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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Impondo Seu Gosto Musical.
Impondo seu gosto musical, texto de Luiz Domingues.
Sempre existiu gente que exagerou no volume do Hi-Fi caseiro, causando incômodo na vizinhança.
Claro, não era uma regra geral, mas mesmo em proporção muito menor, sempre houve a figura do vizinho petulante que pouco se importando com os demais, gostava de colocar o volume num patamar acima do aceitável e obrigar todos a ouvir suas músicas prediletas.
Numa segunda fase dessa mobilidade de tecnologia de audio, virou febre entre os norte-americanos, andar com rádio-gravadores mastodônticos alojados nos ombros, cena usual em filmes americanos policiais da década de setenta, principalmente os da onda do "Bloxpoitation".
Na década de oitenta, o Walk-Man virou companheiro dos yuppies e cocotas em geral, durante as caminhadas pelas ruas, porém com a devida discreção de serem usados com fones e não incomodarem ninguém.
Com a entrada da telefonia celular e consequente e rápida sofisticação de tais aparelhos, outra possibilidade abriu-se, com o advento dos aplicativos e daí, começou a Era de fotografar, filmar e ouvir música, o tempo todo pelas ruas.
O que era para ser uma distração bacana, acabou se tornando um tormento generalizado em lugares públicos.
Em lugares públicos fechados, meios de transporte e praticamente em toda a parte, o silêncio tornou-se raro e a mistura de sons e essa zoeira provocada por muitas pessoas abusarem do volume, tornaram o ato de sair às ruas, um momento neurotizante a mais, no ambiente urbano já para lá de poluido e tenso.
Em recente pesquisa realizada pelo Metrô de São Paulo, os números são alarmantes, pois a somatória de centenas de pessoas ouvindo música alto, chega num patamar de decibéis absurdo, causando danos à audição, fora o elemento psicológico altamente nocivo.
Segundo relatos, há ocorrências de discussões entre passageiros, por conta do volume abusivo e até "batalhas sonoras", perpetradas por gangues, pasmem...
O que há de concreto, é que o Metrô abriu marcação pesada sobre pessoas que abusam desse artifício, o mesmo acontecendo em diversos estabelecimentos comerciais, que buscam coibir tal abuso.
Uma coisa é certa : Numa sociedade plural como a que vivemos, existem pessoas de diversas camadas sociais e com estrato cultural diferenciado, vivendo juntas.
Nesse caso, o bom senso aconselha a observar a regra de estabelecermos nossa liberdade, até o limite onde começa a do vizinho.
Isso vale para todas as circunstâncias da vida, não só para a emissão de ruídos.
Portanto, para quem não abre mão de ouvir sua música predileta num volume ensurdecedor, é de bom alvitre, que se use o bom e velho fone de ouvido...
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Kircher, o Inquieto Experimentador.
Kircher, o inquieto experimentador
Acaba de ser lançado um interessante livro chamado : "A Man of Misconceptions : The Life of an eccentric in an age of change" ("Um homem de equívocos : A vida de um excêntrico em uma Era de mudanças").
Trata-se da biografia de um homem chamado Athanasius Kircher, um padre jesuita de origem alemã, que viveu no século XVII.
Desde criança, Athanasius Kircher demonstrava ter interesse por diversos assuntos e assim enveredou por estudos sobre matemática, filosofia, biologia, acústica, magnetismo, astronomia e outras matérias.
Mesmo depois de ordenado padre, seus estudos prosseguiram com muito entusiasmo e ainda muito jovem, já tinha diversos trabalhos concluídos sobre assuntos variados e mais que isso, revelando-se um autêntico cientista, fazia experimentos e criava inventos.
Nessa biografia, são inúmeras as curiosidades por ele inventadas.
Muitas são absolutamente geniais; outras são surpreendentes pois anteciparam os rudimentos de outras que seriam inventadas definitivamente depois, por outros inventores e algumas são exóticas ao extremo.
Por conta das invenções absurdas, Kircher acabou sendo injustiçado por muito tempo, porque foi ridicularizado e claro, ganhou fama de lunático incorrigível.
Kircher fez muitos estudos por exemplo, sobre o aperfeiçoamento de microscópios e telescópios, que influenciaram outros pesquisadores, decisivamente.
Nesse campo, criou um objeto que denominou como "lanterna mágica". Nele, conseguia de forma ainda que primitiva, criar a ilusão de movimentos em ilustrações.
Esse invento rudimentar foi sem dúvida o precursor remoto do projetor cinematográfico que só viria a ser criado no final do século XIX, de fato.
Portanto, é inacreditável que Kircher tenha pensado em algo assim, em pleno século XVII.
No campo do magnetismo, Kircher fez muitos estudos. Obcecado por conhecer a fonte de magnetismo do planeta, chegou a aventurar-se num perigosíssimo rapel, dentro do vulcão Vesúvio.
Um invento seu entrou para o anedotário e hoje em dia causa repulsa aos defensores de animais (aliás, com toda a razão) : Kircher concebeu um piano que não possuia cordas. O músico usaria um teclado normalmente, mas o som obtido pelo bater das teclas, seria produzido pelo gemido de gatos vivos, cujos respectivos rabos eram puxados, conforme a tecla acionada.
Mas não só com excentricidades Kircher contribuiu com a música. Ele fez também estudos de acústica e amplificação de sons, que muito ajudaram a desenvolver a engenharia, desenvolvendo e muito a música, naturalmente.
No campo da biologia, fez inúmeros estudos e relacionou a peste bubônica à micro-organismos encontrados em cadáveres.
Estudou linguas do extremo oriente, fazendo estudos morfológicos comparativos.
Segundo consta em sua biografia, Kircher teria deixado 44 livros com seus estudos.
No livro recém lançado, com sua biografia, uma observação final chamou-me a atenção : o autor, John Glassie, declarou que a despeito dos acertos, as inúmeras experiências fracassadas, também deram enorme contribuição à ciência.
Sim, grande verdade da ciência, o princípio de tentativa e erro é ainda o melhor método, desde o tempo da invenção da roda.
Admirável a vida e obra de Athanasius Kircher, apesar da pisada de bola que deu com os amigos felinos...
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