cerca de 400 mil bolivianos residentes.
Ora, é quase a população de uma cidade de grande porte, como São José do Rio Preto (SP), ou Juiz de Fora (MG), para citar só dois exemplos de ótimas cidades interioranas do Brasil.
Basta ficar por alguns minutos na rodoviária da Barra Funda, em São Paulo (para quem não conhece São Paulo, esclareço que existem três rodoviárias na cidade, e esta da Barra Funda, recebe ônibus que vem de cidades do oeste do estado, e de estados do centro-oeste brasileiro), para comprovar que não param de chegar ônibus lotados de famílias bolivianas, diariamente.
Tenho muito respeito e simpatia por esses imigrantes, e indo além, sensibiliza-me a sua vontade de buscar o Brasil para ter melhores condições de vida.
Em sua esmagadora maioria, são pessoas humildes, trabalhadoras e muito pacatas. A índole do boliviano é da melhor qualidade, e acho que são merecedores do nosso apoio.
Ainda estamos longe de erradicarmos o trabalho escravo a que muitos estão submetidos, mas faço votos de que isso acabe, e esse povo possa viver em paz, trabalhando e vivendo com dignidade.